Jornalista Valeska Ramos


O mundo virou de cabeça para baixo há praticamente um ano. E uma das preocupações é também com a saúde mental das pessoas. O medo tomou conta, e a mudança radical no estilo de vida, como o isolamento e a falta do contato físico agravam um pouco a situação. Para nós não é nada fácil deixar de se abraçar e de se tocar. Mudar comportamentos é desgastante. Com tudo isso, primeira reação é de estresse agudo ocasionado por uma circunstância súbita e inesperada. 

A epidemia é, sem dúvida, um forte fator de estresse, e com ele outras enfermidades surgem, ou podem se agravar para um transtorno mental mais grave, como a depressão, o síndrome do pânico, TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), entre outros. 

Segundo o médico psiquiatra Daniel Jácomo Mauad, formado pela USP de Ribeirão Preto, Residência Médica em Psiquiatria pela USP e Membro Titular pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), a pandemia trouxe um impacto muito grande na saúde mental das pessoas, por ser uma doença desconhecida até mesmo pelos cientistas e que gera discussões até hoje. Essa indefinição de como tratar o vírus, de como acontece a infecção, se atinge toda faixa etária ou apenas uma mais gravemente, toda essa discussão sem respostas concretas, traz um pavor enorme. 


Daniel Jácomo Mauad


“As pessoas que já sofrem de algum transtorno psíquico, pode ter esse quadro agravado. Essas pessoas desencadeiam uma dúvida e incerteza patológica. E aquele indivíduo que possui uma predisposição para algum distúrbio psicológico começou a desenvolver com o início da pandemia”. 

O psiquiatra alerta também, que o isolamento, principalmente nos jovens, aumentou o quadro de depressão, com riscos e tentativas de suicídios, e não menos importante pontuar que houve um aumento no consumo de drogas e bebidas alcoólicas. A insegurança quanto ao futuro, desemprego, insônia também são pontos desestabilizadores do ser humano e que conjuntamente pioraram muito os transtornos psicológicos. 

O foco de apreensão é o medo de ser contaminado, nessa fase são comuns as manifestações de desamparo, tédio e raiva pela perda da liberdade. Com isso aparecem os sintomas da ansiedade, irritabilidade e desconforto em relação à nova realidade. Estas reações são esperadas e preocupam do ponto de vista da saúde mental, quando passam a afetar a funcionalidade do indivíduo.   


Como combater o isolamento psicológico? 

Para se combater o isolamento psicológico, é muito importante nos mantermos distantes, mas conectados, não perder a conexão com amigos e familiares, hoje facilitada pelos celulares e internet. Para tornar o isolamento tolerável ainda de acordo com Dr Daniel Mauad é preciso construir uma nova rotina, buscar atividades lúdicas e criativas, fazer atividade física regular em ambientes externos, evitar álcool em excesso, meditar, manter hábitos saudáveis, incluindo alimentação balanceada. 



É claro, que a psicoterapia também ocupa um lugar importante, não só para o tratamento de casos já diagnosticados, como também, para a prevenção dos sintomas das patologias psiquiátricas. E por fim, caso necessário, seja incluído tratamento medicamentoso. “As pessoas precisam motivar-se e entenderem que nenhum mal dura para sempre”, explica o psiquiatra.   

A psicóloga Alci Cabral acredita, assim como a filosofia budista, que precisamos nos desapegar para minimizar o sofrimento humano. “O momento nos mostra a urgência de mudarmos muitos aspectos em nossas vidas, mudanças de valores, no estilo de vida, e a importância em desenvolvermos conhecimentos dentro do âmbito da espiritualidade. A prática de meditação, exercitar, viver o momento presente, um dia de cada vez, pode ajudar a diminuir a ansiedade, e consequentemente melhorar os aspectos psicológicos do momento. Somos seres espirituais, vivendo uma experiência material nessa existência terrena”. É a primeira vez que teremos de agir como nação, e renunciar às recompensas imediatas para lucrarmos no futuro. O país não vai ser o mesmo depois desta crise. 



A psicanalista formada pela Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto e Membro do Grupo de Psicanálise de Uberaba, Denise Lea Moratelli, acredita que a fase que estamos atravessando tem gerado tristezas, ansiedades e medos, o que traz o temor pela vida. “Estamos tendo que lidar, ainda, com a dolorosa experiência de solidão e confinamento. Acredito que uma intimidade maior com os nossos bons sentimentos nos possibilite sonhar com o encontro real. Somos seres do vínculo, da esperança, do amor. Parafraseando Freud: “precisamos continuar amando para não adoecer”.  



A Coach Kamila Teixeira explica, que ela na profissão com os processos de coaching e treinamentos percebeu que houve comportamentos polarizados. “De um lado aqueles que cruzam os braços e esperam tudo passar, e de outro aqueles que, ultrapassado o impacto inicial com uma situação nova e atípica, optaram por reinventar meio ao caos”. A Coach acredita que o poder de decisão é o gatilho para que o indivíduo, juntamente com ajuda profissional, consiga passar por esse período, com mais foco e sabedoria.  



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