Por Camilla Colenghi


É tão fácil pegar a nossa (tremenda) dificuldade em implementar planos, objetivos e metas e transformá-la em conflitos com outras pessoas. 

Se sei que deveria me alimentar melhor, ser mais organizada, ou ter mais paciência com um filho, mas não encontro motivação e persistência para isso, é muito mais gostosinho culpar o parceiro, o filho, a colega, o porteiro e mercúrio retrógrado.

Pode reparar.

Grande parte dos problemas de relacionamento do dia a dia acontecem quando arrastamos (ou somos arrastadas) aqueles que estão a nossa volta para dentro do nosso redemoinho de frustrações.

É com uma satisfação imensa que transferimos o peso da autorresponsabilidade para ombros alheios.

São os gritos que escondem uma promessa pessoal que foi (mais uma vez) quebrada.

É a resposta atravessada para cobrir momentaneamente o buraco de uma falta de propósito, que lateja.

O dedo apontado que tira a atenção dos nossos machucados não cuidados.

É o bater a porta, a fofoca, a sobrancelha franzida, o digitar apressado no teclado do telefone.

Quantos formatos diferentes a falta de nos conhecermos melhor pode ter?

Quantas vezes, se nos sentássemos ao lado da raiva por tempo o suficiente, descobriríamos que o nome dela é, na verdade, desequilíbrio? Vazio. Falta de uma parte importante, que pede para ser preenchida.

Somos seres inteligentes, capazes de resolver situações complicadas. Mas ficamos atoladas na nossa bagagem, no ego, e em sentimentos em volta do dilema. A solução do problema em si raramente é o problema.

Por isso a mudança nasce na gente. Comece por você.

Sempre comece por você.

Não há, neste mundo, ato mais revolucionário, prova de amor ou ativismo mais impactante que um adulto que enfia o rabo (e os gritos) entre as pernas e olha pra si.

E que toma consciência para lidar com as próprias questões com a gentileza, responsabilidade e a coragem que a vida pede.