Ana Paula Leão dá voz ao protagonismo feminino em ações políticas

Jornalista Isabel Minaré

Fotos: divulgação

“Ninguém nasce mulher: torna-se mulher”. Essa é uma das frases mais célebres da filósofa francesa Simone de Beauvoir. Simone foi considerada uma referência no movimento feminista. A exemplo dela na luta pelos direitos das mulheres está Ana Paula Junqueira Leão. Mas quando foi que Ana Paula se tornou mulher? 

Ana, com 15 anos, se mudou de Varginha (cidade natal) para Belo Horizonte a fim de cursar o Segundo Grau. Na verdade, ela queria ir bem mais longe. “Passei em frente ao prédio da Caixa Econômica Federal e falei pra mim mesma que iria trabalhar ali”, confessa. Ela entrou e pediu uma vaga ao gerente, que explicou os trâmites legais para pleitear um estágio na instituição. Na mesma hora, efetuou a inscrição. Sete meses depois, recebeu um telefonema. O que era só uma vontade se tornou realidade. Foi selecionada para um estágio na CEF, através do Centro de Integração Empresa-Escola! Quando entendeu o que queria ser e aonde iria chegar tornou-se mulher. 

De lá pra cá, fica mais gigante, mais potente e mais revolucionária a cada dia. Com a leveza de duas mãos parece segurar os braços de mulheres de toda Uberlândia e, porque não, da região. É naquele munícipio que vive com o marido Odelmo Leão, atual prefeito. Formada em Relações Públicas, foi Secretária de Governo e Comunicação Social (de 2005 a 2012 e 2017 a 2022), ocupou interinamente as Secretarias de Saúde e Agricultura e é produtora rural, seguindo os exemplos do pai e do avô. Difícil de listar, porém fácil de ver tantas realizações a favor do protagonismo feminino.  

A primeira delas é o Mãe Uberlândia, idealizado pela própria Ana Paula, dedicado às mulheres que fazem acompanhamento da gestação na rede municipal de saúde. Quando dão à luz, elas ganham a bolsa de enxoval com roupas, meias, toalhas, manta, álcool, sabonete e cotonetes. “Com o Mãe Uberlândia, conseguimos baixar as mortalidades materna e infantil”, declara. O programa físico evoluiu para o virtual, através de aplicativo. 

Tomar um cafezinho e “trocar dois dedos de prosa” com a turma é “bom demais da conta, sô”! Nesse ambiente simples, atraente e acolhedor foi criado o Marias de Minas, segunda ação de sucesso da Ana. Ele nada mais é do que um grupo de amigas onde se discute política. Antes, as frases exclamadas eram “Deus me livre de política!” ou “Voto no (candidato) que meu pai mandar!”. Agora, não existe mais isso! A decisão é delas porque elas têm interesse em saber mais dos governos e de seus governantes. São cerca de 250 mulheres atuantes a favor da conscientização política. Sem estatuto, sem regras, sem obrigações. O único dever é entender cada vez mais os próprios direitos.  

Um beijo, um abraço, um aperto de mão. Mãos que se encontram, se unem e formam uma corrente de cuidado. Do Marias de Minas surgiu o Salve Maria Uberlândia, outra bola dentro. Ele é um aplicativo criado para ajudar mulheres vítimas de qualquer violência. Nele, há o Botão do Pânico. Ao clicá-lo, a polícia recebe a localização e vai até a vítima. Também é possível fazer denúncias (anônimas ou não) para salvar vidas. É importante salientar que todos os dados estão imbuídos na Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). 

Os elos das correntes não param de aumentar. Do Salve Maria nasceu a Casa da Mulher. “Notamos que quando uma mulher era agredida, ela tinha que contar a mesma história de dor e sofrimento para várias pessoas. Assim, a cada vez, ela se sentia menor e tinha mais lembranças negativas”, conta. Por isso, resolveu juntar várias frentes em um só lugar. Núcleo de Apoio, Delegacia Especializada, Diretoria Social de Proteção e Defensoria Pública foram instaladas na Casa da Mulher. Várias soluções em apenas um endereço. 

Uma grande ação é o programa BioSocial, focado em desenvolver a qualificação e a reintegração social e profissional das mulheres reclusas através da confecção de absorventes e calcinhas absorventes higiênicas reutilizáveis. As produtoras são as primeiras a usar as peças. Em troca do trabalho, elas têm direito à redução de pena. Por falar em absorvente, para combater a pobreza menstrual, tem “o dedo da Ana” no projeto Cuidado Íntimo, com distribuição de kits íntimos às estudantes do ensino municipal com situação comprovada de vulnerabilidade. Cerca de 4 mil alunas recebem 16 absorventes por mês na própria escola. 

Uma grande conquista para a cidade foi o Mamógrafo Móvel. “Brinco que ganhei do Odelmo um mamógrafo móvel de presente de aniversário”, diverte-se, pois o aparelho chegou em agosto, mês do aniversário dela. Desde 2019, já realizou mais de 4 mil e 500 exames. 

Com uma vida dedicada à luta pelo protagonismo feminino, Ana Paula sabe bem o que falta para as mulheres ocuparem todos os cargos na sociedade. “Coragem, vontade e ações”, resume, alto e bom som. “A mulher tem que entender que ela pode, tem capacidade, dá conta e chega aonde ela quiser”, completa. E assim ela se torna mulher, a cada passo, a cada aprendizado, com muito sucesso, orgulho e amor próprio.

Ana Paula e o marido Odelmo Leão, prefeito de Uberlândia

A Casa da Mulher reúne várias soluções em um só endereço

Entrega do kit Mãe Uberlândia

Marias de Minas é um grupo informal criado para discutir política