Gilberto Rezende



Agosto é mês em que se comemoram os festejos do Folclore e tem o dia 22, estabelecido pela Lei promulgada em 1965 pelo Congresso Nacional, como o seu dia. O Folclore, todavia, faz parte, diariamente, da vida de todo mundo. Lendas, superstições, hábitos, costumes, estórias, gestos, alimentações ou indumentárias, são tradições folclóricas, como as manifestações populares de cantos e danças. 

Diz Luiz da Câmara Cascudo, autor do “Dicionário do Folclore Brasileiro” editado em 1954, que “Onde estiver um homem, aí viverá uma fonte de criação e divulgação folclórica”. 

As tradições de catira; folias com suas variações mais comuns como as de Reis, do Divino, de São Lázaro e de São Gonçalo; a viola caipira; as congadas e o moçambique, bem como outras manifestações da cultura afro, são centenárias em Uberaba. Outras manifestações foram gradativamente se inserindo no contexto folclórico, importadas de outras regiões, como a capoeira, na qual, o berimbau tem um papel relevante. 


Catira 

De origem indígena, o Catira (ou Cateretê) já era conhecido desde à época colonial. Segundo alguns historiadores, Pe. Anchieta já incluía o catira nas festas de Santa Cruz, São Gonçalo, Espírito Santo, São João e Nossa Senhora da Conceição. Naquela época, os indígenas dançavam o catira e cantavam textos religiosos traduzidos em tupi, com um ótimo aproveitamento para a catequese. 

Teve seu apogeu na região do Triângulo Mineiro, de 1900 a 1960. Com a introdução do rádio, da TV e com o êxodo rural, despareceram as festas e mutirões das fazendas, que tinham no catira seu ponto alto nas comemorações. 

Dividido entre uma moda de viola e um recortado e de seis a doze palmeiros, dispostos em duas fileiras, frente a frente, o catira, com uma mescla de poesia, palmas e sapateados, coreografias e ritmos entrelaçados por regras específicas, embaladas pelo plangente som das violas, num tom melodioso, que extravasa o mais puro sentimento da alma sertaneja. 

A poesia é alma da dança do catira e o sapateado, seu complemento e adorno. Grande foi a safra de poetas sertanejos em nossa região que, além de criar a poesia, compunham a melodia, executavam a viola e interpretavam a música. 

Nomes como o de João Emerenciano, João Gregório, Manuel Germano, Chico Quintino, Orozimbo Fabiano, Antônio Herculano, José Mateus, Antônio Batista de Paiva, João Marques, Agenor e Manoel Teles, Juca Cândido, Vilmondes Cruvinel Borges, Vicente Caburé, José Crioulo, Tertuliano Inácio,  José Barbosa, Natal Borges e inegavelmente o maior de todos os poetas sertanejos, Manuel Rodrigues da Cunha, escreveram com suas  modas e recortados para o catira, a história da civilização rural de boa parte do apogeu do século passado. Jair Gomes Seabra, compositor e palmeiro é testemunha viva de boa parte destas manifestações. 

Na década de 1950, Geraldo Quirino de Souza, mais conhecido como Toninho, criou diversos grupos de catira em seis bairros de Uberaba, capitaneados por José Emidio, João Modesto, José Cassimiro, Joaquim Praxedes, Zeca dos Anjos, Chico Carreiro e Valtercides. 

O mais conhecido dos grupos de catira foi o dos Borges, comandado nos últimos 60 anos por Vilmondes Cruvinel Borges e seu eterno parceiro das violas, Gabriel Borges de Morais, tendo como grande palmeiro a figura de Orozimbo Fabiano, mas a estrela máxima deste grupo foi Romeu Borges, o maior sapateador de catira que o mundo conheceu e que teve o privilégio de dançar com a maior bailarina brasileira, Ana Botafogo do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. 


Gabriel Morais e Vilmondes Borges


Em Uberaba, Romeu Borges protagonizou belos espetáculos da mistura do balé com catira, ao som das violas. Sua parceria no sapateado com a bailarina Nathaly, filha de Nicodemos e violeiro da dupla, deixou saudades. 


Romeu Borges e Nathaly 


Após o falecimento de Vilmondes, Antônio Augusto Borges, vem desempenhando a função de violeiro do grupo, com muita competência na viola e na cantoria das modas e recortados. 

Os violeiros Vilmondes e Gabriel junto com os palmeiros Lauro, Romeu, Djalma, Ranulfo (Sinhô), Antônio Augusto, Romeu Jr., Ricardo, Zezito, Dalmo, Luiz Carlos, Delcides, Antônio Joaquim, João Neto, Mauro, Fausto, e Junior, todos da família Borges, foram integrantes do Catira dos Borges. 


Catira dos Borges


Não há como deixar de destacar o Catira dos Teles, sob o comando de Manoel Teles e seus filhos Negrinho e Vinicius, todos violeiros, cantadores, compositores e palmeiros. Manoel Teles, um patrimônio cultural pela sua dedicação ao folclore por mais de 60 anos deixou lindas poesias para o catira. Foi também Capitão de Folia de Reis e sempre contou com a participação da dupla sertaneja Manoelzito e Doraí. 


Catira dos Teles


Manoel Teles com a viola e Zé Ninguém 


Em 2020, Uberaba perdeu o Paulo José Cury, mais conhecido como Paulinho Leiteiro, compositor, cantador, violeiro, sapateador de Lundu, que formou o grupo de Catira “Geração por Geração”, composto por seus filhos e netos. Foi um Capitão de Folia de Reis - “Folia Fonte do Amor” e que, por cinquenta anos, atendeu a todos os pedidos dos devotos de Reis. Toda uma família voltada para as tradições folclóricas. 


