Márcia Pereira

Especialista em Teen, Life e Professional Coaching. Escritora de textos motivacionais, de liderança e comportamento para a página Coaching e Champanhe for Woman, de Portugal, para o Portal R2S e para a revista da Sociedade Latino Americana de Coaching.




Confesso que fui resistente, até esse momento, em escrever sobre os efeitos do isolamento na vida dos nossos adolescentes e jovens, faixa etária que eu acompanho bem de perto.

Se muitos de nós, adultos, estamos travando uma batalha contra a ansiedade, o nervosismo, a falta de paciência e as incertezas desse momento, imagina como estão os nossos jovens?! Além do turbilhão causado pelos efeitos hormonais comuns da idade, eles ainda mudaram a forma de se relacionar com a família, a sociedade e a sexualidade. O distanciamento familiar, próprio da idade, foi substituído pela presença constante dos pais. Fazer parte de um grupo social, mesmo que fosse apenas o da escola, era importante para eles. E como ajudá-los a lidar com esse momento? Como aliviar a inquietação nesse período? Primeiro a nossa presença como pais, atentos às dificuldades pelas quais eles estão passando é primordial. Acolher a dor e o sofrimento, não menosprezar os sentimentos. Eles às vezes expressam suas angústias de algumas formas que chegam a nos assustar.

A ansiedade é o sentimento mais comum nesse período e ela pode aparecer de diversas formas, trazendo frustração, cansaço, raiva, excesso de alimentação ou falta de vontade de alimentar ou cuidar do corpo. É importante estarmos atentos. Precisamos gerar um senso de pertencimento à família. Manter um canal de diálogo aberto, amoroso e respeitoso. Somente através da interação é que será possível auxiliá-los a entender o momento e estimulá-los a conduzirem seus projetos, seus relacionamentos, fazerem escolhas de maneira mais consciente e saudável. Podemos, nesse momento, ajudá-los a encontrar formas de interagirem com seus amigos, mesmo que à distância.



Essa semana ouvi de um adolescente que ele e os amigos se reuniram em uma plataforma online e fizeram um amigo-oculto. O presente era um lanche, com uma mensagem, que seria a pista para o amigo. A frase poderia ser algo que se referisse ao que ele gostasse de fazer, uma história vivida pelos dois, um segredo, uma música preferida. Cada um tirou um amigo e combinaram um dia da semana para a entrega do lanche por um entregador. No dia marcado voltariam a se encontrar online e revelariam o amigo. Achei superinteressante!

Outra coisa que devemos estar atentos é a permanência por longas horas na internet ou nos dispositivos pessoais. Os adolescentes não devem ser simplesmente receptores de informação, é importante incentivarmos que eles explorem as mídias apresentando também algum conteúdo, por exemplo, gravando a explicação de alguma matéria para compartilhar com os amigos. Quem sabe aprender novos recursos através de cursos online? Existem muitas instituições oferecendo cursos gratuitos.

Uma mãe contou-me que a filha, de treze anos, está escrevendo um livro sobre esse período. Toda essa vivência vai ficar marcada em nós e foi dessa forma que essa adolescente encontrou para deixar registrado suas dúvidas, seus projetos, seus sonhos. O livro vai ser vendido na Amazon.

É claro que tudo isso precisa ser acompanhado por nós pais. Sabemos que a internet traz muita informação, facilidades, mas também alguns inconvenientes e até perigos. Por isso nossa atenção.

Nesse isolamento, nossos jovens estão colocando à prova a resiliência, algo novo para eles. Estão conhecendo e vivenciando alguns limites, algumas restrições. Quantas festas canceladas, quantos encontros desmarcados, quantas incertezas depois de mais de cem dias confinados.



Uma adolescente que eu acompanho, em um dos nossos encontros online, desabafou "Será que vou conseguir chegar à fase adulta, terminar meus estudos, me formar? Isso parece não ter fim! Fico pensando o que mais eu posso fazer pra isso tudo se resolver". São tantas perguntas, muitas dúvidas e poucas respostas por enquanto. Esse período de instabilidade gera estresse e sentir medo e insegurança é normal. É importante dar vazão a esses sentimentos e sensações. É válido chorar, conversar com amigos, escrever, pedir ajuda.

