O protagonismo da mãe que se tornou um exemplo de luta, dedicação e de grande admiração


jornalista Daniela Brito


Ser mãe é abrir mão de uma vida em favor de um novo ser. Uma entrega completa, baseada no amor. Porém, os desafios começam logo cedo, com as alterações hormonais e as transformações no corpo da mulher. Enjoos, tonturas, mudanças de humor e toda aquela dedicação que antes era só para si, é direcionada ao bebê. Como já diz a expressão bem clichê: ser mãe é padecer no paraíso. 

Neste momento, ter apoio é fundamental para enfrentar essa guinada na vida. Mas nem todas as mulheres podem contar com isso. Muitas, além de encarar a maternidade, estão sozinhas e levam adiante este sonho, sem um parceiro ao seu lado para dividir as responsabilidades. 

Hoje, a sociedade encara esta realidade com mais naturalidade. Afinal, o Brasil possui 11 milhões de mães na condição solo, segundo último levantamento divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2021. 

Dentro deste contexto, o protagonismo da mãe solteira tornou-se tornou um exemplo de luta, dedicação e de grande admiração. 

A professora de Inglês, Lorenna Melo Silva é mãe de Antony e de Luísa, de seis e quatro anos de idade, respectivamente. A experiência como mãe lhe trouxe maturidade. O primeiro filho, Antony, nasceu prematuro. Como mãe de primeira viagem, foi difícil ter que processar tantos acontecimentos. Ir embora do hospital sem o filho nos braços, que ficou 23 dias internado, foi uma experiência marcante. Foi quando ela descobriu uma força que até então não sabia que existia. “Ali, eu descobri a força de uma mãe. E quando meu filho recebeu alta, posso te dizer que foi a maior emoção, pois finalmente sairia do hospital com o meu filho nos braços”, lembra com muita emoção. 

Lorenna diz que ser mãe solo transforma aquela mulher criada como “sexo frágil” em uma “guerreira amazona”, capaz de superar todas as adversidades impostas – que não são poucas. “Se a maternidade tradicional é uma corrida de revezamento, a maternidade solo é como estar em um desafio de triatlo, seguido de uma competição de crossfit, isso sem intervalos”, compara a professora de inglês, que nunca sofreu preconceito, mas sempre esperou um pouco mais de empatia e sororidade. “Precisamos arrancar pela raiz esse mito de que criar um filho em carreira solo é uma “consequência” negativa de uma relação que não deu certo, mas sim, o resultado positivo da sua plenitude como mulher”, afirma. No caso dela, a própria mãe foi a maior apoiadora, que também foi mãe solteira. 

Assumir, de forma exclusiva, todas as responsabilidades, tanto financeiras quanto afetivas na criação de um filho não é tarefa fácil. “Estar sozinha parece assustador, principalmente quando entramos nas questões financeiras que normalmente são apavorantes, pois criar um filho com o mínimo de dignidade é caríssimo”, avalia a mãe. Mas não é impossível. De acordo com Lorenna, os momentos angustiantes sempre vão existir. Nesta hora, a mãe solo precisa estruturar sua força como mãe e seus objetivos como mulher. Foco e planejamento são as chaves do sucesso e principalmente, o desapego da tradicional romantização da mãe perfeita. Ela não existe. 

A professora reconhece que os momentos de união do pai são definitivos para o desenvolvimento dos filhos. Para uma criança, a presença da figura paterna aconselhadora e comprometida contribui para uma geração de adultos mais segura e confiante. Hoje em dia, Lorenna lida com essa situação da forma mais leve possível, mostrando para os filhos que mesmo estando separados, as crianças têm uma mãe e um pai que os amam muito. 

A servidora pública aposentada Dalva Pereira Silva considera a maternidade um estado de graça. A mãe de Raul, de 28 anos, tem o sentimento de que recebeu a sublime missão de criar e cuidar um ser especial. “Ele estará vinculado a mim pelo resto da vida, como se fosse a continuação de mim mesma”, completa.  

Ao assumir sozinha a criação do filho, Dalva sempre se sentiu com mais responsabilidade, até por não ter que dividi-las, seja na parte financeira quanto emocional. Por outro lado, não viveu nenhum tipo de conflito com o genitor em todas as decisões que tomou enquanto mãe.  “Certo ou errado, eu fiz do meu jeito, baseando-me nos valores e princípios nos quais acredito”, avalia.  Ela sempre deixou muito claro para as pessoas o seu desejo de ser mãe e, por isso, nunca se sentiu julgada ou em uma situação de preconceito. E, assim como quase todas as mães solos, recebeu apoio da própria mãe. “Sem ela minha missão teria sido mais difícil”, lembra. 

Para Dalva, as mães solos são corajosas e guerreiras, merecem toda nossa admiração, seja por escolha delas ou pelas circunstâncias. “Mãe é um ser divino”, diz. Frente ao seu tempo, Dalva revela ainda que, ao longo desses anos, já visionava que as famílias seriam diferentes e que as mulheres assumiriam a maternidade sem a necessidade da presença da figura masculina. “Esse papel hoje já está ultrapassado, a criança pode ter dois pais ou duas mães, apenas um, na verdade o que nossos filhos precisam é de muito amor, verdade e afeto. Dessa forma, serão, com certeza, seres humanos melhores”, coloca. 

Por outro lado, lidar com a situação não é simples. A mulher assume todo protagonismo na criação dos filhos, afetiva e financeira – além de cobranças externas da sociedade. Os impactos psicológicos não podem ser ignorados. É preciso lidar com a ansiedade, estresse, depressão e muitos outros fatores emocionais, pois o psicológico dessa mãe é colocado em risco através de diversas situações cotidianas, muitas extremamente prejudiciais. 

A psicóloga e psicoterapeuta Maria Isabel de Oliveira diz que atualmente as mulheres são mais empoderadas e estão assumindo sozinhas a criação dos filhos “embora não seja fácil” devido ao preconceito que ainda existe na sociedade. Ela reconhece que a condição de mãe solteira também pode ser dolorosa visto que, muitas vezes, não é opcional. Porém, a psicóloga diz que o amor é essencial e tem o condão de superar todos os desafios, principalmente quando existe uma rede de apoio que possa minimizar as dificuldades trazendo-lhe um pouco mais de tranquilidade na criação dos filhos. 

Dentro deste contexto, a psicóloga especialista em Terapia Cognitiva Comportamental, Stefanie Cristine Mundim Silva, destaca que a mãe solo é uma guerreira, que luta e guarda no peito todo o amor do mundo. “E, às vezes, acaba deixando de lado as próprias vontades pois é humanamente impossível dar conta de tudo sozinha”. Neste sentido, ela esclarece que, além da rede de apoio formada por familiares e amigos que compreendem esta vivência, é importante buscar ajuda profissional. “Estas mulheres precisam ter um espaço de acolhimento para si, que seja livre de julgamentos. Não é preciso ter vergonha e nem receio de dizer que está cansada. Ela deve buscar ajuda e a terapia vai ajudar muito”, finaliza.


Dalva Pereira Silva  com o filho Raul


Dalva Pereira Silva


Lorenna Melo Silva


Maria Isabel de Oliveira, psicóloga e psicoterapeuta


Stefanie Cristine Mundim Silva, especialista em Terapia Cognitiva Comportamental