Catira Geração por Geração


Atualmente, o Catira “Raízes” sob o comando de André Medeiros e o grupo de “Catira Tradição Manoel Teles” ainda mantém esta manifestação cultural. Destaca-se ainda o Catira “Tradição de Minas” criado pelo Wosley Torquato, junto com sua família. Wosley vem há anos mantendo uma escola para ensinar os passos do catira a crianças, jovens e adultos. Hoje, ele é um esteio na manutenção desta tradição. 


Catira Raízes 


Catira Tradição de Minas


Há que se registrar também o Catira Revelação, criado pela dupla Vinicius e Negrinho Teles, formado por jovens catireiros, agraciados com a classificação de primeiro lugar no 2º Festival de Catira. 

Ficou na memória da comunidade os três Festivais de Catira realizados em Uberaba. O palco para apresentação dos dois primeiros Festivais, comandados pelo comunicador e violeiro, Alexandre Guti Saad, foi a Casa do Folclore. As apresentações de 2010 e 2013 contaram com o patrocínio da Petrobrás, sendo seu diretor, Almir Barbassa, nascido em Uberaba. 

As atrações contaram com as duplas Léo Canhoto e Robertinho no primeiro e Pedro Bento e Zé da Estrada no segundo. José Hamilton Ribeiro, apresentador da TV Globo e Álvaro Catelan, secretário de cultura em Goiás, integraram o corpo de jurados.

O terceiro festival foi apresentado no Cine Vera Cruz, em 2014. Doze grupos de catira de seis estados brasileiros, Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Mato Grosso do Sul e do Norte e Distrito Federal, se apresentaram para um público que lotou as dependências do teatro. O projeto foi patrocinado pela Cia. Vale do Rio Doce. Nesta ocasião foi apresentada a edição do livro – Catira 450 Anos de História – pesquisa e autoria de Lisete Resende.


Folia de Reis 

Erwin Pühler, em depoimento para o lançamento do LP Cantos e Danças de Uberaba em agosto de 1984 disse que Folia de Reis é “a imaginação criadora popular, que movida pelo inconsciente coletivo, misturou o profano com o religioso, a oração com o divertimento; os magos transformaram-se em reis e, por serem importantes, receberam nomes – Gaspar, Baltazar e Melchior. Depois cobriram Gaspar, que ofertou ouro, com manto dourado, símbolo da riqueza material; a Baltazar, que incensou Jesus, foi dado o manto vermelho, traduzindo o orgulho; Melchior, de roxo, lembra o desapego e fraquezas humanas; e, como os foliões não têm riquezas para ofertar, invertem os papéis, oferecem sua arte – tocando e cantando – e, em troca, pedem donativos”.

Para Lisete Resende “Folia de Reis é uma das mais significativas manifestações da cultura popular, herança cultural européia transportada para o Brasil através dos colonizadores. Chegou ao Brasil em características de ritual religioso, que se incorporou às dramatizações litúrgicas nas igrejas, e dessa forma foi disseminado pelo país. Simbolizando os Três Reis Magos, indo à procura de Jesus, as folias de reis se organizam, imprimindo rituais tradicionais, entoando canções sobre temas religiosos. Esse rico patrimônio cultural sobrevive graças à força e a resistência de grupos sociais, que lutam para preservar a sua identidade cultural através da prática de costumes e culto de crenças e valores”. 

O simbolismo que cerca todo o aparato de uma folia de reis – jornadas, vestimentas, cores, flores, fitas, estandartes, andores, santos, festeiros, instrumentos, foliões, capitão, versos, respostas, palhaços, estrela guia, bandeira, coroas, arcos floridos, toalhas, altares e presépios tem o seu significado e o processo de sua utilização é uma liturgia. É a marca da fé dos foliões e de todo o seu séquito no poder milagroso dos Três Reis Santos – Gaspar, Baltazar e Melchior. 

Capitão em Folia de Reis é o grande líder. Através de sua cantoria, de seus improvisados versos, controla todos os movimentos da sua Companhia cuja jornada de peditório tem início em 25 de dezembro e que prossegue até o dia da grande festa de encerramento. 

É o dia da ALVORADA e antes do sol nascer, os foliões com seus instrumentos enfeitados de flores e fitas, já estão agrupados. Fogos de artifícios estouram nos céus da madrugada anunciando a procissão em busca de cada festeiro, cada um deles representando um dos Três Reis Magos. 

Forma-se a procissão. Respeitosamente, a folia segue para a casa do primeiro festeiro para integrar o séquito. Em cada casa, onde já está armado um arco sagrado todo florido, é que o Capitão pede licença para que a Bandeira Sagrada e Estrela Guia possam passar. De seu interior vem o festeiro, devidamente paramentado, acompanhado de um ou dois andores, ricamente ornamentados e com os santos de sua devoção. É o dia da troca das coroas. O cerimonial já traçado pelas tradições, enriquecido pelo brilho das cores das capas dos festeiros e das vestes das carregadoras de andores, perfumado pelas flores dos arcos, é carregado de emoção pelo tangido das violas e pelo canto dos Foliões. É o dia em que novos festeiros são escolhidos e, diante de um presépio ou de um altar, a cantoria se estende sob um respeitoso sentimento religioso de todos aqueles que são devotos de Santo Reis. É a Fé de nosso povo. É a força da devoção. É o reverencioso respeito às nossas tradições. 

Uberaba é considerada a capital das Folias de Reis, manifestação folclórica que remonta aos tempos de sua origem. É uma manifestação tombada pelo Patrimônio Cultural Municipal, como bem imaterial. São mais de cem grupos que anualmente envolvem milhares de pessoas em seus rituais.

Grandes capitães de Folias de Reis, ao passar para eternidade, deixaram a bandeira que, por dezenas de anos, carregaram em devoção aos Três Reis Magos, nas mãos de seus discípulos. Sebastião Mapuaba, Labibe, Geraldo Pires, Evaristo Torquato, Jorge Bernardes, Paulo Cury, Manoel Teles, são alguns dos destaques. 


