Jornalista Isabel Minaré
Fotos: divulgação


Quando Mariângela Camargos levou o filho ao neurologista, veio logo o diagnóstico: autismo. Dali em diante, ela e o marido se dedicaram a conhecer mais sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Em meio à busca por profissionais especializados para a estimulação da criança, eles “sentiram que ninguém estava preparado para lidar com o assunto”. “Enquanto meu filho era pequeno, era tudo bonitinho (na escola)”, explica. ‘O bicho pegou’ durante a alfabetização. “Dinheiro nenhum era capaz de pagar uma escola que dava conta do recado”, afirma.

Mudar o filho de colégio passou a se tornar frequente. A solução encontrada foi matriculá-lo no ensino público e investir em uma equipe multidisciplinar composta por psicólogo, pedagogos, educador físico, terapeuta ocupacional e fonoaudiólogo. Mesmo assim, chegou um momento em que Mariângela notou uma estagnação no desenvolvimento do menino. Foi a hora de ‘recalcular a rota’ e buscar outro caminho. “Eu sempre era convidada pelas gêmeas Luiza e Karla Coelho a participar de um movimento de mães de autistas”, conta. Aceitou e, na primeira reunião, viu dezenas de mulheres compartilharem experiências e chorarem muito. Ali ficou evidente a necessidade de criar uma instituição focada no tema autismo.

Não interessa o tamanho do desafio. O que importa mesmo é a grandeza da união. Em 13 de dezembro de 2015, em uma assembleia com a participação de 60 famílias, surgiu a Associação de Apoio aos Autistas Laço Azul. Ela foi instituída em um prédio cedido na avenida Guilherme Ferreira, nº 984, no bairro São Benedito. Mariângela deixou de ser ‘somente’ mãe de autista e hoje assume a responsabilidade de coordenar a entidade. No início, era acolhimento das famílias com conforto emocional. Depois, as atividades foram ampliadas para os autistas, com oficinas culturais e terapias ocupacionais. Parcerias importantes no decorrer dessa história precisam ser registradas. O Instituto Agronelli, que através do Criança Esperança, viabilizou melhorias na estrutura física da sede. A Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), com cessão de estagiários, fundação da Liga de Autismo e oferta gratuita de cursos sobre o tema. A Prefeitura Municipal, que financia o atendimento de estimulação motora. O Instituto Saúde e Equilíbrio que oferece as oficinas culturais. De braços dados com os parceiros, a Laço Azul caminha sempre em busca do desenvolvimento da comunidade autista.

A instituição consegue se manter através de recursos oriundos de projetos, do voluntariado e do bazar permanente. As atividades oferecidas variam de acordo com a disponibilidade financeira e profissional do momento. Normalmente são: atendimentos terapêuticos – tratamento psicológico e terapia ocupacional; oficinas culturais - teatro, circo, capoeira, dança e jiu-jitsu; fisioterapia – skateterapia, Nutrindo Vínculos – orientação nutricional, Projeto de Jovens - No Ritmo da Autonomia e rodas de conversa. Todas são gratuitas. Além disso, ainda há parcerias com empresas e profissionais da saúde e do Direito. A meta é a troca de experiências, o acolhimento, a conquista da saúde e a defesa dos direitos dos autistas.

André de Ávila, 14 anos, é assistido pela entidade desde 2023. Para ele, a Laço Azul é o melhor lugar do mundo, pois é onde faz amigos e participa de diferentes ações. André nota o cuidado da equipe e se sente acolhido por cada integrante. A mãe dele, Cecília de Ávila, intermediou a entrevista. Ela reitera a importância da entidade na socialização. “O dia de ir à Laço Azul é muito esperado por ele”, completa. Ana Cláudia Alves e o filho Gustavo, de 15 anos, também são assistidos pela organização. Ana Cláudia percebe o progresso de Gustavo nas ações em grupo refletidas em todos os aspectos da vida. Ele ganhou independência, autonomia, confiança, além de ter as habilidades potencializadas. É assim, de mãe e mãe, filho em filho, colaborador em colaborador, que os laços são costurados e fortalecidos.

Hoje com 600 família (o décuplo do começo), a Laço Azul consegue atender, atualmente, cerca de 300 autistas de Uberaba e região. É muita gente! Mesmo assim, ainda há lista de espera. “Quando uma pessoa chega aqui, fazemos o máximo para inseri-la em alguma atividade”, fala Mariângela. O importante é ela se sentir abraçada e estimulada, assim como a família. Para a presidente da entidade, Flávia Ortiz, fazer parte da equipe a deixa feliz e inspirada a levantar cada vez mais a bandeira do autismo para reconhecimento de todos. “A luta não é fácil, precisamos cada vez mais espalhar informação e conhecimento sobre o tema”, conclui.

Flávia é presidente da Laço Azul e luta pela entidade


Mariângela é uma das fundadores da organização


Autistas e familiares unidos na festa junina


Gustavo de pernas para o ar e com total segurança!


Nas atividades de circo, os jovens são estimulados


O bazar é importante para a manutenção da associação 



Famílias partipam do curso Nutrindo Vidas, destinado ao ensino de receitas sem glúten e lactose