Jornalista Helena Cunha


A banda Black Pantera é, hoje, um dos maiores nomes do metal nacional trazendo à cena um som poderoso que combina elementos do thrash metal, hardcore punk e crossover thrash, com letras impactantes que falam sobre racismo, preconceito e questões sociais. Surgida em Uberaba, no Triângulo Mineiro, a banda é formada pelos irmãos Charles Gama (guitarra e vocal) e Chaene da Gama (baixo e vocal) e Rodrigo "Pancho" Augusto (bateria). Desde o início, a banda mostrou que sua música é mais que entretenimento, é um grito por justiça e representatividade. 

Fundada em 2014, a trajetória da banda é marcada por um posicionamento firme antirracista, de mensagens que ecoam a voz da resistência negra. Em uma cena musical onde as questões raciais nem sempre recebem a devida atenção, a Black Pantera rompeu barreiras e trouxe para o heavy metal brasileiro uma temática social essencial. Inspirados por lendas do rock e do metal, como Sepultura, os integrantes da Black Pantera sempre foram motivados pela ideia de que a música, independente do estilo, também pode ser uma ferramenta de transformação.


Uma Mensagem Necessária


Com letras fortes e o primeiro álbum “Project Black Pantera” lançado em 2015, não demorou muito para a banda ganhar notoriedade. Em 2016 veio o convite para se apresentar em um festival internacional, o primeiro de muitos. Sem perder a humildade, em entrevista para a revista Mulheres, o baixista Chaene da Gama fez questão de ressaltar que a participação no festival Afropunk, em Paris, foi possível através dos amigos, familiares e fãs, que realizaram uma campanha de financiamento coletivo para cobrir as despesas da viagem internacional. 

A presença no festival francês rendeu outros convites, como a apresentação no Download Festival, um festival de rock britânico, que acontece anualmente no Donington Park, em Leicestershire na Inglaterra desde 2003. Lá, tiveram a oportunidade de tocarem ao lado de grandes nomes como Green Day e Linkin Park. 

Em 2018, lançaram o segundo disco, Agressão. Foi a partir daí que fizeram mais uma viagem internacional. Segundo Chaene, tocaram em palcos de Nova Iorque, Filadélfia e Chicago. E só em 2019 passaram a se apresentar mais no Brasil. “Foi preciso sair do país três vezes para poderem tocar mais no Brasil.” O reconhecimento deste trabalho musical de qualidade chegou e a banda assinou o contrato com a gravadora DeckDisc, a mesma de Alceu Valença, Nando Reis, Pitty, NX Zero, entre outros. 


Com a pandemia e a paralisação das atividades mundo afora, alguns planos da banda tiveram que ser adiados. Mas, assim que a normalidade voltou, os músicos retornaram aos palcos com um novo álbum, Ascenção (2022). A banda Black Pantera estourou de uma vez. Chaene afirma que as portas foram abertas para grandes festivais nacionais. 

Em 2022, o grupo foi anunciado como uma das bandas a se apresentarem no Palco Sunset do Rock in Rio “O convite havia sido feito em 2020, mas não pudemos anunciar a participação por conta do contrato que exigia confidencialidade”, comenta. Também se apresentou na primeira edição do Knotfest Brasil, que contou com 45 mil pessoas e a participação de nada mais, nada menos que Sepultura e Slipknot.  Para encerrar o ao com chave de ouro, a banda foi indicada ao Prêmio Multishow, na categoria "Grupo do Ano". Definitivamente 2022 foi o ano que consolidou o Black Pantera como uma das grandes bandas de rock da atualidade.

Ainda com a turnê do álbum Ascenção, em março de 2023, o grupo se apresentou no Lollapalooza Brasil e no João Rock, festival realizado em Ribeirão Preto, que naquele ano realizou sua 20ª edição. Além desses grandes eventos, os músicos ainda percorreram Argentina, Chile e Colômbia. 

Em maio deste ano, os músicos se reuniram para gravar o novo álbum Perpétuo. O disco afro-latino mantém a essência e resgata a ancestralidade da banda. Segundo Chaene, O som continua sendo um crossover de rock, punk, hardcore, funk e metal, mas trouxe um pouco mais de brasilidade, músicas mais melodiosas, ampliando os horizontes da banda. 

E parece que eles acertaram em cheio. No início de dezembro, a revista Rolling Stone Brasil divulgou a lista dos dez melhores álbuns nacionais de 2024 e o álbum Perpétuo ficou em 2º lugar no ranking. A banda ainda foi indicada à categoria Rock do Ano no Prêmio Multishow 2024, com as músicas "Perpétuo" e "Tradução”, concorrendo com artistas como Cazuza, que teve uma música lançada a partir de uma poesia cedida pela mãe. 

Para 2025, o grupo se prepara para novos shows, alguns já agendados, mas que ainda devem ser mantidos em sigilo. Também se preparam para eventos no exterior. A intenção é focar na carreira internacional.



Desafios e Conquistas

 

O Black Pantera é, sem dúvida, um símbolo de resistência e um lembrete de que o rock e o metal também são para todos. Suas letras cheias de coragem e verdade, seguem quebrando barreiras e fortalecendo o movimento por igualdade. Se o objetivo era ser ouvido e fazer a diferença, eles estão alcançando isso com maestria, levando o nome de Uberaba para o mundo e mostrando que a luta contra o racismo pode, e deve, estar presente em todos os espaços – inclusive nos palcos do heavy metal. 

Chaene deixa claro no final da entrevista que são filhos de Uberaba. “Nossas famílias estão aqui, nunca quisemos sair de Uberaba, gostamos de tocar fora e voltar. Sempre estamos andando pelos bairros Elza Amuí, Abadia, Leblon e São Benedito. Nossos pais ainda moram nas casas onde crescemos. É um orgulho imenso fazer parte dessa banda e seguimos gratos e com a cabeça firme no nosso propósito.”