Folia de Reis de Paulo Cury


Companhias de Reis, algumas com mais de cem anos, sempre são destaques nos Encontros Anuais de Folias. Entre elas, a do Adalto, Patrimônio do Ponciano, Leiteiros, Marcelino, Quinta da Boa Vista, Baixa, Santa Rosa, Batalhão do Oriente, Canarinhos da Abadia, Zé Pretinho, Manuelzito, Ferroviários, Capão Grande, Moreiras, Água Santa, N. S. de Nazaré, Brechó, Estrela Guia, Mapuabas, Filhos de São Sebastião, N. S. das Graças, Viagem de Reis, Fonte do Amor, Bernardes, Lapa, Divina Santa Estrela, Ribeiro, Doze Irmãos, Três Ministros, Resplendor do Oriente, Três Reis do Oriente, Onofre e Irmãos Silva, Paulo Élcio  e Mizael, entre outras. 


Folia de Reis de Manuelzito


Ao completar Cinquenta Anos de Festivais e Encontros de Folias de Reis, foi realizada uma grande festa com o patrocínio da Petrobrás, lotando o Cine Teatro Municipal Vera Cruz com a distribuição de 100 violas e a presença de duplas sertanejas como a de Liu e Leo e a participação do violeiro e compositor uberabense, Paulo Andrade. 

Foram destaques a apresentação de Alexandre Guti Saad e também sua participação de canto e encanto de temas de folias com Marcelo Taynara e Dércio Marques.  

Foi nesta festividade que a Orquestra Acqua, dirigida pelo maestro Jeziel, com a participação do coral Cidade de Uberaba, sob a batuta de Marly Gonçalves e da Companhia de Reis do capitão Jorge Bernardes, entoou cantos de Folias de Reis, em compasso de música clássica, trazendo emoções ao público presente.

Em 2012, pela passagem do 53º Encontro de Folias de Reis realizado em Uberaba, MG, o folclorista e diretor da DMW-3-Produções, Ari Morais, produziu um interessante documentário sobre Folias de Reis, contando com nossa participação. 


Toninho e Marieta, Edinho e família


Viola Caipira 

Na viola caipira, difundida através da Escola de Viola “Gaspar Correa”, da Fundação Cultural de Uberaba, centenas de violeiros marcaram com seu talento, os sucessos das músicas sertanejas. Dos que hoje são apenas saudades, não há como esquecer o primeiro professor da Escola de Viola, Claudionor da Silveira, mestre e compositor. 


Claudionor da Silveira


Ainda está na memória de todos o falecimento precoce de José Nicodemos que por muitos anos dirigiu a Escola de Violas e criou a Orquestra Violas de Ouro. Comunicador, violeiro e professor, por muitos anos foi integrante da dupla “Odair e Nicodemos” com muitas gravações de sua bonita voz e seu talento na viola. 


José Nicodemos


Há que se registrar também o recente falecimento de Cláudio Viola, parceiro de Luiz Carreira, seu irmão e de Júnior, parceiro de Flávio, presentes nas noites uberabenses e em muitos festivais de viola. 

Uberaba se orgulha de seu grande violeiro, professor, compositor e cantador, Toninho da Viola, que por muitos anos dirigiu um programa na TV Uberaba, sobre a viola caipira. Junto com Romeu Gomes, um cancioneiro de bonita voz, também violeiro e compositor, chegaram a formar uma dupla. Gravaram e até hoje emocionam a todos os seus admiradores. 


Toninho da Viola


De renome nacional temos orgulho também de Alexandre Guti Saad, violeiro, compositor, cantor e comunicador, que sempre apresentou todos os Festivais de Catira, de Folia de Reis, a festa dos 195 anos de Uberaba, e tantos outros eventos. Responsável pelo resgate da vida de Goiá, apresentador por muitos anos de TV, prestigiando nossos valores artísticos. 


Alexandre Guti Saad


Por admiração do amor da juventude pela viola, desde a década de 1980, registra-se o nome de Rui Barbosa Junior (Ruizinho), de Renato Cartafina, de Lauro Borges (Chopin) e, na atualidade, representando a beleza feminina, a jovem Natália Pinheiro, filha do grande advogado Walter Omedes e sua esposa Leninha Pinheiro. 

A cidade admira também a qualidade artística de seus cantores e de seus violeiros, sempre aplaudidos e que se mostraram através de TV, gravações e apresentações públicas, destacando-se as duplas Nicanor e Palmeri, Silveira e Silveirinha, Neném e Itamar, Manoelzito e Doraí, Palmeri e Panamá, Romano e Suzanito, Bom Tempo e Sulivam, Guarujá e Guarupense, Peão Mineiro e Paulista, Severo e Lazinho, Santana e Santaninha, Rei Gaspar e Baltazar e Rei Gaspar e Majestade.

São ainda lembrados os grandes violeiros, que se apresentaram em duplas ou em canto solo nas emissoras de rádio ou de TV, na década de 1980, mostrando seu talento como, Xanduzinho e Xinoquinho, Homero e Florizone, Serenata, Aimoré e Guarani, Serenata e Silvino, Mineiros da Gema, Rei do Ouro e Diamante, Casa Grande e Sobradinho e outras centenas de duplas apaixonadas pela viola e a música raiz. 

Na atualidade, são nossos artistas, as duplas Baltazar e Martinho, Carlos Viola e Lúcio Borges, Junior Viola, Adriano e Tomain, Neném Violeiro e Humberto, Sabata, Trio Só Modão, Vander e Vandeir, Zé Floresta e Florestal, Igor Cunha e Fernando, Karine e Kauã, Russo e Roberto, entre dezenas de outras duplas.


