Arthur Matos


Gosto de pensar nos temas das colunas de acordo com coisas que acontecem comigo recentemente ou de pensamentos que me acometem. Uma por serem assuntos mais frescos na mente e outra por que me propus a fazer dos textos uma conversa, um texto que não exija nada mais que uma lida corriqueira, como um pensamento fluído. E uma das coisas que me passaram pela cabeça é sobre a questão do tempo que estou já trabalhando com Fotografia e o que consigo ver com esse tempo que vivo das minhas imagens.  
 


Como já falei aqui outras vezes, considerar o trabalho com a fotografia um “dom” desmerece todo o esforço, estudo e experiências de quem tenta se aprimorar nesta arte e profissão. Aliás, aos fotógrafos que estão lendo, tenho certeza de que assinarão embaixo. E não digo apenas em questão de técnica, incluo a visão de mundo, experiências que moldam um ser humano, até mesmo o tempo que estamos aqui nessa vida faz a gente ver as coisas de formas sutilmente diferentes ou com grandes mudanças. Falamos de algo que envolve VISÃO, e não apenas a visão literal dos olhos, mas das percepções e geração de sentimentos.



Pura e simplesmente: a Fotografia está diretamente ligada ao desenvolvimento de uma pessoa. A exemplo, essa foto com a tampa de lente da Canon foi literalmente o quarto clique que dei com minha primeira câmera, uma Canon T1i com uma 18-55mm. Estava admirado com a foto, com meu primeiro contato com aquele equipamento, aquela qualidade. Hoje vejo essa imagem e percebo que o que me fez admirar aquilo tudo era aquela luz que não conseguia projetar conscientemente, e que acabou dando um clique que na minha opinião da época era muito bonito. Tanto que até criei uma assinatura meio sem jeito e que saí postando no Flickr, que era o que tinha pra época, mas que me serviu também para ver outros fotógrafos pelo Brasil e pelo mundo, e me ajudou nos primeiros passos. Ah! Foi ali também que conheci uma das fotógrafas que mais me inspiraram e que tive a sorte de poder conhecer pessoalmente depois e de me tornar amigo. Abraço, Pri Martins!



Já essa foto é de um momento de ajuste de luz para um clique num final de tarde. Um enquadramento consciente, com a noção de que esse calor era necessário para que a foto ficasse aconchegante, harmoniosa. 

Bom, o ponto de conseguir ver a evolução das imagens através do tempo acaba sendo mais uma curiosidade e uma exposição das fotos sem jeito que fazia e como consegui melhorar. O que me fez realmente pensar não foi só para o passado, mas sim o que está por vir. Já que tenho essa noção de que a Fotografia cresce e se modifica junto com o meu amadurecimento, meio que fica óbvio o que virá pela frente: irei evoluir mais com o tempo, sempre de uma forma ascendente. Correto? Não. A vida não é essa moleza de previsibilidade. E ainda bem. Uma das coisas que mais me ajudam a me renovar no gosto pela Fotografia é justamente a adaptação, as inúmeras possibilidades de fazer coisas novas e não cair na mesmice.

Essa noção de que as coisas não são tão simples veio com o tempo também, e o questionamento do que vem pra frente fica até mais amplo. Não é de conhecimento de todos, mas fotografar profissionalmente exige muita energia, não apenas do corpo, mas principalmente da mente. Concentração, absorção de conteúdo, aprendizado, energia social. E a energia vai se esvair com o tempo, mesmo que tenha motivação, pode ser que todo o resto do conjunto do meu corpo não esteja tão afim, então pode ser que o trabalho com a Fotografia seja trocado pela Fotografia como hobby. Ou então que eu passe a lidar com a Fotografia de outra forma, como passando adiante o que reuni durante todo o tempo que vivi intensamente dela. As aulas em si já ministro há alguns anos, então seria apenas um ajuste.



Mas sendo mais sucinto, o que há um crescimento da Fotografia em conjunto com a minha pessoa, e que isso acontece com tudo que nos propomos a investir tempo e energia. É importante parar para ver o caminho que se passou e o que o futuro aguarda, mas o principal é saber que o processo é todo necessário. Para quem quer se aventurar na Fotografia, siga seu fluxo, passe por todos os passos, experimente as possibilidades e siga evoluindo. Pra quem já é do ramo, força companheiros e companheiras, restabeleça as energias e vamos em frente até quando tivermos como! 

E aqui abaixo quero dar um bonus para que vejam que tudo é um processo e que até mesmo quem já tem muito tempo de casa, um dia já teve um começo.


Ensaio com minha amiga Thalita Defresi, 2012.


Ensaio com minha amiga Pri Martins, 2020


Arthur Matos

Fotógrafo, publicitário, professor de Fotografia, criador do Projeto Nuances. Siga Arthur no InstagramAcesse o site dele ou envie um e-mail para arthurmatosc@gmail.com. 


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