Por Camilla Colenghi


Tudo é bagagem que guardamos na mochila e usamos quilômetros à frente, em situações que hoje não imaginamos.

Se tem uma coisa certa deste ano incerto é que não foi em vão. 

Nem os menores dos ensinamentos. 

As pequenas coisas que eram de fato pequenas. Mas vistas por lentes de intolerância e impaciência. 

Assim aprendemos. 

Percebemos que a solidão machuca. E quatro paredes também. 

Vimos que é preciso uma relação respeitosa com o medo. Pois em excesso, cria novas questões e aumenta velhas angústias. 

Mas um pouco é necessário. 

Até́ para enxergarmos o milagre que é estarmos aqui, vivos. 

Descobrimos que dois metros é muito, realmente bastante quando se trata de convivência. 

E que estar perto é bom, até́ na fila do mercado. Ter gente ao lado não é garantido. É privilégio, dos grandes. 

Aprendemos que criar filhos a sós triplica a dificuldade natural da frase “criar filhos”. E que crianças incomodadas, certamente incomodam. 

Que não ter os desafios que vêm da rua pode ser tão complexo quanto tê-lós. E que é difícil não ter para onde olhar, se não para dentro. 

Tiveram aqueles que não gostaram do que viram e, por isso, atacaram. 

E seguem atacando. E não se dão conta. 

Tarefa árdua constatar que poucas são as certezas do lado de fora. 

Trabalho, circunstâncias, pessoas, dinheiro. 

Tudo é instável, por mais bem fantasiado de eterno que tente ser. 

Dentro é o único lugar possível de controlar. Não importa as variáveis e os desvios. 

Só́ que mais do que histórias, adaptações, alegrias ou imensa tristeza, virou bagagem. 

Fica pra gente a chance de usar no futuro aquilo que agora carregamos nas costas.