Por Gilberto Rezende


Uma história inacreditável me foi contada em janeiro de 1965 por um viajante japonês, vendedor de botinas e chapéus, chamado Silvio Inouê.  Disse-me que foi lavrador em Jubaí, distrito de Conquista, onde ficou até a maioridade e que, já tendo cursado até a 4ª. série do primário, mudou-se para Uberaba com sua mãe.  

Na cidade, sua primeira função foi a de alfaiate, até que foi convidado para trabalhar na fábrica de balas Thori, de Thoraichi Hori, onde, em alguns anos adquiriu os segredos do ofício, suficientes para tentar alçar voos para novos horizontes. 

De industriário, sonhava em se tornar um industrial. Para concretizar seus sonhos, fez uma sociedade com seu sogro, Noce Kausite, que vendeu sua chácara para formar o primeiro capital e assim, criar uma empresa. Juntando- se aos seus cunhados José Nouce (Tim) e Wilson Noce (Nenê), criou, na década de 1950, a “Fábrica de Balas Sol Nascente”, à rua Frutal, bairro de São Benedito. 

Começo duro de qualquer empresário que, sem dinheiro, luta pelo seu ideal com muita determinação. Logo, um escritório foi construído de tábuas, com o apoio da sobrinha Yumi Scava, que ficava no controle. Os sócios se revezavam na vigilância noturna, pois não tinham recursos para contratação de terceiros.

De ônibus já que não tinha carro, Silvio ia semanalmente para São Paulo comprar matéria prima para sua tão sonhada fábrica. O dinheiro só deu para comprar uma máquina de fabricar balas macias, por isso a produção era embrulhada manualmente, exigindo de início, 40 funcionários para essa função. Logo após, com o sucesso das vendas, o número passou para 60 funcionários que trabalhavam em uma residência particular na Vila Santa Maria, cuja proprietária, comissionada, era encarregada de recrutar os interessados. 

Apesar de saber controlar todas as etapas de produção, tinha dificuldades na administração, motivo pelo qual vendera a incipiente indústria para um senhor de nome Abrão, que deu continuidade na produção. Estava, todavia, desolado pois viu, no decorrer dos anos, que não se adaptava à condição de vendedor. 

O motivo de sua visita à minha residência era me propor uma sociedade destinada a implantar uma nova fábrica de balas doces, da qual ele e seus cunhados cuidariam da produção e venda e competiria a mim, a administração geral.

Um casamento da expertise com a coragem, pois nenhum dos dois tinha capital suficiente para esta empreitada. Sílvio era humilde. Sua maneira de falar transmitia sinceridade e seu ímpeto mostrava uma pessoa de espírito arrojado. Não iria deixar de “montar um cavalo arreado que passava na porta”. 

Foi assim que nasceu a Indústria Alimentícia Oriente S/A, em uma casa alugada na rua Juiz de Fora e que, um ano após, já estava em sede própria em imóvel, antiga máquina de arroz, adquirido de Nagib Barroso, na rua Ituiutaba. De imediato foi recomprada a antiga fábrica “Sol Nascente” para ser incorporada na nova empresa. No firme e competente comando de Silvio Inouê, comecei a conhecer os sobrenomes dos futuros integrantes na empresa, Nakamura, Kazeoka, Uramoto e muitos outros vendedores, conhecedores do ramo, facilitando a abertura de novos mercados em vários estados brasileiros. 

Em qualquer ramo de negócios, obstáculos fazem parte do cardápio das empresas. No primeiro ano, um grande prejuízo com um revendedor de Goiânia que requereu falência, não esmoreceu a ânsia de luta do Silvio para ocupar o seu lugar ao sol. 

Empresário deveria ter uma designação mais completa. Não basta ser um industrial, comerciante, prestador serviços ou produtor rural. Mesmo que tenha recursos, mesmo que conheça o mercado, que tenha preparo para projetar, investir, produzir, comprar ou vender, precisa estar preparado para surpresas desagradáveis como as falências de clientes, concorrentes desleais, rodovias intrafegáveis, carteiras bancárias que se fecham, adversidades climáticas e, principalmente, ingerência governamental. 

O empresário precisa ser dotado de outras virtudes que não se aprendem nas faculdades e sim, com o tempo, na escola da vida, como: a paciência, perseverança, esperança, confiança, ousadia, expertise, tolerância e, muitas vezes, resignação. Foi assim com o início da Fábrica de Balas Oriente. Porém, superadas as dificuldades, o caminho da expansão exigia novos equipamentos. Não foi difícil conseguir financiamento junto ao BDMG. Em projeto do arquiteto Germano Gultzgoff, a Oriente inaugurou na Avenida da Saudade, suas novas e modernas instalações. 

