“O que somos ensina mais a uma criança do que o que dizemos, portanto precisamos ser o que queremos que nossos filhos se tornem”. Joseph Chilton Pearce


Mais um ano juntos! Que bom poder trocar tanta experiência sobre o que consideramos nosso maior desafio, a criação dos nossos filhos. Antes de ser uma estudiosa na criação de filhos, sou uma mãe envolvida, muitas vezes imperfeita; uma pesquisadora apaixonada pela adolescência e juventude. Sou uma aventureira em muitos assuntos que me desafiam na busca do conhecimento. E assim, como para muitos de vocês, criar filhos é, de longe, minha aventura mais intrépida.

Queria nesta primeira edição de 2020 começar conversando sobre Educação Fundamental e a implicação na educação geral desses seres tão especiais. “Educação Fundamental é a ciência que nos permite descobrir nossa relação com os seres humanos, com a natureza e com todas as coisas”. Samuel Aun Weor. E é isso que iremos explorar neste texto, formas de educar nossos filhos, a partir de nosso comportamento, que possam ajudá-los a lidarem com suas experiências e seus aprendizados de maneira menos estressante, mais criativa, espontânea e sem medo.

Educar filhos infelizmente pode despertar em nós sentimentos que vão da frustração ao terror. A necessidade de precisão que nos cobramos em um terreno incerto como este, deixa claro como as fórmulas para a criação de filhos são, ao mesmo tempo, sedutoras e perigosas. Procuramos por modelos, respostas prontas e, quando achamos que as encontramos, começamos a nos questionar e nos tornamos críticos de nós mesmos. Em outras ocasiões, seguros de nossas condutas, rotulamos e julgamos arbitrariamente outras alternativas de educar. Desconsideramos a individualidade de cada família, de cada filho. Supervalorizamos os problemas alheios e nos esquecemos de que estamos no mesmo barco que flutua em dúvidas, erros e acertos.

Para nós ocidentais, a educação começa aos seis anos, quando supomos que inicia o uso da razão e o despertar para o aprendizado de saberes externos que, acreditamos, nos levará ao sucesso como cidadãos. Para os orientais, principalmente os hindus, a educação tem início já na gestação. É crença na cultura hindu que tudo o que a mãe tiver de positivo repercutirá no seu feto, fortalecendo-o e impregnando-o com todas as qualidade e valores que a família considera como importantes. Para os gnósticos, a educação tem início já no namoro dos futuros pais, antes mesmo de haver a concepção da criança.

Mais importante do que fórmulas e teorias de educação são os exemplos que nós, como pais, damos cotidianamente para os nossos filhos. Nós pais, somos os verdadeiros educadores, porque mais do que qualquer outro professor, nosso objetivo maior é ajudar nossos filhos a atingirem o estágio de mestres na vida adulta. Mestres de suas próprias vidas. Hoje temos plena consciência de que o que aprendemos sobre nós mesmos e a forma como aprendemos a nos relacionar com o mundo foi vivenciado primeiramente em nossas famílias, durante a infância e a adolescência.



Na escola, ao examinarmos os livros didáticos tradicionais, constatamos que muitas vezes estes livros não dão aos jovens a oportunidade de questionamento ou experimentação. Percebemos uma educação materialista que coloca os nossos filhos frente a frente com muitas informações, regras, cálculos, fórmulas que devem ser decoradas em uma memória que muitas vezes é infiel. Porém, da vida que devemos viver, nada aprendem. Discutir a educação na escola vai ficar para outra oportunidade. Vamos focar em preparar nossos filhos para esse modelo posto, que, essencialmente, é o que está ao nosso alcance, estimulando-os a deixarem de ser autômatos e a aprenderem a viver a vida.

Podemos ajudar nossos filhos, em família e na escola, a despertarem a consciência para que pensem por si mesmos e tenham a liberdade de discordar de forma sadia e construtiva todas as teorias e verdades que estão surgindo e muitas outras que já estão postas. Eles precisam ser estimulados a perderem o medo para que possam ter livre iniciativa, ação espontânea e criadora. Precisam aprender a criar, a pensar e a sentir livremente. Precisam saber exercer controle sobre a quantidade e a qualidade das informações que querem ou devem assimilar. O cérebro estará disposto a assimilar o que perceber como significante e gratificante. Todas as situações vividas, os aprendizados, todos os ambientes compartilhados por nossos filhos ajudam na formação de sua personalidade. Precisamos respeitar a individualidade e livre arbítrio de cada um, para que a educação aconteça através de descobertas que sejam experimentadas de forma sadia. E nessa empreitada, nosso exemplo é fundamental! Precisamos sempre nos questionar: somos o adulto que desejamos que nossos filhos se tornem? Acolhemos com respeito as nossas vulnerabilidades?



A vulnerabilidade determina nossos momentos de alegria, tristeza, vergonha, decepção, aceitação, gratidão e criatividade, ela é o centro da história familiar. A vulnerabilidade nos dá a oportunidade de conversarmos sobre nossas fraquezas e, em família, buscar as soluções. Desejamos que nossos filhos se tornem pessoas que acolham e reconheçam suas vulnerabilidades. Que aceitem suas imperfeições e que não tenham medo de passar vergonha, de serem preteridos por valorizarem sua individualidade. Essas são situações que fazem parte do processo de amadurecimento. Para que a educação de nossos filhos ocorra de forma natural, como pais, somos convocados a reconhecer que não podemos dar aos filhos o que não temos e que, portanto, devemos deixá-los participar de nossa jornada para crescerem e aprenderem juntos o valor de cada esforço.

Nossos filhos vão começar a exercer uma função no mundo. Se quisermos que eles se amem e se aceitem como são, nossa tarefa é amar e nos aceitar como nós somos. Não podemos nos entregar ao medo, à vergonha, à culpa e ao julgamento em nossa própria vida se quisermos educar nossos filhos para serem corajosos e viverem relações saudáveis e verdadeiras. Relembrando a frase do nosso título, escrita por Joseph Chilton Pearce, estudioso do desenvolvimento humano e infantil: “O que somos ensina mais a uma criança do que o que dizemos, portanto precisamos ser o que queremos que nossos filhos se tornem”.

Que nossos filhos saibam viver neste mundo de mudanças rápidas com coragem e flexibilidade.

É possível!



Inspirado nos livros: Educação Fundamental – Samuel Aun Weor e A coragem de ser imperfeito - Brené Brown