Cultura Afro 

Edelweis Teixeira, em depoimento para o lançamento do disco “Cantos e Danças de Uberaba, lançados em agosto de 1984, disse que “Congado, um folguedo afro-brasileiro, são grupos que atendem pelo nome de Terno (coro medieval de 3 vozes masculinas), Companhia, (por ter como chefe um capitão com seu apito) e de Grupo. Todos esses grupos vêm mantendo a chama sagrada do ideal, dos anseios e esperanças dos sentimentos de religiosidade. 

A 13 de Maio, dia da alforria, festejos em homenagem à princesa Isabel. A já demolida capela do Rosário, benzida em 1842, demonstra a antiguidade desse antigo ritual, bastante reduzido atualmente, inclusive o corte da Embaixada, auto dramático em que dois sobas, a rainha Jinga, de Angola e seu vizinho, o rei Carlengo, entram em lutas tribais. No Reinado uberabense temos Cortejo Real (desfile) do Rei Festeiro e Rainha Festeira, ambos debaixo de uma umbela colorida, empunhada atrás e por cima, por um pajem. Logo a seguir o fitão, um quadrado onde vão príncipes, princesas e cumpridores de promessa, seguidos pelo séquito e banda instrumenta. 

O Congado é uma manifestação cultural criada no Brasil pela Irmandade N. S. do Rosário dos Homens Pretos”. 

Na mesma oportunidade, Antônio Carlos Marques prestou depoimento e disse que “Moçambique Nossa Senhora do Rosário faz parte dos folguedos inseridos na cultura afro-brasileira e foi criado pela Irmandade de São Benedito. Após a abolição os brancos deixaram de apoiar as Irmandades de Sta. Ifigênia, São Benedito e Nossa Senhora do Rosário e todas elas encontraram grande dificuldade econômica para manter o mesmo ritual, vestimentas e o brilho que até então ostentavam em seus festejos anuais.” 

Uberaba, desde 1942, tinha a sua capela de Nossa Senhora do Rosário, localizada na atual Av. Presidente Vargas com a frente voltada para a rua Artur Machado e os fundos para a Ladeira. A partir do ano da Abolição, 1888, a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, a única então existente, passou a cultuar não só o 07 de Outubro, mas principalmente, o 13 de Maio. Demolida a capela do Rosário em torno de 1920, por sua vez a Irmandade também se dissolveu. A capela de Sta. Rita de Cássia é que recebeu os homens pretos, devotos de Nossa Senhora do Rosário onde, nas tardes de sábado, havia missa cantada, com ladainha e terços cantados e outras orações da época, todas fazendo um belíssimo coral. 

Entrando em ruínas esta capela, os pretos de Uberaba construíram a capela de São Benedito, na praça da rodoviária antiga. Ali é que se deu um fato marcante: o restabelecimento do Terno de Moçambique. A prioridade dada aos moçambiqueiros nos festejos de 13 de maio, em Uberaba, tem a seguinte explicação: em certa ocasião houve séria divergência entre os capitães de Congado de Uberaba. Saiu da Irmandade uma ala numerosa de grande prestígio, que foi fundar o Terno de Moçambique. Devido a essa preponderância os moçambiqueiros passaram a ser vanguardeiros na festa de 13 de Maio. 

O Moçambique é filho primogênito, superior a todas as guardas que estiverem presentes à festa de Nossa Senhora do Rosário, da qual a Fundação Cultural de Uberaba é a promotora. Todos podem carregar o andor da santa, mas o privilégio é dos moçambiqueiros, seguindo-se então pelos Ternos de Congadas.

“Todos se vestem iguais, com paletó, calça e sapato social. Para diferenciá-los uns dos outros, a regra é reparar na cor. Aqui em Uberaba, temos diversos grupos, como o Candiós, que se veste de vermelho e branco – para homenagear o Uberaba Sport Club -, o Terno Minas Brasil, que adota o verde e amarelo em referência ao Brasil, e outros que destacam o azul, o rosa e o branco, para glorificar a Nossa Senhora do Rosário. “Os moçambiqueiros usam chocalhos nas mãos e nos pés para cantar, também para Nossa Senhora do Rosário. A dança dramática, ao contrário do congo, é considerada religiosa”. Afirma. 

Sebastião Mapuaba, capitão de Terno de Congo e Zinego (Manoel Nazareth de Oliveira) que passou o bastão para José Emídio da Costa, capitão de Terno de Moçambique, se transformaram numa lenda na medida em que foram substituídos por Sinfrônio, Douglas, Cícero e Evaldo (Saruca). Foram-se os mestres, ficaram os exemplos. 

O Dia da Consciência Negra também é comemorado em Uberaba com muita música, dança e alegria no Centro Étnico Sebastião Mapuaba. O Batalhão do Norte Guaxupé, o grupo Bumba meu boi “Trancelim de São João” da Tenda Tambores de Minas, Casa na Cruzada de Xangô, com direção de Mãe Ana Lúcia de Benedito, participam com força e fé junto aos santos.

José Reinaldo Teixeira, criador do Terno de Moçambique “Zumbi dos Palmares”, incentivado pela sua mãe, Dona Dora, é, no depoimento de Cida Manzan, “um guerreiro, mantêm o Terno unido, com mais de 80 participantes, incluindo adultos, jovens e crianças. É uma aprendizagem constante na sua vida. Além de divulgar o trabalho do grupo, na região e no Estado, participa de todas as festas ligadas à cultura afro-brasileira de Uberaba. Canta com muita sabedoria para cada momento ou situação vivida pelo Terno.”


Os comunicadores 

Os comunicadores sempre tiveram um importante papel na manutenção das tradições folclóricas. O maior destaque foi a dupla Toninho e Marieta. Toninho, violeiro, compositor e cantador com sua mulher, Marieta, foi quem criou, a cerca de 60 anos, o Festival de Folia de Reis, hoje chamado de “Encontro de Folias”. Criou também na década de 1950, seis grupos de catira nos bairros da cidade. 

