Ricardo Almeida


A crise hídrica no Brasil tem se agravado significativamente nos últimos anos. Um estudo do MapBiomas, um projeto que tem o objetivo de contribuir para o entendimento da dinâmica do uso do solo no Brasil e em outros países tropicais, indicou que o Brasil perdeu aproximadamente 15,7% de superfície de água nas últimas três décadas. 

Isso mostra a ideia equivocada de que a água é um bem infinito, como culturalmente o assunto tem sido tratado. Intervenções no meio ambiente e mudanças climáticas são os principais fatores de impacto que reforçam sinais de escassez deste precioso recurso natural. Desaparecimento de nascentes e redução de água nos rios já são situações visíveis e dão sinal de que sociedade e governo precisam mudar comportamentos diante do problema. 



De acordo com a Agência Brasil, um mapeamento do Ministério do Meio Ambiente mostrou que as 12 regiões hidrográficas passam por desafios. A região Norte sofre com a expansão da geração de energia hidrelétrica; o Centro-Oeste com a expansão da fronteira agrícola; Sul e Nordeste enfrentam o déficit hídrico e a região Sudeste sofre com o problema da poluição. 

A gestão da água passa a ser a peça-chave desta crise hídrica, sobretudo nos períodos de estiagem. No entanto, outros fatores agravam ainda mais o cenário brasileiro, pois não se trata apenas de combater o mito da abundância ou os problemas instalados nas bacias hidrográficas, há também questões relacionadas ao sistema de abastecimento. 

A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) revelou que o sistema de abastecimento de água registra algo em torno de 37% de perdas e que mais de 35 milhões de brasileiros não têm acesso à agua tratada, além da ausência de tratamento de esgoto, que atinge 110 mil quilômetros dos rios com dejetos (Agência Brasil). 



Queimadas e desmatamento contribuem com a redução de chuvas na região Sudeste e, consequentemente, com o baixo nível dos reservatórios. Segundo o relatório do Operador Nacional de Sistema Elétrico (ONS), órgão responsável pela coordenação e controle da operação das instalações de geração e transmissão de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional (SIN) e pelo planejamento da operação dos sistemas isolados do país, sob a fiscalização e regulação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), todas as cinco regiões brasileiras apresentam seus reservatórios abaixo da média. Sudeste e Centro-Oeste são regiões que podem apresentar reserva de 25% da sua capacidade total. Isso faz com que o governo tenha que recorrer a outras fontes de geração de energia elétrica, pesando no bolso do consumidor final. 

De acordo a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico, o principal tipo de uso no país, em quantidade utilizada, é a irrigação (49,8%), seguido pelo abastecimento humano (24,3%), a indústria (9,7%), uso animal (8,4%), termelétricas (4,5%), abastecimento rural (1,6%) e a mineração (1,7%). O uso adequado da água deve ser cada vez mais ampliado por meio de estudos e também pela colaboração da sociedade. O mínimo que se espera de um bom planejamento dos recursos hídricos no Brasil é que haja inovação e eficácia na busca de prevenir e minimizar os problemas relacionados ao uso e acesso à água. 



Ricardo Almeida

Doutor em Ciência, Tecnologia e Sociedade. Mestre em Inovação Tecnológica. Especialista em Gestão de Pessoas e Negociação Coletiva. Atua nas áreas de Desenvolvimento Humano e Educação Ambiental. 


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