Evacira Coraspe


Sagrado Feminino 

“Como as mulheres têm uma necessidade profunda da alma se expressar em seus próprios estilos de alma, elas precisam se desenvolver e florescer de um modo que faça sentido para elas, sem serem molestadas pelos outros ...” Recorro à literatura, com trecho do livro “Mulheres que Correm com os Lobos”, de Clarissa Pinkola Estés, para realçar a grandeza dos movimentos culturais diários das mulheres, em especial referência ao mês de março, quando no dia 08 comemorou-se o Dia Internacional da Mulher.  Claro, que sem celebrações coletivas, em virtude da pandemia pelo Coronavírus (Covid-19), mas com as reflexões indo por outros caminhos, não menos abundantes.  É fato que a mulher ocupa posição cada vez mais fundamental em todos os setores, especialmente no eixo essencial: a humanização nas relações, a defesa de ideias libertárias, sempre com coragem e protagonismo. A mulher carrega em si o conceito da Fênix (também feminino); com resiliência renasce das cinzas e se apropria de seu território interno e externo.

 

Bancada Feminina 

Vereadoras Denise Max, Lu Fachinelli, Rochelle Gutierrez, Alessandra. Foto Rodrigo Garcia 


Historicamente, desde que foi instalado em 1937, nunca o Poder Legislativo de Uberaba esteve tão feminino numa mesma Legislatura.  Quatro mulheres ocupam cadeiras na Câmara Municipal. 

A vereadora Denise Max (Patriota) foi reeleita. Em seus primeiros mandatos temos a Rochelle Gutierrez (PP); Lu Fachinelli (PSL), 1ª Secretária da Mesa Diretora e Alessandra, do Abrigo dos Anjos (Podemos). Essas vozes femininas no Parlamento carregam grande responsabilidade, pois sugerem que se possa encontrar melhores aparatos no equilíbrio social. Parabéns, vereadoras!   


Mulheres no Executivo 


Prefeita Elisa e sua equipe feminina do primeiro escalão. Foto Arthur Matos   


Nunca tivemos um grupo de mulheres no Poder Executivo como agora. Para começar o Município tem uma Prefeita, Elisa Araújo. Surgiu mineiramente na política, sem alarde.  O primeiro impacto que se viu foi a quebra da tradição masculina no Poder Legislativo desde 1837, quando o presidente da Câmara era também o Agente Executivo, respondendo pelos dois Poderes. Aí está Elisa, com expressão equilibrada enfrenta a maior crise de Uberaba: a pandemia, com suas consequências e perdas de vidas.   Elisa nomeou várias mulheres para cargos estratégicos. Muitas secretarias, quadro do primeiro escalão, estão sob a gestão feminina. A representatividade alcança diversos níveis em seu governo. 


Ela carrega 16 toneladas 


Creusa Gonçalves de Melo. Foto arquivo pessoal

 

Creusa Gonçalves de Melo capricha no rímel e batom, veste seu uniforme impecável e senta em sua poltrona; aliás, a primeira é dela. Não é a mesa sofisticada de uma empresa que ela ocupa. Creusa assume a autoridade de conduzir um veículo de 16 toneladas, com 45 vidas humanas. Creusa é uma uberabense motorista de ônibus intermunicipal. Entusiasmada, a motorista faz questão de se dedicar ao casal de filhos, netos e ao marido. Como é ser mulher motorista de ônibus? Ela explica que sua vida profissional começou cedo. Antes, trabalhou como cozinheira em restaurante e também de doméstica, em casa de família. Em 2013, resolveu dar uma guinada na vida: tirou habilitação categoria D, para dirigir veículos pesados. Queria mesmo ser motorista, atividade de seu marido. Procurou a empresa de transporte local e fez teste, mas não foi aprovada. Não se deu por vencida e novamente procurou a empresa, sendo contratada.  Creusa completou oito anos de profissão, num cenário dominado pelos homens; mas, apesar disso, assegura não ser hostilizada nem pelos colegas, nem no trânsito. 


