Jornalista Laura Alvarenga


Foi-se o tempo em que o desejo de se tornar um adulto estava vinculado ao emprego dos sonhos em grandes e renomadas empresas. Não que essa ainda não seja a realidade de muitas pessoas. Fato é a ascensão e expansão em massa do empreendedorismo a cada dia. Mas não de uma maneira simples e qualquer, e sim liderado por comunidades de mulheres empreendedoras que buscam passar uma mensagem além de fazer apenas negócios. 

Através do empreendedorismo, as mulheres começaram a ampliar o conceito de independência, aquela tão almejada por décadas em meio às lutas pela igualdade de gênero. Agora, elas conquistam espaços que antes eram exclusivamente masculinos. É preciso reforçar que o empreendedorismo feminino é muito mais do que um negócio, é uma verdadeira comunidade com relevantes contribuições à toda sociedade. 

Entende-se por empreendedorismo feminino os negócios idealizados ou administrados por mulheres. Logo, esse movimento envolve tanto os empreendimentos fundados por elas, como também a liderança feminina nas empresas, vista quando elas ocupam os cargos mais altos da hierarquia de grandes organizações. 

A liderança entre mulheres cresce a cada dia. Exemplo disso é que o Brasil está na lista dos dez países com o maior número de empreendedoras de todo o mundo. Os dados foram apurados pelo estudo Global Entrepreneurship Monitor 2021 e mostra que, mais da metade das brasileiras empreendem nos setores de comércio de bens e serviços. 

Não é à toa que surgiram várias ações de fomento ao protagonismo feminino na gestão das empresas, pois pesquisas mostram que, mesmo com o avanço global do empreendedorismo feminino, os homens continuam sendo maioria na direção das companhias. Logo, as mulheres são instigadas a liderar o desenvolvimento econômico ampliando a sua representatividade no universo dos negócios. 

Embora a prática possa parecer abusiva, desigual ou qualquer outro adjetivo que representa a indignação com a tradicional chefia masculina nos mais variados âmbitos, o estímulo ao empreendedorismo promove resultados benéficos para a sociedade, por meio de um mundo mais justo, onde a desigualdade de gênero é desfragmentada pouco a pouco a cada dia que passa.   


Empreendedorismo feminino motivado pela força de vontade ou falta de oportunidades

Afirmar qual é a realidade ou motivação que levou as mulheres ao caminho do empreendedorismo é praticamente impossível. Ao questionar cada uma delas, surgirá uma variedade de respostas diferentes, ainda que possam se conectar em algum momento. 

Dados de pesquisas realizadas pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), no entanto, mostram que o Brasil possui cerca de 9,3 milhões de empreendedoras. Este número equivale a 34% dos proprietários de negócios de todo o país. O número continua baixo se comparado à realidade sociocultural. Isso porque, por muito tempo, acreditou-se que lugar de mulher era em casa, evidenciando o termo "do lar" ou "dona de casa", enquanto cozinha, limpa, passa, educa os filhos e cuida de toda a família. 

Historicamente, as mulheres foram criadas para serem submissas. Mas cá entre nós, foi apenas uma estratégia encontrada para reprimir a força feminina. Bom exemplo deste cenário é que, até o ano de 1962, se uma mulher casada quisesse trabalhar fora de casa, ela precisava pedir a autorização do marido. 

A vigência da regra é relativamente nova em termos históricos, o que é, no mínimo, espantoso. Ainda hoje, basta procurar um pouco para encontrar mulheres que ainda são desestimuladas a aprender e empreender, precisando correr atrás da máquina para conquistar seus respectivos lugares. Felizmente elas conseguiram! Nós conseguimos! 

De acordo com o Sebrae, atualmente, o índice de mulheres empresárias consideradas chefes de família chega a 45%. O percentual é superior ao número de mulheres que dependem do dinheiro do cônjuge, o que significa que elas finalmente assumiram o protagonismo das próprias vidas. 

Um fator relevante a ser considerado é que o empreendedorismo feminino é caracterizado, sobretudo, pela qualificação. As donas dos próprios negócios possuem um nível de escolaridade maior (16%). Também apresentam taxas de inadimplência reduzidas, de 3,7% contra 4,2% para os homens. 

Ainda que os índices sejam promissores, as barreiras continuam firmes, especialmente quando o assunto é monetização. Empreendedoras tomam empréstimos menores, mesmo que honrem os compromissos financeiros com mais frequência. De toda forma, os juros continuam maiores, aproximadamente 3,5% superior às taxas cobradas de homens empreendedores. 