A fábrica, por muitos anos, chegou a produzir 200.000 quilos de balas por mês. Um fator curioso. Para o nordeste, a produção ia embalada em latas de 10 quilos. Estas embalagens eram utilizadas naquela região para reserva de água ou guarda de alimentos. Com a ampliação da fábrica, a empresa passou a ser também distribuidora de açúcar. Todavia, em 10 de abril de 1969, ao explodir uma fábrica de fogos de artifícios junto ao bar do Antero, no bairro Estados Unidos, também foram queimadas centenas de sacas de açúcar de nosso revendedor que morava ao lado. Foi o segundo grande prejuízo ocorrido, fato que obrigou a empresa a desativar este setor. 

Com todos os ttranstornos possíveis, entre eles, os nebulosos planos de verão de 1987 e 1989, bem como a estapafúrdia decisão de Collor em 1990, de confiscar a poupança, a fábrica se manteve de pé atendendo a demanda do mercado, que consumia toda sua produção. 

Enquanto Silvio Inouê era o único a gerenciar a produção e vendas, diversos nomes deixaram suas marcas na administração, entre eles, Armando Guimarães Rezende, Wilson Pinheiro, João Carlos Rodrigues da Cunha Sepulveda, Walter Bruce, Luiz Ricardo e Carlos Roberto Resende. 

Entre seu quadro de acionistas da Oriente, constava os nomes de Joaquim dos Santos Martins, Gilberto Rezende, Silvio Inouê, José Elias e Ronan Tito de Almeida. 

A Oriente, por muitos anos, figurava entre os dez grandes contribuintes do ICMS na cidade, merecendo destaque na imprensa. Silvio Inouê, de espírito associativista, participou de quase todas as feiras industriais comandadas pela Assídua de Tião Silva ou das que foram programadas pela ACIU-Associação Comercial e Industrial de Uberaba, no Parque Fernando Costa. 

Em reconhecimento ao seu trabalho, foi indicado no ano de 1976, pela diretoria da ACIU na gestão de Wilson Pinheiro e pelo parceiro Jornal da Manhã, para receber o título de “Industrial do Ano”. 

A solenidade para entrega deste título para Silvio Inouê, ocorreu na sede da ACIU com a presença de todos os diretores, do prefeito Hugo Rodrigues da Cunha, dos familiares, amigos, funcionários e de seus admiradores. Logo após, o homenageado foi para Belo Horizonte para receber a Medalha do Mérito Industrial das mãos do presidente da FIEMG – Federação das Indústrias de Minas Gerais, em Belo Horizonte, em mais uma concorrida solenidade.

 Um atestado à um homem vitorioso, de origem humilde, de pouca instrução escolar, criado na zona rural, que conseguiu, pelos seus próprios méritos, se transformar em um grande empresário, reconhecido pelos seus pares e pela comunidade. Foi, por mais de trinta anos, o líder inconteste das Indústrias Alimentícias Oriente, onde criou possibilidade de trabalho, direta e indiretamente, para mais de 200 famílias. 

Nascido em Jubaí, MG no dia 19 de outubro de 1927, Silvio Inouê e seus irmãos Protasio e Helena eram filhos de Denkite Inouê e Kiky Inouê. Silvio faleceu em 21 de julho de 1999, aos 72 anos e deixou viúva a senhora Namy Kausiti Inouê, dois filhos, Neusa e Edson e seis netos, Carla, Leonardo, Layla, Liege, Thais e Thamiris. 

Deixou também exemplos de trabalho, de tenacidade e de espirito empresarial, onde mostrou sua garra ao enfrentar todas as adversidades, sem esmorecimentos. Um verdadeiro Samurai, imagem de um nobre guerreiro das terras de seus ancestrais que trouxe muito orgulho para a comunidade que o acolheu. Deixou imensas saudades para seus familiares, amigos, parceiros e companheiros de luta.


Fontes – Neusa Inouê (filha), José Rubens Alves Rios (genro), Yumi Icava (sobrinha), Luzia Sales (funcionária), Thamiris Nouê Rios (neta)

Silvio Inouê entre técnicos e funcionários da Fábrica de Balas Sol Nascente


Silvio Inouê recebendo o título “Industrial do Ano” – pela ACIU em 1976, ladeado pelo presidente Wilson Pinheiro e prefeito Hugo Rodrigues da Cunha


Silvio e sua família na ACIU - Evento Industrial do Ano 1976


Sílvio Inouê com a esposa Namy no casamento da filha Neusa Inouê com José Rubens Alves Rios acompanhado de seus pais Genária Alves Benfica e João Benfica Rios


A viúva Namy ladeada pelas netas Thais, Layla, Carla, Liege, Thamiris, o filho Edson, sua esposa Maria de Lourdes e a filhinha Mayuri


Silvio Inouê com as netas Thamiris e Thais