Toninho, além de compositor, violeiro e cantador, era Capitão de Folias e gravou dezenas de LP de músicas de sua própria autoria, no gênero sertanejo e de Folia de Reis. Seu filho, Edson Quirino de Souza, mais conhecido como Edinho deu continuidade ao pioneirismo de seus pais. Em muito contribuiu para a realização dos Festivais Folclóricos. 


Edson Quirino


Nico Trovador foi uma revelação no comando de seu programa na televisão, criando oportunidades para apresentações de Festivais de Viola, de Folias de Reis e de duplas sertanejas, de Uberaba e de todo o Brasil, em busca do sucesso. 


Nico Trovador 


Destaca-se também nesta área de apoio, o Jornal da Manhã que sempre teve suas portas abertas em apoio ao folclore e um dos maiores divulgadores de nossa cultura popular, representado pela sua diretora Lídia Prata Ciabotti. Foi através do Jornal da Manhã que os Suplementos Culturais sobre o Catira, foram editados. 

De igual forma, não se pode esquecer a atuação da ABCZ, através de seus diretores, que abriram espaço para a cultura popular com a criação do “Recanto do Folclore”, idealizado e mantido pela Associação Cultural Casa do Folclore na década de 1970. Um crédito especial para o diretor de eventos, Laerte Rodrigues Borges, um apaixonado pelo folclore e que, por sua atuação, grande parte dos programas festivos que ocorriam nos dias de exposição eram voltados para apresentação de grandes duplas de violeiros, propiciando que todos os amantes da música sertaneja tivessem um contato direto com seus ídolos. 

Os comandos das atrações folclóricas no “Recanto do Folclore” eram de Toninho e seu filho Edinho.  Neste espaço cultural desfilaram catira, folia de reis, congadas, moçambiques, violeiros e outras manifestações culturais. Posteriormente a Fundação Cultural, em parceria com nossa Associação Cultural, se integrou neste projeto, que durou cerca de 30 anos e que veio se transformar no decorrer dos anos, no “Show Regional”, sempre apresentado antes da atração principal. Foi de grande valia a parceria feita com o SESC nas pessoas de seus diretores Antônio Zélio e Izilda Ribeiro, casada com um dos mais tradicionais capitão de Folia de Reis, Adalto Ribeiro, símbolo desta tradição. 

Uma homenagem especial ao grande comunicador Ney Junqueira, proprietário da TV Uberaba que sempre abriu as portas da emissora para todas as manifestações culturais. Seu apoio foi decisivo e seu nome deve ser eternizado pelo tanto que trabalhou, graciosamente, pela nossa cultura. Por extensão, ao seu diretor Luiz Gonzaga de Oliveira, um apaixonado pela cultura popular.


Os folcloristas 

Louvem- se os folcloristas, pessoas que se dedicam à cultura popular, principalmente nas áreas de cantos e danças, pelo seu empenho em colaborar para não se perder as raízes culturais de uma cidade ou de uma região. Uberaba têm, em sua história, magníficos exemplos desta carinhosa dedicação de verdadeiros missionários da Cultura Popular. 


Edelweiss Teixeira  

Um dos grandes folcloristas que Minas Gerais já conheceu foi o Dr. Edelweiss Teixeira, nascido em 1909 na cidade de Pouso Alegre, MG e falecido em Uberaba em 2 de novembro de 1986. Viveu 35 anos em Belo Horizonte, tendo se formado como violinista, regente de Canto Orfeônico em 1929 e em Medicina em 1934. Em 1943 publicou seu primeiro trabalho como membro do Instituto Histórico de Minas, após 12 anos de pesquisa. Em 1962 ele cria a 1ª Semana do Folclore na Praça da Igreja Santa Rita e em 1963, o tema é “Pastorinhas”. Em 1964 é juiz de grupos de CATIRA na cidade de Barretos, SP. Em 1965 consegue o grande feito de estabelecer a nível estadual a “SEMANA DO FOLCLORE’. Viveu com muita intensidade, disseminando conhecimentos pois além de Professor, era Poeta, Historiador, Botânico, formado em Medicina, Odontologia, Música e Regência. Foi em Uberaba, um dos fundadores da Academia de Letras do Triângulo, ocupando a cadeira 32. Fundado em 1962 por Edelweiss Teixeira, o Instituto do Folclore do Brasil Central, em sua circular n. 01, de 1978, elege a diretoria composta por pessoas vinculadas ao Folclore, entre elas, Jorge Alberto Nabut, Iraides Madeira, Gilberto Rezende, Antonio Carlos Marques, Wiliam José Evangelista e Edson Quirino de Souza. Cabe a ele o resgate das Tradições Folclóricas do Triângulo Mineiro e despertou na comunidade o interesse pelas festivas. 


Edelweiss Teixeira


Erwin Pühler 

Fundador do Colégio Cristo Rei em Uberaba, MG, no qual era diretor e educador. Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, criador do ICEBRACO, apicultor e folclorista, Erwin deu grande contribuição para a difusão e divulgação de nosso Folclore, através de todos os meios de comunicação, Rádios, TV, Jornais, Revistas e Palestras em Entidades Culturais. Erwin participou ativamente de todas as manifestações culturais da comunidade e era um baluarte na defesa de nossas mais caras tradições. Participou de quase todos os Festivais de Folias, Viola e Catira, sempre tecendo comentários sobre a origem destas manifestações culturais. Erwin Pühler foi ativo conselheiro da Fundação Cultura e criador do Museu de História, implantado em prédio ao lado do Forum Melo Viana, na rua Lauro Borges, no governo de Wagner do Nascimento. 