Por muito tempo um dos principais empecilhos também foi a dificuldade de estabelecer uma rede de apoio, considerando que o empresariado sempre foi dominado por representantes do sexo masculino. Logo, ver uma mulher na liderança passou a gerar desconfiança sobre sua capacidade de atuar de igual para igual. É justamente aqui que entra o poder das comunidades de empreendedorismo feminino.   


A força das comunidades de empreendedorismo feminino é capaz de mudar o mundo! 

A partir do momento em que uma mulher decide trilhar o caminho do empreendedorismo, ela pode tirar dos ombros o peso de uma jornada solitária. É preciso entender que ambiente comunitário, onde reinam a força, o apoio, a empatia e a sabedoria. 

Foi-se o tempo da cultura da rivalidade feminina. Mesmo que tenham demorado anos, foi estabelecido o entendimento de que juntas somos mais fortes. Já ouviu aquele ditado: “Nenhum homem é uma ilha”? Pois é, ele se encaixa perfeitamente aqui. 

O lado bom das comunidades de empreendedorismo feminino é que, além de construir um networking poderoso, é possível contribuir para a sociedade como um todo. Lucros financeiros e demais resultados positivos no empreendimento são apenas uma consequência da união desta força. 

Felizmente, a Revista Mulheres teve o prazer de se conectar com seis ilustres e poderosas mulheres que, embora tenham trilhado caminhos diferentes, se encontraram em um único propósito, o de se apoiarem e crescerem juntas. 

Hella - Núcleo da Empreendedora de Camanducaia, Negócios para Elas – Pouso Alegre, Rede de Mulheres Empreendedoras da Mantiqueira, Força Feminina em Uberaba, BPW Uberaba - Associação de Mulheres de Negócios e Profissionais e Comunidade das Bossis, em Uberaba. Estas são apenas algumas das inúmeras comunidades que fomentam o empreendedorismo feminino em várias regiões de Minas Gerais (MG). 

Ao conversar com as representantes de cada uma dessas comunidades, ficou nítido o elo que as une, o propósito da colaboração, do encorajamento, conhecimento da força do empreendedorismo feminino. O reconhecimento de todo o esforço fica mais leve quando as mulheres entendem que não precisam competir, momento em que reina a empatia. 

“As mulheres estão ocupando cada vez mais espaços que, durante muito tempo, foram reservados para o homem apenas. Mas os desafios das mulheres empreendedoras ainda existem, pois abrir seu próprio negócio e tornar-se empreendedora é uma importante forma de empoderamento feminino”, reforçou Luciene Miranda. 

Para a fisioterapeuta Luciene Miranda, vice-presidente da rede Hella, o empreendedorismo feminino desempenha um papel importante na dizimação das diferenças entre a oportunidade de crescimento para homens e mulheres. Ela também acredita que as lideranças femininas têm grande potencial transformador nas empresas, diversificando pontos de vista na tomada de decisões. 

Na oportunidade, a empresária destacou a necessidade de aprender a lidar com o preconceito, pois ainda hoje, muitas mulheres são olhadas com desconfiança e não recebem o crédito devido e merecido pelo trabalho que exercem. Infelizmente, fatores como esse geram insegurança e até medo de fracassar, razão pela qual o papel das comunidades fortalece ainda mais a confiança em si próprias. 

Falando sobre desafios e preconceitos, Vanderluce Marinho, presidente da BPW Uberaba -Associação de Mulheres de Negócios e Profissionais, conta que, aos 21 anos de idade, trabalhava como corretora de imóveis. Na época, ela marcou um horário com um cliente para mostrar um terreno. Chegando lá, ao se deparar com uma mulher nova, o homem perguntou se ela tinha pai. Porque, segundo ele, se ela tivesse, não estaria naquela condição. Ao final ele agradeceu a atenção, mas disse que não fechava negócios com mulheres. Esse é um pequeno exemplo do menosprezo que as mulheres ainda sofrem na atualidade como se ainda estivessem iniciando a luta pela conquista dos seus direitos e reconhecimento. No entanto, o que por muito tempo foi considerado o principal papel da mulher, continua sendo motivo de empecilhos no universo do empreendedorismo. 

Pois a partir do momento em que uma mulher decide empreender, a depender do seu perfil e estilo de vida, é preciso se desdobrar para conseguir conciliar família, trabalho e vida social, tudo na mesma proporção. Vanderluce pondera que estes são três pilares extremamente importantes, no entanto, "a dosagem deles ainda é um grande segredo", concluiu. 

