Márcia Resende


“Não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje.”

Certamente, você já repetiu essa frase muitas vezes. A simples lembrança desse ditado popular sugere evitar o ato de procrastinar, isto é, adiar, delongar, demorar e transferir para outro dia o que poderia ser prontamente realizado. 

As pessoas são educadas a ver a procrastinação de modo negativo, mas o ato de adiar atividades é mais frequente do que se imagina. 

Nós e nossos filhos atualmente vivemos “sempre ligados”. Conciliamos nosso convívio no lar com o trabalho, com a escola e alguns projetos paralelos. Estamos em um ritual quase automático todos os dias da semana. 



Em tempos de pandemia estamos realizando nossas atividades quase que em sua maioria de forma remota. Nesta nova modalidade de realização de trabalhos e estudos, como tem sido a nossa rotina e a rotina dos nossos filhos? Tem havido procrastinação? Procrastinar é mesmo ruim? 

Não, procrastinar pode ser um momento de desligar a mente, para que ela fique vagando livremente sem se concentrar em nada. Isso é algo realmente prazeroso, desde que feito de forma correta e que ajude a melhorar a produtividade e a criatividade. 

A procrastinação é uma coisa boa quando bem-feita, poder ser “preguiçosa”, mas da maneira certa. 

Existem dois tipos de procrastinadores: os passivos e os ativos. Como pais devemos avaliar a procrastinação dos nossos filhos e orientá-los a procrastinarem de forma produtiva. Devemos ficar atentos sobre qual tipo de procrastinador nosso filho está se tornando. 

Os procrastinadores passivos são considerados procrastinadores tradicionais, que paralisam suas atividades em virtude de indecisão e pela incapacidade de se autorregularem para completar uma tarefa. Constantemente atrasam ou não realizam as tarefas, por falta de criatividade ou de organização ou mesmo por distração. Trocam com facilidade os afazeres de sua responsabilidade por outras atividades que lhes dão prazer imediato, como jogos, conversas e atividades nas redes sociais. 



Nossos filhos possuem uma dificuldade de autorregulação, isto é, capacidade para direcionar o seu comportamento e controlar os impulsos a fim de cumprir objetivos. Essa dificuldade é comum da idade, principalmente dos adolescentes. Nem sempre é preguiça ou esquecimento! 

Atuamos nesse momento, ajudando-os a identificarem o que tem influenciado suas atitudes, levando-os a procrastinarem. Vamos mostrar a eles que podem transformar essa apatia, em procrastinação positiva, com resultado. 

Os procrastinadores ativos atrasam tarefas, mas porque gostam de trabalhar sob pressão. A diferença entre passivo e ativo é que, embora atrasem uma tarefa, os procrastinadores ativos decidem explicitamente atrasar e fazê-la, mesmo que na última hora. Essa pressão de tempo traz motivação, eles não perdem a capacidade de se concentrarem sob a pressão do tempo. Os procrastinadores ativos atrasam intencionalmente as tarefas. Possuem um senso de autonomia e vontade ao fazer. Nossos filhos, como qualquer outra pessoa, passam por momentos de procrastinação passiva e ativa.  



Procrastinar, em alguns momentos, pode ajudá-los a refletirem melhor sobre qual o melhor caminho para resolver um problema ou ainda qual a melhor forma de realizar uma tarefa. Trata-se de um momento de parar, refletir e olhar para a situação proativamente buscando uma solução. 

Podemos esclarecer e apresentar esses conceitos a eles para que entendam que uma pausa sempre pode ser produtiva e que isso poderá ser adotado em muitas outras decisões ou tarefas que eles precisarem cumprir durante a vida adulta. São interrupções que podem até nos safar de tomadas de decisões repentinas que podem trazer prejuízos futuros. 


Como ensinar nossos filhos a procrastinarem de forma positiva:


Usar a procrastinação como motivação 

O ponto chave sobre a procrastinação é torná-la intencional. Vamos ensinar aos nossos filhos a perceberem quando estão procrastinando de forma passiva, improdutiva. Eles precisam ser capazes de perceber o que os está impedindo de realizar algo, o que está bloqueando sua atitude produtiva. Se precisar, oriente-os a parar e descansar, fazer outra atividade para que nesse tempo eles encontrem motivação para retomar e finalizar a tarefa. A procrastinação não precisa ser a vilã, pode ser uma parada produtiva na busca de uma solução prazerosa, focada em resultado. 

