Por Liana Marzinotto


Esta matéria é uma homenagem a um homem que ainda faz história! 

Um homem à frente de seu tempo, um desbravador, empreendedor – quando este termo ainda não era usual – precursor, humano e dono de uma risada inconfundível. 

Uma grande festa marcou seus 90 anos bem vividos, com homenagens e presença de inúmeros convidados, personalidades marcantes e amigos fiéis. 

Gilberto de Andrade Rezende não sossega! A cabeça sempre está sempre borbulhando com ideias A vida dele é sustentada no tripé composto por empresas, associações e cultura. Somente um ser humano visionário, bairrista e sensível, é capaz de doar tanto para o folclore – uma de suas grandes paixões – mantendo viva esta cultura. 

Ele compartilha a alegria de viver com a família: seis filhos, oito netos e sete bisnetos. 

Mesmo sem nenhuma formação acadêmica, acredita no trabalho como base de sustentação da sociedade. 

Nesta matéria consta a participação de Isabel Minaré, colega jornalista.



Liana Marzinotto – Sr. Gilberto, fale um pouco de sua atividade como empresário? Gilberto Rezende - Em Uberaba e possivelmente no mundo, acho difícil uma pessoa ter tido mais de 30 empresas, 100 sócios e 4 mil funcionários como eu tive. Dentre meus sócios, cito como exemplos, o ex-vice-presidente da República José de Alencar, o ex-prefeito Hugo Rodrigues da Cunha, os ex-presidentes da ACIU - Associação Comercial, Industrial de Uberaba - Léo Derenusson, José Miguel Árabe, assim como: Marcelo Palmério e Edson Prata. Sinto orgulho em nunca ter entrado em discórdia com nenhum deles, sou o típico pacificador. 


LM - Qual é a empresa de maior destaque? GR - A Triflora, primeira empresa de reflorestamento de Minas Gerais. Ela era composta por seis empresas correlatas como produtoras de mudas, plástico e captadoras. Através dela, cheguei a ser sócio da Shell e de Dilson Funaro, ex-ministro da Fazenda durante o governo de José Sarney. Outra empresa de muita relevância foi a Plastiminas, única a oferecer plástico para o reflorestamento. Todas as empresas, do Norte ao Sul do Brasil que usavam plástico no reflorestamento, eram minhas clientes.   


LM  Fazendo pesquisa sobre o senhor, me chamou a atenção seu amor pelo folclore. Conte-nos como começou a sua relação com as Folias de Reis. GR - Conheci a Folia de Reis ainda criança, aos cinco anos, quando morava na fazenda e é algo que me acompanha até hoje. É amor pela cultura raiz! Quando chegava dezembro, ouvia ao longe as batidas de tambor e ficava louco! À medida que crescia, tomava consciência da importância folclórica daqueles grupos. Comecei a registrar as apresentações em fotos e depois em filmes. No final de 1958, Toninho (da Marieta) estava montando um festival na antiga rádio PR-5 e me procurou em busca de brindes. Fiz a doação e, claro, fui junto para acompanhar! Antigamente, nós realizávamos festivais de Folias de Reis e quem conquistava o primeiro lugar era convidado a confraternizar na Casa do Folclore. Com o tempo, os festivais foram transformados em encontros, com sorteio de instrumentos musicais. Para a 50ª edição, consegui financiamento da Petrobrás, que também patrocinou dois festivais de Catira e estas alegrias somam 63 anos realizando com muito amor este trabalho. 


LM Quando teve contato com a Catira pela primeira vez? GR - Eu vi Catira pela primeira vez aos treze anos e achei interessantíssimo. É uma tradição com mais de 500 anos, onde a dança é a moldura do quadro, mas a essência é a poesia, é a expressão do homem do campo, que transformou aquele estilo de vida em música. Ficou muito poético! 