Nova geração médica 


Marcela Farid, médica dermatologista. Foto Paulo Lúcio 


Assim como em tantas outras profissões, a mulher cada vez mais ganha espaço na medicina. Vemos hoje inúmeros exemplos de médicas que são referências de conhecimento e inovação. Porém, ainda há muito a mudar, pois “se percebe um certo preconceito em determinadas áreas médicas”, destaca Marcela Farid, dermatologista, tricologista e integrante da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Analisando o natural acesso da mulher ao procedimento estético, a médica esclarece que, na maioria das vezes, a procura está associada à elevação da autoestima e bem-estar. “E é isso o que deve representar. As que buscam um procedimento para atender apenas à vontade de terceiros estão sempre insatisfeitas com os resultados. Além disso, o cuidado com a beleza também instiga a mulher a ter uma vida mais equilibrada e saudável.”

Pergunto a ela qual é o sentimento que prevalece após um dia potente em atendimentos. Marcela Farid é enfática: “Faço o que escolhi pra minha vida. Gosto muito de ser dermatologista; portanto, tenho grande satisfação em poder proporcionar alegria aos meus pacientes, em contribuir para melhor qualidade de vida de cada um deles. Não tem cansaço, tem contentamento”.   


Mulher múltipla 

Teresinha Cartafina. Foto arquivo pessoal


Quando se fala em mulher vibrante, referência em várias áreas, muitos pensam logo, inclusive eu, em Teresinha Cartafina. Orgulhosa dos seus 87 anos, ela se vê como uma mulher moderna, sempre pronta para auxiliar as pessoas. Aliás, essa uma prática bem natural da Teresinha durante toda vida. Como primeira dama do Município, destacou-se bastante ao lado do marido, então prefeito, dr. Silvério Cartafina. Suas ações foram fortes na área da assistência, hoje desenvolvimento social. Suas atitudes determinaram a criação do Combem, transformado em Probem. Com a sabedoria da política nas veias foi vereadora por dois mandatos, compreendendo os períodos de 1997 a 2004. No Hospital da Criança, ela esteve por 40 anos entre a presidência, diretoria e voluntariado.  Destemida, encarou uma grande campanha política no ano passado, sendo candidata a vice-prefeita e chegou ao segundo turno, de maneira digna. Mãe de 5 filhos, ela cozinha, borda e coordena a Colmeia Cartafina, grupo de mulheres do artesanato, para o bazar anual em prol de entidades necessitadas. Teresinha é mulher de se levantar cedo, se atualizar com as notícias, enviar mensagens, cuidar da saúde e se arrumar com elegância, com seu colar de pérolas, que revela o sentido: “Estou pronta pra mais um dia de luta e de glória”. 


É muita inspiradora  


Fabiana Silbor, jornalista e educadora. Foto arquivo pessoal


Entre as figuras femininas que me cabe destacar está a jornalista e educadora Fabiana Silbor, especialista em Marketing e Terceiro Setor. O profissionalismo e generosidade estão entre as sagradas virtudes que reconheço nela. Protagonista de linguagem afetuosa, Fabiana exalta a educação e cultura em sua conduta nesses bons encontros da vida. Colegas de profissão, me tornei sua discípula no jornalismo de televisão. Na literatura, quando publiquei meu livro Flor de Chita, Fabiana deu o primoroso toque final. Com narrativa singular, ela desperta em cada pessoa que a conhece a potencialidade oculta para gerir as próprias capacidades de vida. Tecendo diálogo com Silbor sobre o parâmetro da existência da mulher contemporânea com gerações anteriores, ela enxerga comportamento bem particular entre essas épocas; no entanto, é categórica: “Em todos esses processos de evolução, o respeito deve ser alicerce. Sem julgamentos e cobranças. A mulher é a essência das transformações. Merece o tempo necessário de amadurecimento.” Sobre o legado que a atual geração feminina semeia para as que estão a caminho, desde o ventre materno, a educadora ensina: “devemos nutrir os entendimentos de que o valioso é ser. Que a equidade, a ética, a justiça, a colaboração, a comunicação assertiva são pontes. Da mesma forma como um elo se expande, também herdamos sabedoria de nossas ancestrais, sendo a diversidade a herança mais inspiradora”, afirmando que, “entre as reflexões é importante reconhecer e valorizar as diferenças que conciliam. Que unem e fortalecem. Que transformam e agregam”. 

