Por Camilla Colenghi


Eu teria muito pra dizer. Mas, para isso eu teria que mudar o título deste texto. Então vamos falar um pouco dessa pessoa que vos escreve.

Sou mulher, esposa e mamãe de um casal de filhos lindos, digo isso porque sou suspeita pra falar né? Eu trabalho 12 horas por dia e sou isso tudo que eu disse ai em cima. Porém vou compartilhar com vocês algo que eu acho bastante estranho: quando me perguntam como eu dou conta de tudo.

A resposta é simples, sem graça. Eu não dou. Não desse jeito. Seleciono prioridades, foco no que dá, varro o resto para debaixo do tapete. No dia seguinte levanto a beiradinha do tapete, retiro umas coisas, escondo outras. Se hoje as crianças foram dormir sem escovar os dentes, amanhã isso será prioridade.

Meu tapete nunca fica vazio. Nunca. Aliás, tem dias que entulho tanta coisa lá embaixo, que derruba o que estiver em cima. Brigo com o mundo, choro um pouquinho, me sinto a mais desequilibrada das mulheres e espero pelo dia seguinte. Mas há manhãs em que acordo cheia de amor próprio. Dou risada desse auê todo. Ignoro o tapete, já pau a pau com o Monte Everest, e vou bela e formosa tomar um banho demorado para poder ir trabalhar.

Alguns dias viro a revolucionária do tapete. Brota no corpo uma energia que sabe-se lá de onde veio. E lá vou eu, disposta a colocar tudo em dia. E não é que eu quase consigo? Se não fosse pelo quase... E é assim. Frustrante, alegre, desesperador, feliz. Um eterno varre, esconde, esvazia. Não se deixe enganar, tem sempre um tapete. Na casa de algumas ele fica mais visível, logo na sala. Já outras preferem usar o do corredor. Mas ele está lá. Tem que estar. Se não a gente enlouquece.

Por trás dessas imagens existe uma mulher comum. De carne e osso, querendo ser assídua nas atividades físicas. Com dias bons pra caramba, no estilo: “A vida é bela, viver numa casinha de sapê, e ser feliz para sempre.” E com dias de “quem sou, onde estou, quem são essas pessoas?” O denominador comum é o amor que, quando colocado na balança, quebra o ponteiro. Vira o jogo. Não dá nem chance. O coração é invadido por gratidão. E com lágrimas nos olhos agradecemos por tudo.

A verdade é que a gente imagina a vida tanto, de tantos jeitos diferentes que ás vezes por mais que a gente viva um dia após o outro, com toda intensidade, o mundo parece ser tão grande e nós, tão pequenos. Você olha e vê que não tem um conjunto de pratos e que tem uma única taça na casa. Mas também percebe até onde conseguiu caminhar e percebe o quanto essa única taça te aproximou de quem você é hoje. E começa a perceber que as coisas ganham o tanto de valor que depositamos nelas. E que desta vida, só levamos com a gente aquilo que cativamos, de verdade…

Mas a verdade mesmo é que a gente gasta tempo demais pensando no que nos falta, com uma imensa necessidade de ter. Queremos ter tanto, que por vezes, somos tão pouco. Sendo que é tão simples: é só olhar ao redor o que temos e esquecer aquilo que pensamos precisar, para SER um lar.