LM  Como grande parte da sua vida dedicada à cultura, deve ter um belo acervo. GR - Sim. Tenho um canal no Youtube chamado Associação Cultural Casa do Folclore, com quase 10 mil vídeos postados, 2,7 mil inscritos e mais de 700 mil visualizações. Também utilizo o Grupo de Difusão da Cultura, no Facebook, como espaço livre de compartilhamento. Em casa, tenho diversos materiais a serem postados. A luta continua porque o talento não tem fim! 


LM  É notório o quanto o folclore é importante para o senhor, visto pelo nome da casa de eventos, Casa do Folclore. Quando foi a data da fundação? GR - Criei a Casa do Folclore em 1973, onde comecei a fazer festas para estimular as pessoas a terem proximidade com a cultura. No início da década de 80, o empresário José Luiz Amaral (conhecido como Panetone), fez uma festa lá e trouxe a dupla Tião Carreiro e Pardinho. Depois disso, investi ainda mais no local, que passou a ser sede de milhares de espetáculos, festas de aniversários, casamentos, bodas, formaturas e se tornou um espaço de destaque para Uberaba e região. 


LM - Qual é a dimensão geográfica do espaço? GR - No começo, tinha 90 mil m² com estacionamento. Atualmente está com cerca de 40 mil m², três salões que abrigam 3 mil pessoas sentadas e se for em pé, a quantidade é mais que o dobro. 


LM  Posso dizer que o senhor é “uma caixinha de surpresas”. O seu respeito e admiração pela cultura, ultrapassa as origens do homem do campo e chega ao clássico. Tem como explicar? GR – Sim, tem sim. Num ato de extrema ousadia, trouxe para a nossa Uberaba a ópera Madame Butterfly, mundialmente famosa. Foi uma apresentação magnífica, realizada na Casa do Folclore. O elenco veio da Itália, a orquestra de Ribeirão Preto -SP, o coro foi todo de Uberaba, formado pelos corais com os mais competentes regentes: Olga Frange e Marly Gonçalves. Fui a única pessoa desta região a trazer uma ópera pra cá e me orgulho muito de poder dividir tantas belezas com as pessoas de nossa cidade.   


LM - O senhor foi pioneiro em muitos assuntos. Vamos lembrar algumas iniciativas. GR – Durante muitos anos realizei mais de 20 Festivais de Viola, dos quais fui jurado inúmeras vezes. Tinha uma dupla – Aymoré e Guarani – que cantava bem, mas não tocava o instrumento: a viola! Fui homenageado pelos cantores com uma música e entregue em um videocassete – o que havia de mais moderno em tecnologia na época (risos).  Na obra, chamada ‘O Rei do Folclore’, a letra dizia que não tocavam viola porque não tinham dinheiro para comprar o instrumento. Daí surgiu a ideia e criei a Escola de Viola dentro da Fundação Cultural de Uberaba – FCU. Ela leva o nome Gaspar Correia, como minha homenagem a um cantor falecido. Eu participei por seis anos participei do Lions e neste período trouxemos o comediante Ari Toledo, que se apresentou no Ginásio do Jockey. Com o Rotary, apresentamos o Tangorelo – danças de tango. 


LM  Longe de estar aposentado, a que o senhor se dedica hoje? GR - Sou conselheiro da Universidade de Uberaba – Uniube, do Centro das Indústrias do Vale do Rio Grande – Cigra e da Asssociação Comercial e Industrial de Uberaba – ACIU, onde estou há mais de 60 anos e considerada o meu grande amor. Sou membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro – ALTM, fui conselheiro da FCU, do Conselho de Patrimônio Histórico e Artístico de Uberaba – Conphau  e da Companhia Operacional de Desenvolvimento, Saneamento e Ações Urbanas – CODAU. Defendo muito o associativismo por acreditar que conseguimos fazer mais quando há união e luta de pessoas com os mesmos propósitos. 


LM – Sobre a vida, o que o senhor tem a dizer? GR – É preciso vivê-la!