É importante que nós adultos, pais, responsáveis, conversemos com nossos adolescentes, sobre tudo que está acontecendo. Devemos refletir com eles que limites e dificuldades ajudam no desenvolvimento de todos. E que o mais importante é que eles aproveitem esse tempo da melhor forma possível, para estar preparados para uma retomada da vida com o mundo externo. Vamos estar sempre por perto, prontos para acolhê-los.

Devemos estimular, também, a participação e o engajamento dos adolescentes. Esse engajamento ajuda na construção da autorresponsabilidade, na empatia, na gentileza e isso significa fazer a diferença nesse momento. Podemos incentivá-los a se engajarem em movimentos que promovam atos solidários ajudando idosos, creches, asilos. Tantos trabalhos voluntários precisando de apoio e a colaboração da sociedade. Os efeitos do isolamento podem ser estressantes para os jovens, mas eles também têm uma capacidade inigualável de superação e é essa capacidade que devemos estimular.



Algumas dicas que podemos seguir:


 1 - Estimular a vida social - a vida social para os jovens é muito importante e deve continuar; vamos incentivá-los a usarem as ferramentas tecnológicas em favor disso. Organizar festas e piqueniques online em plataformas já estabelecidas é uma ideia interessante.


 2 - Criar uma rotina - criar uma rotina dribla a ansiedade. Podemos ajudá-los a criar um planejamento diário com horários para acordar, participar das aulas online, realizar as tarefas escolares, fazer exercícios físicos, se alimentar e descansar. Vamos ensiná-los a priorizar e a se conectar com cada tarefa que fará diferença em cada dia. E não devemos esquecer das pequenas pausas de 5 a 10 minutos a cada uma hora de atividade.


3 - Diminuir a cobrança - como adultos, pais e responsáveis, sabemos que nem sempre as coisas sairão como nós gostaríamos que fosse. Podemos pensar que existe um pouco de má vontade, preguiça ou birra, mas muitas vezes o estresse desse momento é a causa primeira de tudo. Por isso, diminuir nossa cobrança vai amenizar os conflitos. Tem dias que eles produzirão mais, em outros menos. Está tudo bem! Vamos exercitar a tolerância.


4 - Descansar - longos períodos no celular ou no computador e a interação prolongada nas redes sociais causam desgaste físico e em alguns casos emocionais. Descansar, se desconectar dessas redes é importante. Ouvir música, deitar no escuro para relaxar a visão, ter um tempo sozinho, sair à janela, deitar ao sol, desacelera e traz calma. A meditação pode ajudar a acalmar, sendo uma grande aliada no combate à ansiedade, ao estresse e aos problemas de insônia. Estimule os jovens a buscarem essa prática.



5 - Praticar exercícios físicos - exercícios físicos diminuem a ansiedade, melhoram a qualidade do sono e a concentração. E o melhor, dá para praticar dentro de casa. Não é bom trocar o sofá pela cama o dia todo!


6 - Colaborar com as tarefas da casa - esse é o momento ideal para ensinarmos algumas atividades que contribuirão para que nossos jovens se tornem mais independentes. Arrumar o quarto, fazer um arroz ou macarrão, lavar a louça do almoço, colocar a roupa na máquina ou até arriscar a passá-las, podem ser   atividades prazerosas para eles. O importante é que estejamos por perto, incentivando, mostrando a importância de eles ajudarem nessas pequenas tarefas. Quem sabe eles não descobrem algum talento novo?


7 - Consumir informações de forma equilibrada - estar informado é importante, mas vamos orientá-los a evitar o excesso de informação. Vamos juntos acompanhar fontes confiáveis, que tragam clareza da situação. Estar informado, acompanhar os fatos não só da pandemia, mas os políticos e sociais. Todos esses assuntos no futuro serão históricos e estar atentos e bem informados, ajudará no desenvolvimento do saber crítico.


A partir dessa reflexão estejamos atentos aos nossos adolescentes e jovens. Vamos nos expressar de forma clara, amorosa e empática diante das situações que os afligem. É importante, no diálogo, nos atermos ao fato ocorrido, isso demonstra que estamos atentos, cuidadosos, mas não estamos invadindo a privacidade, como se estivéssemos vigiando ou controlando os seus passos. É possível!