por Vera Lucia Dias


Parece que o tempo tem passado cada vez mais rápido e quando menos esperamos, lá vem Simone nos perguntando de novo: “Então é Natal, e o que você fez? Um ano termina e logo outro vem...” 

E eu acrescento: Junto a ele, novos propósitos, novos projetos e novos sonhos. Mas, acordamos no dia primeiro de janeiro com eles guardados em alguma gaveta de nossa mente, o tempo passa e quando vemos, mais um ano terminou novamente. 

Por que será que algumas pessoas vivem essa estranha sensação de que só o calendário muda, que a roda da vida gira, mas elas se sentem estagnadas, como que assistindo passivamente o tempo passar? Lhe parece familiar um certo sentimento de vazio após as festanças? 

Quando chamada a trabalhar com pessoas e grupos sobre planejamento de vida, gosto muito de usar uma dinâmica que leva a refletir sobre como cada um interage com os quatro elementos que sustentam as mudanças e as transformações: DESEJO, REALIDADE, PODER E VONTADE. 

Nestas ocasiões, peço a cada um que tente identificar qual destes pilares ela acredita que seja o motivo mais forte em sua forma de funcionar no dia a dia e então encontramos diferentes formas de lidar com eles. 

Iniciemos pelo DESEJO, aqui significando tudo aquilo que você coloca como algo a ser alcançado, independente do nome que seja dado a isso: sonho, projeto, meta, objetivo, propósito, utopia. 

REALIDADE é o senso de pé no chão, de autoconhecimento, o reconhecimento dos seus pontos fracos e dos pontos fortes, ou numa outra linguagem, as suas crenças limitantes e as facilitadoras do alcance de seus objetivos. 

VONTADE é o que se precisa para conseguir alcançar o que se almeja. Ela pressupõe foco, disciplina, resiliência e capacidade de escolher a cada momento entre o que você deseja e o que o momento lhe oferece quase que instantaneamente. 

PODER, confundido ou reduzido ao poder de mando, de investidura de cargos no topo de uma hierarquia, muitas vezes conseguido por meios questionáveis, que leva as pessoas a torcerem no nariz. Não é desse poder que estamos falando, mas sim de um sentimento de empoderamento, da sensação gostosa de se saber podendo. 

Como estes elementos se combinam na nossa vida? O que acontece quando eles não estão em equilíbrio? 

Os movidos preponderantemente pelo desejo, sem levar em conta a realidade, são os sonhadores que vivem com a cabeça nas nuvens, cheios de projetos mirabolantes, mas que nunca se concretizam, porque mudam de foco com frequência e estão sempre (re)começando. Quem não conhece alguém assim, que cada vez que você encontra está com o projeto novo e esquecendo os anteriores. Nesses, há excesso de inciativa e carência de acabativa. 

No outro extremo estão os engolidos pela realidade, os pessimistas propriamente ditos, que exacerbam as dificuldades e acham que elas são impeditivas para seus sonhos. São aqueles que dizem ter vontade de escalar a montanha, mas se preocupam com o tempo que irão levar para isso, com os perigos do sol ou da chuva, com a sede, com o cansaço, com o vento e acabam não tendo coragem de dar o primeiro passo. 

Mediando os motores que os desejos representam na nossa vida e as dificuldades que a realidade possui, o fiel da balança se encontra na vontade que nos faz superá-las. Quem compreende isso, sabe que há um caminho entre o estado atual e o que se deseja e que ele não é percorrido num estalo de dedos ou com varinha mágica, mas sim com um pouco de inspiração e muito de transpiração. Para comprovar isso, basta conhecer a história dos vencedores em todas as áreas, com as batalhas que enfrentaram e principalmente com o que lhes mantiveram firmes em seus propósitos. 

Finalmente, entra em jogo durante todo processo de mudança e transformação, o sentimento de empoderamento que o sustenta. O que adianta desejar, se, de saída você já acha que não poderá alcançar o objeto de seu desejo? Quem disse que emagrecer/economizar/deixar de fumar ou beber/ se (re)inventar/ se desfazer de uma relação tóxica ou de um emprego adoecedor são tarefas fáceis? Se você mesmo(a) não acha que pode, quem poderá lhe convencer do contrário? 

Lendo até aqui, estas reflexões fazem sentido para você? Consegue identificar qual destes elementos é mais forte em você e por que tem conseguido, ou não, realizar seus propósitos? 

Há que se refletir também que, uma vez reconhecendo sua forma de funcionar, você pode chegar à conclusão de que seu desejo, sua meta é se conhecer melhor para poder se modificar. Mas, isso nem sempre é tarefa fácil ou superficial e é aí que o trabalho dos profissionais da psicologia podem lhe ajudar.