Por Vera Lucia Dias


Todo junho, mês dos namorados, somos invadidos por corações vermelhos e rostos sorridentes em nossa TV e redes sociais nos apresentando casais aparentemente felizes em seus relacionamentos, mas para nós que lidamos com o lado real e, às vezes, até cruel das relações, ficamos a nos perguntar o quanto esse clima “amoroso” tem de verdadeiro. 

Parece ser uma marca registrada da contemporaneidade a necessidade de compartilhar momentos supostamente felizes, como se a vida fosse um contínuo de rostos bem maquiados, corpos perfeitos, pratos bonitos em restaurantes badalados, festas glamourosas e praias paradisíacas, mas ninguém se pergunta como é a vida real dos artistas e “digitais influencers”. 

Não obstante, em meio a tantas “vidas perfeitas” em nosso círculo mais íntimo ou entre famosos, frequentemente somos surpreendidos com notícias de separação de “casais 20”, “inseparáveis” e a pergunta que não quer calar é: como manter uma relação afetiva satisfatória num tempo em que vivemos conectados com o mundo, mas temos dificuldades de estabelecer uma conexão com quem vive conosco? 

Poderíamos dizer que a saúde emocional de uma família - independente de ser tradicional ou não - está assentada sobre alguns pilares que indicam como é sua funcionalidade e como é vivido, na intimidade, a conjugalidade e a parentalidade do casal, caso tenha filhos. 

Aqui, penso eu, é interessante diferenciar estes dois conceitos. Conjugalidade é o vínculo entre um casal e que pode ser desfeito a qualquer tempo transformando-o em ex, enquanto que, na parentalidade, o vínculo entre pais e filhos só deixa de existir com a morte, porque não comporta situações de ex pai, ex mãe ou ex filho. 

É no pilar da conjugalidade que podemos avaliar qual a distância entre o que foi idealizado em nosso tempo de namoro e a família que conseguimos constituir na realidade, qual o nosso nível de satisfação com o parceiro ou a parceira, como anda nossa comunicação, nossa intimidade, nosso afeto e principalmente e como os filhos estão inseridos nessa relação. 

Há famílias em que os pais priorizam os filhos a ponto de não valorizarem mais um tempo para si enquanto casal e, usualmente, nem se chamam mais pelos seus próprios nomes e sim por pai ou por mãe, ou então declaram alto e bom som que continuam juntos “só por causa dos filhos” ou “vivemos como amigos na mesma casa”... A estes pais pergunto: É esse o verdadeiro motivo para manter seu casamento? Os filhos merecem tal sacrifício ou mesmo a carga de serem responsáveis pela sua infelicidade? 

No pilar da parentalidade está como os pais vivenciam suas relações com os filhos, como dividem papeis, responsabilidades e como organizam a hierarquia familiar para realizar as funções de satisfazer as necessidades dos membros da família, educar, amar, ensinar valores e oferecer um ambiente de aconchego, proteção e segurança aos filhos. 

Nesse check-up de como anda o amor na sua família, vale a pena comentar sobre os estilos de parentalidade que têm muito a ver com os estilos de liderança que muitos dos leitores e leitoras já estudaram em seus cursos de administração ou similares. 

Pais competentes ou democráticos são aqueles que desempenham seu papel equilibrando autoridade com afeto na chamada Parentalidade Positiva e assim conseguem colaborar para que os filhos desenvolvam Inteligência Emocional, Valores, autocontrole e autoconhecimento. No lado oposto, temos os pais negligentes, sem afeto e sem autoridade e que, como consequência, podem contribuir no surgimento de distúrbios de comportamento, baixa autoestima, vulnerabilidade, pouca empatia e dificuldades com normas e regras. 

Entre um estilo e outro dos acima mencionados, temos os pais autoritários que exercem sua autoridade sem afeto e geram filhos descontentes, submissos, sem iniciativa, rancorosos e com baixa autoestima e ainda os omissos ou permissivos, que agem movidos pelo afeto sem autoridade e que, a médio prazo, os filhos podem até parecer alegres e felizes, mas no fundo têm dificuldades para controlar seus impulsos, respeitar limites e lidar com hierarquia. 

Em resumo e para encerrar, vivemos numa sociedade de relações líquidas e superficiais, como diz o filósofo e sociólogo Bauman, onde é muito fácil excluir/cancelar e interromper relações com um clic, mas para aqueles que ainda acreditam e buscam a possibilidade de viver relações sólidas e satisfatórias – não estamos dizendo perfeitas e sem conflitos – vale a pena investir no afeto procurando expressá-lo utilizando as várias linguagens do amor com empatia, sinceridade, paciência e, acima de tudo, intenção consciente de uma boa convivência. Ah! E isso não só no Dia dos Namorados, nas postagens do face, insta, zap ou no tiktok, mas principalmente no recôndito de seu lar, onde só você sabe o que pode viver de confortador e gratificante!