Embora o fomento ao empreendedorismo feminino reforce os valores e importância das mulheres ocuparem seus devidos lugares no mundo dos negócios, é válido destacar que este processo não se trata de uma disputa com outras mulheres e muito menos com os homens. 

Kamila Domith, co-fundadora da Rede de Mulheres Empreendedoras da Mantiqueira, explica que, ao criar a comunidade, colocou em mente de que, tanto ela quanto as integrantes devem buscar a equidade do espaço sem luta contra os homens, afinal são uma classe apoiadora. A maior parte das mulheres que compõem a rede são casadas com homens ou têm filhos homens. 

Mas, apesar de todo o apoio e companheirismo, ela entende que homens e mulheres não são iguais. "A mulher está largando o lar para estar muito no mercado de trabalho. Devemos buscar equidade e não igualdade. O trabalho não deve ser colocado à frente da família", completou Kamila. 

Ainda hoje, nem todas as mulheres se atentaram para o fato de que a união favorece o apoio das lutas diárias. A radialista e idealizadora do Grupo Força Feminina, em Uberaba, Edna Fernandez, explica que a falta de apoio dos órgãos públicos se torna um grande impasse, pois muito se fala de empoderamento, mas poucos ensinam como chegar até ele. 

"Como ser uma mulher empoderada? Quem ensina? Como conciliar tudo? Ser mãe, esposa, empreendedora? Precisamos de mais políticas públicas que apoiem, que informem e que facilitem para a mulher denunciar maus tratos, que a encoraje a buscar soluções e que possam exaltar e motivar as mulheres a buscarem superar tudo aquilo que as limita”, destacou. 

Para Edna, uma das maiores conquistas do empreendedorismo feminino são os grupos de apoio onde elas podem se sentir valorizadas, aprendendo a quebrar tabus e colher os frutos do próprio esforço, conquistando cada vez mais o próprio espaço. 

Mariana Sayad, jornalista e co-fundadora da comunidade Negócios Para Elas – Pouso Alegre, reforça que a união, seja por associativismo, cooperativismo ou apenas pessoas se unindo para a realização de um propósito, eleva o potencial do empreendedorismo. Ela lembra que, ao longo do tempo, nós mulheres fomos convencidas a não nos unir, a competimos e acharmos que éramos rivais. Porém, a competição gera a separação, enquanto a colaboração une. "Independentemente da área de atuação, devemos nos unir para ganharmos mais espaço e, consequentemente, mais representatividade nas empresas e nas políticas públicas. A equidade é uma luta de todas as pessoas, homens, mulheres e não-binários", declarou. Como diz o ditado, "A união faz a força"! 

Em meio a tantas histórias, relatos e aprendizados, o proveito que cada empreendedora pode tirar disso tudo é a conexão, mesmo que nem todas tenham nascido e sido criadas neste meio. É o caso de Nathalia Marinelli, empresária e criadora da Comunidade das Bossis em Uberaba, que após passar os primeiros anos da vida dela sendo desencorajada das suas habilidades, descobriu seu potencial e deu a volta por cima. Graduada em moda, especializada em marketing digital e tantas outras capacitações, Nathalia busca, através do seu trabalho, trilhar uma jornada de empreendedorismo onde o conhecimento dela possa mudar a vida de outras mulheres, daí surgiu a Comunidade das Bossis. Dentro da comunidade, é forte a troca de experiências, conhecimento e, sobretudo, networking. Juntas essas mulheres crescem e transbordam em prol do mesmo objetivo, conexão! "Ele nos fortalece, engrandece e nos mantém fortes e focadas em nosso propósito", finalizou.


Comunidade das Bossis - Uberaba


Edna Fernandez, idealizadora e coordeadora da Força Feminina - Uberaba


Kamila Domith - Rede de Mulheres Empreendedoras da Mantiqueira


Luciene Miranda - Rede Hella de Camanducaia


Mariana Sayad e Júlia Lopes - Idealizadoras do Negócios Para Elas -Pouso Alegre


Nathalia Marinelli - Comunidade das Bossis -Uberaba


Negócios Para Elas


Rede de Mulheres Empreendedoras da Mantiqueira


Rede Hella de Camanducaia


Vanderluce Marinho - BPW Uberaba -Associação de Mulheres de Negócios e Profissionais