Ricardo Almeida


O ar ficou mais limpo. As emissões de CO2 caíram. Há mudanças no nosso jeito de viver. Eis mais um paradoxo da vida real. Enquanto vivemos um momento terrível de pandemia, o meio ambiente parece se regenerar em alguns aspectos. 

De acordo com o Instituto Akatu, no início da pandemia (abril 2020) a cidade de São Paulo registrou uma queda de 50% na poluição do ar, assim como há um ano o mundo deixou de produzir 1 bilhão de toneladas de gás carbônico na atmosfera. As observações indicam que quando as atividades humanas são reduzidas, o meio ambiente dá sinais de recuperação.



Parece óbvio, não é? Pior é que sim! E digo “pior” porque não deveria ser dessa forma. Essa é uma questão que não deveria ter uma resposta tão lógica, pois o ideal seria que as atividades humanas não precisassem sofrer paralisação para que a natureza encontrasse “espaço para respirar”. 

O que nos chama a atenção nesse cenário é que o nosso jeito “normal” de viver deixa o meio ambiente adoecido, ao passo que quando deixamos de viver a nossa normalidade (como ocorre atualmente no período de pandemia) o meio ambiente apresenta alguns sinais de melhora. Não é algo para se pensar? Ou melhor, não é algo que deveria nos levar a agir diferente? Afinal, há boa notícia no meio de tudo isso? 



Será que devemos entender que se mudarmos alguns dos nossos hábitos, até então chamados de “normais” (produção, consumo, deslocamento etc.), podemos simultaneamente mudar também a qualidade de vida do próprio planeta? Será que aquilo que até há pouco tempo era visto como impossível, distante, ou até mesmo apontado como uma “bobagem”, não se fez presente sem pedir licença? Afinal, o que está acontecendo?

A verdade é que não há notícia boa capaz de superar a dor de tantas famílias. O momento é de luto. Transformações surgem por todos os lados sim e, ao mesmo tempo em que nos calam, também fortalecem nossa voz. O fato é que, mesmo nos deparando com alguns indicadores ambientais positivos, as mazelas sociais só se agravaram. Portanto, avanços socioambientais desejáveis não se efetivaram. 

Todas essas percepções indicam que é possível (e necessário) transformar nosso jeito de viver e aprender a conviver com o meio ambiente de forma saudável. É um processo de educação, conscientização e, sobretudo, transformação. Que a força das nossas vozes, associada às nossas atitudes, ganhe dimensão para ajustar o novo fluxo de normalidade que vamos adotar daqui em diante, tornando possível a coexistência entre conhecimento, atividades produtivas, preservação dos recursos naturais e qualidade de vida dos indivíduos.


Ricardo Almeida

Doutor em Ciência, Tecnologia e Sociedade. Mestre em Inovação Tecnológica. Especialista em Gestão de Pessoas e Negociação Coletiva. Atua nas áreas de Desenvolvimento Humano e Educação Ambiental. 


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