por Camilla Colenghi

 

É difícil conseguir uma fotografia em família. Tanto a fotografia quanto a história que ela conta. A fotografia por motivos óbvios. Marca com a fotógrafa, escolhe as roupas das crianças, convence as crianças a vestirem as roupas propriamente ditas. Entra todo mundo no carro.
Mas essa ainda é a parte fácil, as tais fotos de família.
Difícil mesmo é ser.
Dia após dia continuar sendo família.
Olha só, eu bem sei que há relacionamentos que precisam chegar ao fim. Se esse é o seu caso, as frases que lerá aqui não se encaixam no seu momento. E não há nada de errado nisso.
Agora, se você e o seu parceiro(a) seguem lutando para continuar juntos, talvez essas palavras cheguem na hora certa.
Às vezes ser família é contraditório. Você jura que vive infinitas emoções em um único dia (uma amiga acabou de me mandar mensagem dizendo que o filho cortou a própria boca com uma tesoura enquanto ela estava no telefone). Mas ao mesmo tempo ser família poder ser monótono. Incrivelmente monótono.
As mesmas pessoas, rotina, pedidos, planos e, cá entre nós, até as mesmas brigas.
As mesmas velhas histórias. A vida passa a ser, de certa forma, previsível.
Ser família é intimidade. É ter um lugar certo para pousar e repousar. Para se despir das armaduras que o lá fora exige de nós, e apenas ser. Em um mundo onde poucas pessoas se importam com você, mas muitos se importam com o que você é, fala e faz, poder simplesmente SER é uma das bençãos mais lindas e preciosas da vida.
Mas intimidade não é só alegria.
É compreender coisas que não são bonitas. É preguiça, cheiros, rostos, fraquezas, medos, inseguranças, erros.
Aliás, ser família é perdão. Receber e conceder. É dialogar quando o saco está tão cheio que a vontade é de mandar a merd…cúrio. É pedir a mesma coisa pela décima vez e escutar o mesmo pedido pela milésima. Porque ser família é ser imperfeito. No final das contas, é bom ter esse direito.
Ser família é lutar. Lutar pelo amor, pela conversa interrompida inúmeras vezes, pela organização, por grana, por planos que deram certo e pelos tantos imprevistos que cruzamos na jornada.
Sabe, eu fico pensando em tudo o que já vivemos nos mais ou menos 14 anos em que cada um de nós também se tornou “a gente.”
A gente vai dar um jeito.
A gente vai conseguir.
E as diversas variações dessa sentença.
A gente segue aqui.
E de todas as muitas versões de mim mesma, “a gente” é a que mais exige de mim. É a que mais me dá em troca. “A gente” é a mais difícil e a que mais agradeço por ter.