Erwin Pühler


Iraídes Madeira 

Professora e folclorista, é um grande destaque no folclore em Uberaba. Por vários anos apresentou aos seus alunos o significado das folias de reis, fazendo com que participassem como integrantes do grupo. Fez o registro de centenas de apresentações de Folias de Reis e inúmeros cantores do nosso cancioneiro. Foi responsável pela vinda a Uberaba de diversos representantes de nossa cultura popular, entre outros, Roberto Corrêa e Elomar Figueira de Melo.  


Iraídes Madeira


Antônio Carlos Marques  

Foi outro grande Folclorista e pesquisador da cultura Afro. Em sua participação na Fundação Cultural, passou por diversos setores, entre eles, o de Conselheiro, Diretor do Circo do Povo, Diretor de Cultura e finalmente Presidente da Entidade no governo de Paulo Piau. Sempre foi uma referência em cultura afro-brasileira. 

Esta nossa parceria de 40 anos, assentada na amizade e no mesmo ideal, possibilitou a implantação de dezenas de projetos culturais voltados para a valorização de nossos artistas e resgate de nossas raízes culturais. A gravação em 1983 de um LP denominado “Cantos e Danças de Uberaba” com a participação de grupos de Catira, Folias de Reis, Congadas e Moçambiques, gravados na Casa do Folclore. Estes LPs foram adquiridos por nós da Fundação Cultural para distribuição entre a comunidade. A gravação em 1993 de 12 grupos de Folias de Reis realizado na Casa do Folclore para que Roberto Corrêa, compositor, violeiro e professor de viola, pudesse pautar a diversidade das cantorias de Reis, entre outras, “O Nascimento de Jesus”, “Visita ao Presépio”, “Anunciação” e “Viagem dos Reis Magos”, e editasse um livro de partituras para que no futuro se tomasse conhecimento de como eram entoadas as melodias das Companhias de Reis de Uberaba. Apoio na Escola de Catira pela qual passaram a Fátima Cury, Sinhô Borges e o inesquecível compositor, violeiro e cantador, Manoel Teles.


Lisete Resende  

Na atualidade, uma das grandes pesquisadoras de nossa cultura popular. Foi a autora do livro “Catira 450 Anos” editado após seis meses de pesquisa. Foi também responsável pela elaboração e aprovação dos grandes projetos canalizados para dois Festivais de Catira, dos encontros dos grupos de catira no Cine Teatro Vera Cruz, do jubileu dos Encontros de Folias de Reis, ocasião em que produziu um livreto sobre as origens e disseminação desta cultura no país, patrocinado pela Petrobras e a elaboração do projeto para apresentação da ópera Bodas de Fígaro, patrocinado pela Cemig. 


Lisete Resende


Maria Aparecida Manzan  

Mais conhecida como Cida Manzan, é historiadora e pesquisadora de cultura popular e história de Uberaba. Na presidência do Arquivo Público, participou de todos os movimentos culturais e nas edições de livros voltados para a cultura. Tem registro, por esforço particular, de centenas de grupos de folias de reis, de congadas e moçambiques. Sua participação na Fundação Cultural enriqueceu o acervo cultural de Uberaba. Há que se recordar do trabalho dos historiadores, Luiz Henrique Cellulare e Flávio Arduini Canassa, na edição do livro “Em Nome dos Santos Reis” que teve a coordenação de Sonia Maria Fontoura. Foi editado no governo do Prefeito Luiz Neto, através do Arquivo Público de Uberaba. 


Maria Aparecida Manzan


À estes dedicados amantes do Folclore que sempre ajudaram a promover, colaborar, incentivar e manter nossas manifestações folclóricas, tradições herdadas de nossos antepassados e que são nossas raízes culturais, a gratidão de toda uma comunidade.


Os apoiadores do folclore 

São integrantes do grupo de apoio ao nosso folclore os nomes de Marco Túlio Oliveira Reis que mantém o programa “Prosa Encantada”, Carlos Perez (Cacá Sankari), lutador pela manutenção do TEU, teatro onde sempre se apresentou grupos folclóricos, Beethoven Luis Teixeira, hoje residente em Peirópolis, idealizador do Circo do Povo, agente cultural, um dos participantes da criação da Fundação Cultural. Carlos Pedroso, escritor e pesquisador na área de folia de reis. 


Beethoven Luiz Teixeira 


Um destaque para o compositor, cantor, violeiro, parceiro de manifestações folclóricas de Folia de Reis e da cultura Afro, Marcelo Taynara. Estudioso das manifestações da cultura popular, dotado de uma bonita voz, chama a atenção pela peculiaridade de seus arranjos vocais. Um artista nato. 


Marcelo Taynara 


Destaca-se ainda o nome do "Patrão de Minas" poeta e responsável por grande parte das poesias de nossos intérpretes da música sertaneja. 

Grande atuação de apoio ao Folclore foi propiciada pelo Professor João Batista, e Maria Abadia Prata Barsan, Superintendentes Regionais de Educação do Estado de Minas Gerais, pela abertura das salas de aula das escolas municipais e estaduais onde a Associação da Casa do Folclore, através da colaboração de José Maria dos Reis, teve oportunidade de mostrar, por muitos anos, momentos de atuação de grupos folclóricos da cidade com a apresentação em vídeos de nosso acervo cultural. 

Ficará para sempre a lembrança da parceria da Câmara Municipal de Uberaba, gestão Luiz Dutra, com a Associação Casa do Folclore, intermediada pela jornalista, professora e diretora da TV Câmera, criada pela Câmara Municipal, Gê Alves. É ela a criadora também da vinheta do programa que tem como proposito, registrar as manifestações culturais e cuidar de sua difusão. 