“A expectativa de sucesso nos múltiplos papéis ainda rege a vida da maioria das mulheres e continua a ser um pesadelo numa sociedade machista e capitalista. A atitude da mulher é rotineiramente desafiadora, para compreender oportunidades de ser solução e cuidado, em especial nestes tempos de pandemia”, diz Fabiana Silbor. 


Mulher que faz 


Cidinha Coimbra, psicóloga e diretora executiva da revista Mulheres. Foto Marise Romano


Da área da saúde para a comunicação, sem perturbação, assim Cidinha Coimbra, psicóloga migrou nesses setores profissionais. Embasada em conhecimentos de gestão ela redirecionou seus objetivos e incorporou a Revista Mulheres, no cenário da comunicação.  Antes foi referência em cargos no município e na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), o que lhe traz experiência sobre variados setores na comunidade, facilitando suas análises apropriadas sobre as editorias da Revista.  Como Diretora Presidente, Cidinha prima, antes de tudo, pela integridade das informações. Ainda que prazerosa é uma tarefa complexa, por isso ela sempre deixou claro, não querer somente excelente qualidade visual da RM, mas sobretudo prestar um serviço humanizado, onde as pessoas são matéria prima e também consumidoras, ou seja, são vidas em transformações. “Quero contribuir com respeito pra que essa mudança pessoal e coletiva seja positiva”.  


Uma grande Mulher 


Maria Henriqueta com a colunista. Foto Paulo Lúcio


É ambíguo pensar numa homenagem póstuma, quando a pessoa estará eternamente viva em quem recebeu o benefício de sua obra. Maria Henriqueta Fidelis é essa mulher que por mais de 40 anos se dedicou à pesquisa da Doutrina Espírita, no Centro de Estudos Maria Raquel, fundado por ela, com o esposo Amaury Fidelis, apoiada pelo filho Gustavo. 

Professora aposentada, apaixonada pela arte do bordado, ela trouxe sua bagagem didática para todas as esferas. Seus conteúdos teóricos se fundiram com o refinamento da percepção, para amparar mulheres, mães e familiares em crise, em dores, súplicas e lutos. Henriqueta dispôs sua energia vital com autoridade moral a quem ela alcançou. Praticou a sororidade com convicções plenas. Às vezes ouvinte, às vezes falante, sempre transferindo conforto espiritual. Entre seus ensinamentos, relembro: “o que nos une como mundo é o afeto. É o pensamento o vetor que nos aproxima. A comunicação entre nós encarnados e desencarnados se faz via pensamento. É além da sintonia. Na captação de pensamentos entre espíritos afins, existe o que chamamos de afinização, ou seja, a concordância”. 

Agora, que Henriqueta se despediu dos laços físicos, deixando uma falta, o nosso egoísmo não pode ser maior do que o alicerce erguido na seara da convivência com ela, onde cada encontro era um louvor ao crescimento, uma celebração à amizade. 

Sobre a pandemia, ela me disse: “Estou como todos nesse tempo de casulo. Esperando o fortalecimento das asas, para um voo rumo à liberdade! Sair dessa prisão sem grades, na certeza de que mudamos para melhor os rumos de nossa caminhada em prol de uma humanidade mais fraterna. Estaremos sempre juntas!”  


Evacira Coraspe

Jornalista. Administradora. Professora de bordado terapêutico. Assessora de Comunicação na Câmara Municipal e Apresentadora do Programa Movimento na TV Câmara. Autora do livro Flor de Chita.


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