Jornalista Isabel Minaré


*Observação: contém spoilers

“Ataque dos Cães” entrou com 12 indicações na corrida pelo Oscar neste ano. Antes de saber disso, já tive contato com ele ao tentar assisti-lo. Ansiosa como só, me segurei para não ir atrás de spoilers. Essa vitória eu consegui! Rss Mas o grande desafio estava por vir. 10 ... 15 ... 18 minutos. Foi o máximo que ele conseguiu me segurar! Achei muuuito entediante. Peguei o controle e mudei para uma série qualquer.

Quando descobri que o filme recebeu não uma, nem duas, tampouco três, mas DOZE nomeações, fiquei abismada! Elas são: 1) melhor filme; 2) melhor ator (Benedict Cumberbatch); 3) melhor atriz coadjuvante (Kirsten Dunst); 4) melhor ator coadjuvante (Jesse Plemons); 5) melhor direção (Jane Campion); 6) melhor roteiro adaptado (Jane Campion); 7) melhor fotografia (Ari Wegner); 8) melhor trilha sonora original (Jonny Greenwood); 9) melhor mixagem de som; 10) melhor edição (Peter Sciberras); 11) melhor design de produção (Grant Major); e 12) melhor direção de arte.

Ao imaginar a equipe toda no palco do lendário Dolby Theatre, em Los Angeles, no dia 27 de março, com 12 estatuetas nas mãos, fui praticamente obrigada a dar uma nova chance ao longa-metragem (e bota longo nisto: total de 2h08). Fiz minha pipoca, lotei o copo de suco e apertei o play. Baseado no livro homônimo escrito por Thomas Savage, a obra conta com um elenco de peso (todos com indicação). Logo de cara, é possível perceber que os personagens têm muitos problemas internos e profundos. Quando menos falam, mais sofrem.

Ambientado em um cenário rural dos anos 1920, a película segue os passos do cowboy Phil Burbank (Benedict Cumberbatch), que nutre um afeto pelo irmão, George Burbank (Jesse Plemons). Toda hora, ele solta: - Cadê George?! Em determinado momento, Phil se reúne com seu irmão e colegas de trabalho no restaurante de Rose (Kirsten Dunst) para jantar. Aí que o “caldo começa a entornar”. Cruel, ele zomba do filho dela, Peter (Smit-McPhee), e ainda acende um cigarro com uma flor de papel que Peter fez. O fogo queima por fora e por dentro em mãe e filho. Cena interessantíssima.

George é diferente do irmão. É mais atencioso, sensível e gentil. Sente a dor de Rose (ao ver o filho sofrendo bullying homofóbico), tenta ajudar e ... se casa com ela! Os três (Phil, George e Rose) vão morar juntos, mas Phil e Rose não se dão bem. Dá pra imaginar confusões, discussões e brigas pesadas ... Mas, não! “Ataque de Cães” definitivamente não se trata de violência física, entretanto de psicológica e moral. Tudo muito sutil. De um lado, olhar limpo de poder e força (Phil). Do outro, olhos marejando de vergonha, decepção e fraqueza (Rose). Começa uma batalha pelo poder, do qual as armas é o silêncio. 

Peter estuda Medicina em outra cidade. Nas férias, vai para o rancho e vê a dor da mãe, que se torna alcoólatra. Ele jura se vingar. A promessa é cumprida no final. Todas as ações dele vão ao encontro da própria personalidade. Nada de muita exposição. O ponto são os detalhes aparentemente insignificantes, o que exigem atenção redobrada do telespectador.

Duas mulheres me chamam a atenção: a que vejo – Kirsten Dunst, no papel de Rose – e a que não vejo – a diretora Jane Campion. No epitáfio do arquiteto londrino Christopher Wren, está escrito: “Se você quer saber sobre mim, basta olhar ao redor”. Foi o que fiz pra conhecer Jane. E mirei em Kirsten. Deu certo! É inegável que ela tem talento, no entanto ganhou um up ao ser extremamente bem-dirigida. O poder feminino veio à tona. Ataque dos Cães está disponível no catálogo da Netflix.