Gê Alves


Merece um capítulo especial a participação de Nárcio Rodrigues, ex-deputado Federal, amante da cultura, poeta e grande incentivador do folclore. Graças à sua atuação que diversos projetos culturais, dependentes de verbas para sua conclusão, puderam ser apresentados ou editados, em decorrência de sua participação. Entre os projetos apoiados por Nárcio se insere a edição do livro “Poesias do Sertão” de autoria de Gilberto Rezende através das Oficinas de Artes Iara Lins, com apoio do Ministério da Cultura. 


José Reinaldo – Zumbi dos Palmares


Neném Violeiro


Fundação Cultural 

Criada em 1982, governo de Silvério Cartafina, secretário de educação, Antônio Bilharinho - primeiro presidente da entidade. A Fundação Cultural teve seus Estatutos elaborados por Gilberto Rezende e Edson Prata. 

O início efetivo de suas atividades se deu em 1983, governo de Wagner do Nascimento, 1983/1988, tendo como secretário da educação e presidente da Fundação Cultural, José Tomaz da Silva Sobrinho e, de 20/07/1988 a 20/12/1988, José Vandir de Oliveira. 

Nomeado primeiro diretor executivo, Jorge Alberto Nabut fez um trabalho excepcional de organização. É de sua iniciativa a criação do Arquivo Público. Fez também uma brilhante administração no Museu Sacro. 


Jorge Alberto Nabut 


A Fundação Cultural, instalada na rua Lauro Borges n. 28, teve como segundo diretor executivo Carlos Alberto Pereira, que manteve a mesma preocupação de incentivar a cultura popular através dos festivais de manifestações folclóricas, principalmente pela TV Uberaba. 


Carlos Alberto Pereira


Foi uma administração marcante, pois foi o período em que foram criados o Circo do Povo, os museus de Arte Sacra, MADA e de História e época de realização de 12 Festivais de viola e 08 Festivais de Folia de Reis.  

Por muitos anos o comando da Fundação Cultural foi do Conselho Deliberativo, cujos membros decidiam pelas áreas culturais onde poderiam ser alocados os recursos disponibilizados pelo Poder Público. 

De 1989 a 1992, governo de Hugo Rodrigues da Cunha, contou com dois secretários de educação, presidindo a Fundação Cultural: Maria Lúcia Cicci de Castro e João Batista. Como diretora executiva, da Fundação Cultural, foi nomeada Rosana Prata. 

A sede da Fundação, inicialmente na rua Lauro Borges, se transferiu para o casarão da Praça Rui Barbosa e novamente mudou de endereço para a Casa do Rosário, localizada no pátio da Igreja São Domingos. Os Festivais de Viola e de Folia de Reis continuaram nesta gestão. 

No governo de Luiz Neto, 1993/1996, foram criados os incentivos fiscais para estimular projetos voltados para a cultura, disponibilizando maiores recursos para a Fundação Cultural manter todo o seu programa de apoio a todas manifestações culturais. Foi a época de ouro dos projetos culturais. A Lei de Incentivos Fiscais, criadas com o nome de seu autor “Gilberto Caixeta”, foi uma bela contribuição para a expansão das manifestações culturais. Foi a época em que as mulheres assumiram a direção da Fundação Cultural na condição de presidente. A gestão iniciou com Lídia Prata, 16/03/1993 a 29/04/1994, sucedida por Maria Antonieta Borges, 01/07/1994 a 31/12/1996, tendo por coadjuvante, Virginia Abdala. 


Lídia Prata


Maria Antonieta Borges 


Virgínia Abdalla 


Marcos Montes, 1997/2004, deu continuidade aos trabalhos da Fundação Cultural através de seu presidente, José Tomás da Silva Sobrinho, 01/01/1997 a 31/05/2003 e sua vice, Olga Frange, destacando-se o apoio aos Festivais de Viola e apresentações de Folias de Reis. Já instalada em suas novas dependências na Univerdecidade, no último ano desta gestão, assumiu a presidência da Fundação Cultural, o acadêmico Mário Salvador, 1/03/2003ª 31/12/2004.  

No Governo de Anderson Adauto, 2005/2012, o primeiro presidente da Fundação Cultural foi Renato Muniz Barreto de Carvalho, 03/01/2005 a 18/02/2005, sucedido por Além-Mar Paranhos, 01/10/2005 a 01/02/2007, substituindo Suely Arantes, presidente interina, amante da cultura popular. Em seguida foi nomeado Luiz Gonzaga de Oliveira, de 01/02/2007 a 14/03/2009, sempre participante dos movimentos culturais da cidade. Também neste governo, atuou como Presidente da Fundação Cultural, Rodrigo Mateus, de 14/05/2009 a 18/04/2011, um dos mais ardorosos defensores da cultura. Para término do mandato do governo municipal, assumiu a presidência da Fundação Cultural, Fábio Maciotti, 19/04/2011 a 31/12/2011. 


Luiz Gonzaga 


Rodrigo Mateus 


A sede da Fundação foi transferida da Univerdecidade para a antiga residência de José Caetano Borges, localizada na rua Tristão de Castro e, após reforma, a Fundação voltou para a antiga sede da praça Rui Barbosa. 

Paulo Piau, em sua primeira gestão, 2013/2016, deu todo apoio à então presidente da Fundação Cultural, Sumayra Oliveira, de 02/01/2013 a 05/08/2016, responsável pela realização de dois festivais de Violas e a criação do Centro de Cultura. Foi um período de grandes e marcantes realizações na área do Folclore, Praça da Gameleira, Mercado Municipal, TEU, Cine Teatro Vera Cruz, foram palcos de grandes atrações folclóricas, graças ao interesse e a vocação cultural da presidente. Em 12/08/2016 até 15/06/2019, foi nomeado o folclorista Antônio Carlos Marques, pesquisador e professor que deu uma grande contribuição para manutenção e expansão dos grupos folclóricos de Uberaba. Ex-diretor da Fundação Cultural por longos anos, Antônio Carlos deixou saudades pela sua dedicação à cultura popular, principalmente as de origem afro. Foi parceiro por trinta anos da Associação Cultural Casa do Folclore. Foi substituído pelo vereador Ronaldo Amâncio, que procurou manter os programas culturais, limitados pela pandemia, tendo assumido em 06/08/2019, quando passou a administração para Jane Irene Basílio, 06/04/2020 a 03/10/20, e esta, por sua vez entregou o cargo para Marcelo Palis de Vasconcelos que ficou no cargo nos dois meses restantes do mandato. 