Ter uma programação 

Vamos ajudá-los a determinarem um tempo específico, minutos ou horas, para cada atividade. Oriente-os, para que, no dia anterior, façam uma lista de até seis tarefas, classificando-as em ordem de importância para serem realizadas. Se a tarefa for grande ou mais difícil, é interessante dividi-la em partes menores.  É fundamental que eles façam pequenas pausas, saiam do local onde estejam estudando, tomem água, andem pela casa. Esta é uma procrastinação positiva, que podemos incentivar e acompanhar para que não se prolongue por muito tempo. Da mesma forma que eles precisam estabelecer tempo para as tarefas, as pausas também precisam de tempo determinado. Por exemplo para cada uma hora de estudo 10 minutos de pausa. Durante a pausa é importante evitar o uso do celular, consultar as redes sociais, pois isso pode tirar-lhes o foco e ainda cansá-los mentalmente. Ressalte que é necessário terminar um trabalho antes de começar outro. 

Evitar estímulos externos 

Remova distrações do ambiente de estudo, organize a bancada, oriente-os a deixar por perto somente o que for necessário e será essencial para a execução da atividade. Não usar o celular, evitar bate-papo no WhatsApp, Instagram, para poder concentrar no que precisa ser feito. Isso fará com que o cérebro processe mais informações e evite o descaso com o que realmente importa. 



Identificar qual o horário que é mais produtivo 

Existem estudos que comprovam que cada pessoa consegue render mais em certos horários do dia. Uns preferem as manhãs, outros preferem as tardes. Começar a despertar em nossos filhos essa curiosidade de auto-observação fará com que ele descubra o momento do dia em que seus níveis de disposição e rendimento estejam mais elevados e, consequentemente, facilite a dedicação a qualquer atividade que exija concentração. 


Estabelecer uma meta e prazos 

Não importa quão pequena seja a meta, a sua existência dará mais motivação e um senso de propósito para realizar e ter sucesso. Estabelecer uma meta, definir prazos para que ela seja cumprida reduz a probabilidade de procrastinação. Os prazos funcionam como compromisso que irão ajudá-los a planejar com antecedência. Ensine-os a falarem sobre essa meta com alguém, pode ser com você, com um tio, irmão ou amigo. O fato de alguém perguntar sobre a meta que estabelecemos nos encoraja a cumpri-la. O importante é ensinar aos nossos filhos a se concentrarem no alcance dessa meta. Uma visão de futuro, de sucesso e de dever cumprido. 


O nosso papel como pais, quando percebemos que nossos filhos estão propensos à procrastinação, é evitar uma mentalidade perfeccionista, de querer tudo pronto para ontem. Essa atitude, nesse momento só prejudicará nossa aproximação e acompanhamento. Eles precisam confiar e saber que podem contar com a nossa ajuda. 

Nada de sermões, gritos ou castigos, precisamos ouvir e entender o que está acontecendo e oferecer formas de ajudá-los. Lembre-se de que procrastinar não é uma doença, não precisa ser tratada com remédios. 

Existem técnicas para melhorar o desempenho, gerir o tempo, organizar as tarefas e que ensinam a nós e aos nossos filhos a serem sobretudo os verdadeiros gestores do próprio tempo, que sem dúvida, é fundamental para quem busca combater a procrastinação. 

Vou deixar aqui o link para um teste de procrastinação, que avaliará qual a propensão que você ou seu filho tem para adiar tarefas. 

Façam o teste, busquem o autoconhecimento, discutam o resultado, anotem as orientações que o teste apresenta.

 Vamos ensinar aos nossos filhos que o que realmente muda as nossas vidas, são as escolhas que fazemos todos os dias. A conquista dos nossos objetivos depende apenas de nós mesmos. 

É possível!


Márcia Resende

Especialista em Teen, Life e Professional Coaching. Escritora de textos motivacionais, de liderança e comportamento para a página Coaching e Champanhe for Woman, de Portugal, para o Portal R2S e para a revista da Sociedade Latino Americana de Coaching. 

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