Evacira Coraspe
Jornalista, artesã e administradora
“Vocês terão nosso apoio”: assim foi a saudação do presidente da Câmara Municipal de Uberaba, vereador Fernando Mendes aos cineastas durante sessão plenária com os vereadores.
Representando o grupo, Ado Pedrosa apresentou a criação da Guilda de Cinema em Uberaba. Trata-se de uma associação de cineastas uberabenses, trabalhando na cidade, em outros estados e no exterior. Todos os profissionais possuem mais de 20 anos de experiência na arte cinematográfica.
A estratégia é fomentar e fortalecer a produção de cinema local e produzir a união dos núcleos distintos. Nessa fase eles organizam a Associação e traçam um projeto municipal para captar incentivos. Os integrantes da Guilda aprovaram 4 projetos na Lei Paulo Gustavo.
Os vereadores, especialmente Marcos Jammal e Rochelle Bazaga, como também Fernando Mendes se colocaram à disposição do grupo, inclusive com a possibilidade de destinar emenda parlamentar, dentro dos parâmetros que a legislação permite.
Cineasta Pedrosa fez questão de registrar satisfação com o apoio institucional da “Casa do Povo”, lembrando a expressiva quantidade de emprego que as produções do Guilda podem gerar para Uberaba. Ele esteve acompanhado de Murilo Rezende e Liana Marzinotto.
Vereadores e cineastas. Foto Jully Borges
Durante cerimônia artística, com base no respeito e silêncio, em memória do Jorge Alberto Nabut, Thaís Cólus assumiu a curadoria do CCCB – Centro Cultural Cecília Palmério. Auditório lotado com parentes e amigos do ex-curador. Artistas trouxeram vários poemas e música, contando épocas numa espécie de sarau com emocionante narrativa da vida do Jorge Nabut.
Hélio Siqueira - VASO DE FLORES Pintura a óleo sobre tela 155x120cm
A primeira exposição no local, nessa segunda fase do CCCB, é do artista plástico Hélio Siqueira, com produções em pintura e cerâmica.
“Há mais de cinquenta anos percorro esse caminho – de casa para o atelier e do atelier para casa. De certa forma, o caminho é curto. O que é longo, de se perder de vista, são as investigações da criação, que nunca cessam e exigem cada vez mais e mais do artista”, diz Hélio sempre atento e inquieto.
Helio Siqueira, Thais Cólus e Marcelo Palmério.
O dia 25 de julho é reconhecido por lei como o Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha. Esse dia nasceu no Encontro realizado na República Dominicana, em 1992, com mais de 300 representantes de 32 países, compartilhando vivências, opressões e debatendo soluções para a luta contra o racismo. É muito importante a expansão de espaços, palcos, cenários e olhares sérios para essa causa de defesa cultural, identitária, social, ancestral, humanitária e jurídica. Aqui temos as histórias de três mulheres imbatíveis em seus posicionamentos.
Em entrevista com Evacira Coraspe - Isoleta Adão, Elisabeth Cardoso Nascimento e Madalena Gordiano
Elizabeth Cardoso Nascimento, assistente social, ativista da causa da mulher negra é filha da Tia Luzia, Maria Luzia Cardoso. Ela fala da responsabilidade de manter vivo o legado de sua mãe e escrever a sua própria história com responsabilidade e consciência.
Tia Luzia faleceu em 5 de julho desse ano, mãe de nove filhos, 34 netos, 44 bisnetos e 5 tataranetos. É importante ressaltar a atuação dela desde quando herdou da mãe a folia de reis Família Mapuaba e a Tenda de Umbanda N. S. do Rosário. Tia Luzia foi Dirigente do terno de Congado Minas Brasil (verde amarelo), reconhecido pelo Ministério da Cultura como Ponto de Cultura e também como Patrimônio Imaterial de Uberaba.
Fundadora da escola de samba Rosas de Ouro de Uberaba, com o maior número de títulos conquistados. Como diz Elizabete, sua mãe se envolvia apaixonadamente na organização da Rosas de Ouro, chegando a vender pertences pessoais para investir na melhor apresentação na avenida. Sua casa, ou quilombo, como diz, sempre foi espaço coletivo. “Minha mãe foi uma lutadora pela causa popular, pelas raízes africanas. Eu sempre fiz parte desse movimento de forma natural e não tinha o exato alcance da extensão de seus atos. Hoje, após a morte dela, tenho mais clareza do seu trabalho expressivo e me sinto muito orgulhosa. Continuarei nessa luta defendendo a igualdade racial, especialmente a mulher negra”.
Isoleta Adão, odontóloga, atua ativamente na luta antirracismo, participando de grandes eventos municipais e nacionais sobre direitos e políticas públicas. Mesmo assim ela garante que apesar dos debates, núcleos e comissões o avanço é pequeno. “No mercado de trabalho a mulher negra ainda recebe salário inferior à mulher branca. A negra não se enquadra no requisito boa aparência disposto em vagas de emprego.” Isoleta lamenta que as leis em prol da raça negra ficam na teoria, no papel e na prática não são aplicadas com rigor. Ela reafirma que a consciência individual e as movimentações devem continuar em todas as áreas do conhecimento e da sociedade e o dia 25 de julho seja um marco para uma luta diária e permanente na busca da igualdade e respeito, que um dia chegará.
Madalena Gordiano conhecida como Madá, se transformou numa grande referência e resistência da mulher negra resgatada das condições análogas à escravidão em uma cidade mineira da região do Alto Paranaíba. É impossível não ser atravessado pela comovente história da vida da Madalena. Depois de viver por 38 anos em condições análogas à escravidão, Madalena, foi resgatada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e Polícia Federal. Com o consentimento de sua família Madá com 8 anos de idade foi morar com seus padrinhos, para trabalhar e estudar. Foi justamente essa família que a manteve em situação de escravidão por quase quatro décadas. Segundo apurado, ela não terminou os estudos, cuidava de todo serviço doméstico, não tinha registro em carteira, nem remuneração ou descanso. Morava num quarto com menos de 3 metros de comprimento por 2 metros de largura, abafado, sem ventilação, sem armário. Alí guardava-se as vassouras e material de limpeza.
Madalena Gordiano, conhecida como Madá.
De acordo com relatos dela na entrevista e da imprensa nacional e internacional, Madalena era privada de livre conivência social. O caso e a denúncia vieram a partir de um bilhete deixado por ela debaixo da porta de uma vizinha, pedindo itens de higiêne pessoal. Isso chamou atenção porque a vizinhança imaginava que Madá vivia bem, com bom salário. Para aumentar o drama, Madalena conta que, sem saber, foi casada com um parente deles, adoecido, vindo a falecer. Ela nunca recebeu pensão. Esse dinheiro, conforme noticiado, custeava pagamento do curso de medicina de uma filha do casal.
Quando Madá foi libertada, brincava de boneca e jogava bola na rua, revisitando a infância que não teve. Hoje ela se diz livre, morando em Uberaba. É abraçada pelas pessoas nas ruas, pelas crianças. Está estudando, aprendendo a se comunicar melhor, após anos de silêncio.
“Eu não perdoei. Mas não guardo ódio, nem rancor. Estou feliz”
No canal do YouTube você acompanha entrevista completa com elas. O conteúdo foi exibido no Programa Movimento, apresentado por essa colunista, no canal 4.3 – TV Câmara.