Sumayra Oliveira 


Atualmente, no governo de Elisa Araújo, está na presidência da Fundação Cultural, Cássio Facury, músico e administrador. Sendo um artista consagrado e conhecedor das dificuldades que enfrentam todos os que se dedicam à arte e à cultura, sua gestão traz grandes esperanças.


Casa do Folclore 

Sem falsa modéstia ressalto o papel nesse processo da Associação Cultural Casa do Folclore criada em 1972 sob o nome de Casa do Folclore, palco de centenas de apresentações artísticas e culturais nestes últimos 49 anos e que vem registrando, divulgando e contribuindo para a manutenção de uma das coisas mais bonitas de nossas vidas, que são representadas pelos grupos de folclore de Uberaba e região. 

A primeira gravação sobre o folclore de Uberaba foi realizada na Casa do Folclore, onde todas as manifestações foram contempladas. Com o nome de “Cantos e Danças”, a parte relativa à manifestação do Moçambique foi relatada por Antônio Carlos Marques. Coube a Edelweiss Teixeira a dissertação sobre o Congado. Erwin Puhler escreveu sobre as Folias de Reis e Gilberto Rezende, se manifestou sobre o Catira. Estes LPs foram distribuídos para todas as entidades de Uberaba e para todos os apaixonados pelo Folclore. 

A Casa do Folclore trouxe à Uberaba dezenas de grupos folclóricos, como o do Banzé e do Aruanda, centenas de artistas sertanejos de todo o pais, entre eles, Tião Carreiro e Pardinho, Almir Sater, Liu e Léo, Vieira e Vieirinha, Zico e Zeca, Milionário e Zé Rico, Pedro Bento e Zé da Estrada, dezenas de cancioneiros como Elomar Figueira de Melo, Dércio Marques, Zé Ramalho, além dos grupos vinculados ao Projeto Dandô de Kátya Teixeira. 

Também neste espaço foram realizados inúmeros festivais de viola, estabelecendo prêmios para seus participantes. Foi assim, nestes festivais, na Casa do Folclore ou na TV, que Uberaba mostrou inúmeras duplas de violeiros em que nada ficam devendo às duplas consagradas do país. 

As grandes estrelas nacionais da viola como Renato de Andrade, que sempre foi considerado o maior violeiro do mundo, nesta casa mostrou o seu valor, trazendo incentivos aos iniciantes da viola, e, em diversos anos que esteve presente, extasiou seus admiradores com a destreza que lhe era peculiar. De grande valor foi registrada a presença do compositor, cantor e também reconhecido como um dos maiores violeiros, Roberto Corrêa, que deixou sua marca em Uberaba ao pautar as melodias das Folias de Reis na Casa do Folclore e que se transformou em livro de repercussão nacional, por ser o primeiro nessa categoria. 


Roberto Corrêa


Nesta casa é que, em todos os anos, a partir da década de 1980, foram premiados os vencedores dos Festivais e Encontros de Folia de Reis, iniciados por Toninho da dupla “Toninho e Marieta”, valorizando os participantes pelo seu empenho e amor dedicados à manutenção do folclore e devoção dos Três Reis, transformando Uberaba na grande capital brasileira das Folias de Reis. 

Foram destaques, entre outras, as Companhias de Reis de Manoel Teles, Evaristo Torquato, Paulo Cury, Jorge Bernardes, Toninho e Marieta, Placa, Sebastião Mapuaba, Geraldo Silva, Labibe, Geraldo Pires, Adalto, Irmãos Silva, Estrela do Oriente e Divina Santa Estrela. 

Foi ainda na Casa do Folclore que se realizou os Festivais de Catira, mostrando para o Brasil que esta manifestação cultural está viva e difundida por todo o país. Com a presença de Inezita Barroso, Pena Branca e o grupo do Cerrado de Uberlândia, a Casa do Folclore foi palco para o lançamento do livro sobre moda caipira de José Hamilton Ribeiro, criador e apresentador do programa de TV, “Globo Rural”. 

Destacam-se os nomes de José Maria dos Reis (Alemão) e Luismar Guimarães pelos registros destes momentos e que hoje fazem parte do nosso acervo constituído das mais variadas manifestações culturais. O nome de Eustáquio Rocha faz parte também desta história pela sua participação em quase todos os eventos como narrador ou mestre de cerimônia.

Em página no facebook a Associação Cultural Casa do Folclore mantém o programa “Grupo da Difusão da Cultura” onde todas as manifestações culturais são divulgadas. No canal do youtube mantém a página “Coisa Nossa Uberaba”, divulgando a nossa cultura e os nossos artistas. 

Agosto é o mês do Folclore em que é comemorado dia 22. É, portanto, o mês dos folcloristas, dos pesquisadores, dos comunicadores, das entidades voltadas para o folclore, dos participantes dos grupos das manifestações de Catira, Folia de Reis, das Violas Caipiras, das Congadas, dos Moçambiques, entre outros, e de todos aqueles que tem amor pelas nossas tradições. 

Viva, pois, o nosso Folclore. Viva às nossas tradições. Viva a todos aqueles que contribuíram para realçar as manifestações de cultura popular de nossa gente. 



Gilberto Rezende 

Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, ex-conselheiro da Fundação Cultural de Uberaba e presidente da Associação Cultural Casa do Folclore.


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