Ricardo Almeida


De acordo com o 1º Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil (fruto da parceria entre a Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos e a Rede Brasileira de Interações Planta-Polinizador), o Brasil tem contribuído para discussões sobre a importância dos polinizadores no cenário nacional e internacional. 

Para falar sobre a relevância das abelhas na agricultura, destaco algumas informações relevantes (extraídas do Relatório Temático) para ajudar a compreender como a produção da alimentação humana depende do serviço delicado que é prestado por alguns animais, especialmente as abelhas.



A produção de alimentos no campo conta com um processo fundamental que é a polinização das flores.  Polinização é a transferência de grãos de pólen entre órgãos masculinos e femininos das flores, resultando na formação de frutos e sementes. Essa transferência de pólens é realizada tanto por animais como por vento ou água. Os animais polinizadores são em sua maioria insetos, tais como abelhas, moscas, borboletas, mariposas, vespas e besouros, mas também há polinizadores vertebrados, como aves, morcegos, mamíferos não voadores e lagartos. Contudo, as abelhas são o grupo de polinizadores mais abundante. 

Estudos realizados no país nos últimos 40 anos reforçam o papel dos polinizadores, especialmente das abelhas, na polinização de plantas cultivadas ou silvestres, demonstrando a necessidade de se incorporar esse serviço ao sistema de produção dessas plantas. As abelhas contemplam cerca de 48% do total de espécies identificadas como visitantes florais de cultivos vinculados à produção de alimentos. 

O fato é que a maioria das espécies vegetais, não apresenta autopolinização. Além da frutificação em si, a transferência de pólen entre diferentes indivíduos de plantas da espécie (polinização cruzada) pode melhorar a qualidade dos frutos e sementes e ampliar a variabilidade genética, o que contribui para que os cultivos se tornem menos susceptíveis a pragas e patógenos. 



O déficit na polinização das plantas cultivadas ou silvestres se refere à transferência inadequada ou insuficiente de pólen, podendo ser causado pela falta de compatibilidade entre a morfologia floral e o tamanho do polinizador. Além disso, a produção de pólen e a atratividade das flores aos polinizadores são afetadas por fatores ambientais como solo, temperatura, umidade, luz e radiação. 

Os ecossistemas brasileiros estão sendo afetados pelo desmatamento que, junto com outras mudanças no uso da terra (obras de infraestrutura, urbanização etc.), levam à perda de áreas naturais e resultam na diminuição da disponibilidade de alimentos para os polinizadores. 



A aplicação de agrotóxicos para controle de pragas e patógenos pode provocar a morte, atuar como repelente e até desencadear efeitos subletais aos polinizadores. Essa prática é discutida amplamente em todo o mundo, uma vez que tem relação direta com a produção e o consumo de alimentos e com a saúde pública. 

Ainda que falte conhecimento dos efeitos da poluição atmosférica sobre os polinizadores, já foi constatado que a poluição do ar interfere na capacidade que as abelhas e outros insetos têm para detectar os odores florais e voar até a sua fonte. Pesquisadores afirmam que os poluentes do ar interagem e quebram as moléculas odoríferas emitidas pelas plantas, as quais os insetos polinizadores usam para localizar os alimentos necessários. Ademais, os fenômenos climáticos extremos, tais como: enchentes, incêndios e estiagem prolongada, são fatores que contribuem, sobremaneira, para a perda de colmeias de abelhas. 



Ricardo Almeida

Doutor em Ciência, Tecnologia e Sociedade. Mestre em Inovação Tecnológica. Especialista em Gestão de Pessoas e Negociação Coletiva. Atua nas áreas de Desenvolvimento Humano e Educação Ambiental. 


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