Corresponsabilidade paterna nos cuidados pós-parto. "Em troca recebemos o mais belo sorriso"

Jornalista Juba Maria


Cada vez mais, homens têm deixado de lado um antigo perfil machista de paternidade para assumir uma postura de Pai com C: corresponsável. Pensando nisso, nós decidimos ouvir homens e mulheres profissionais para entender melhor essa mudança de comportamento. De modo geral, todos concordam em um ponto: todos ganham quando o pai se faz presente com corresponsabilidade. 

Mônica Roberta da Silva Giacometto é ginecologista e obstetra. Há 16 anos, Mônica cuida, ouve e acolhe mulheres em todas as fases de sua vida. Com isso, vem acompanhando de perto as mudanças na forma como os casais lidam com a chegada de um bebê. Segundo ela, é cada vez mais comum a participação de homens durante as consultas de pré-natal, o que nem sempre significa que as tarefas são assumidas por igual. "Nos primeiros cuidados com o bebê, percebo ainda muita insegurança. Eles tendem a ficar com pequenas participações, fazer ninar, trocar uma fraldinha”, disse. 


A médica ginecologista Monica Giacometto observa que é cada vez mais comum a participação do pai nas consultas de pré-natal


Caroline Freitas Silveira é enfermeira, mestre em atenção à saúde, consultora em aleitamento materno e professora do curso de enfermagem da Universidade de Uberaba (Uniube). Ela também tem percebido uma feliz mudança de comportamento, embora reconheça que a caminhada ainda é longa e árdua. “Em muitos casos o desinteresse ainda é bem perceptível, a noção de família patriarcal onde há a antiquada ideia de que somente a mãe deve desempenhar os cuidados com o bebê e a casa, ainda existe e não é raro”, disse Caroline. Ela explica ainda que, o termo "pai presente" é equivocado, pois, na verdade, o pai deve assumir o seu papel e ser corresponsável.


A enfermeira Caroline Freitas Silveira é membro do Grupo Abayomi, que reúne diversos profissionais de apoio à maternidade


Nessa linha, Mônica também defende a importância de uma mudança do posicionamento social, inclusive o materno, pois, segundo ela, muitas são as mães que assumem todas as responsabilidades e acabam não permitindo uma participação ativa por parte do pai. “Acredito que estamos no caminho da melhora desse perfil, mas tanto os pais quanto as mães precisam entender que ambos são responsáveis pelo bebê”, disse. “Não se trata de uma competição, mas sim de uma única equipe”, acrescentou. 

Para Luiz Hozumi Nojiri Junior, 33 anos, pai de Hugo Ichiro, de 1 ano e dois meses, corresponsabilidade é coisa séria. Ele acredita que a presença paterna durante o puerpério é fundamental para reduzir o nível de estresse da mãe e para que o bebê se sinta mais confortável. “Tudo passa muito rápido, mas, ao mesmo tempo, tudo é muito intenso. Positivamente creio que os laços do pai, tanto com o bebê quanto com a mãe, ficam mais fortes e a relação de intimidade se intensifica”, conta. 

Mas, nem tudo são flores. O cansaço e a sobrecarga de atividades tornam tudo mais exaustivo. Por isso, Hozumi defende a ampliação da licença paternidade. Precisamos tirar o peso da criação exclusivamente da mãe, sendo sempre compartilhada com os dois genitores”, diz. 


O pequeno Hugo com os pais,  Marcela e Luiz Hozumi Nojiri


Quem concorda com Hozumi em gênero, número e caso é o servidor público Armelino Modesto da Silva Neto, 29 anos, e pai do pequeno Heitor, de 1 ano e dois meses. Para ele, cinco dias de licença paternidade é pouco para que o pai participe eficientemente nos afazeres de casa e nos cuidados com bebê. Armelino conta que, com a divisão de tarefas (domésticas e de cuidados com filho) e o rodízio na guarda do filho durante a noite, procurou deixar a esposa mais descansada, plena e forte para amamentar. “Quando o pai passa a ser mais participativo, dando banhos, trocando fraldas, fazendo passeios para distraí-lo, dando-lhe conforto e abrigo quando aparecem as cólicas, cria-se um vínculo maior entre pai e bebê”, explicou. 


Armelino e a esposa com o filho Heitor


Engana-se quem pensa que a tarefa é fácil. Segundo Hozumi, a participação paterna vai além de simplesmente dividir as tarefas. Nesse momento, segundo ele, é fundamental que o pai seja incisivo. “O bebê sempre vai querer a mãe, pela amamentação, mas o pai pode ser o primeiro contato quando acorda, quando coloca para dormir e em vários outros momentos”, ressaltou. O jeito, segundo ele, é aproveitar para dormir enquanto o bebê dorme e revezar com a parceira nos momentos em que o bebê não dorme. 

Segundo Armelino, aprende-se mais com o passar do tempo e a experiência. Por isso, ele aconselha aos pais que tenham paciência e busquem informações, além de uma boa rede de apoio. "Alguns bebês dormem a noite inteira, outros nem tanto. O que meu filho passou, não necessariamente o seu vai passar”, contou. Para evitar frustrações desnecessárias, Armelino recomenda que os pais não façam ou aceitem comparações entre bebês. "Cada um vai ter seu tempo”, disse. “Ter a inclusão de um novo membro na família não é fácil, demanda muito do casal, e ninguém tem um manual de como ser pai ou mãe”, disse. 

Para Caroline, a sociedade precisa deixar de ser machista e paternalista, pois isso também faz muito mal ao homem. “Muitas vezes um homem quer ser diferente, fazer diferente e é cerceado, criticado nas suas rodas de amigos, pelos familiares”, conta. Por outro lado, segundo ela, precisamos também parar de alardear e elogiar sempre que um pai troca fralda, dá banho, faz dormir, leva ao pediatra sozinho, sai sozinho com o bebê, limpa a casa, faz comida ou fica com o bebê para a mãe dormir ou sair para se distrair. “Ele não está fazendo nada mais do que a obrigação”, observa. 

Sônia Regina Silva é médica pediatra e explica que um dos benefícios da presença paterna é tornar menos doloroso e mais ágil o processo do parto, ajudando a encurtar o período de internação e levar mais segurança à mamãe. “Traz tranquilidade ao ambiente, sendo mais receptivo ao bebê e assim temos observado maior sucesso no aleitamento materno e na recuperação pós-parto”, disse. 

Segundo ela, são muitas as técnicas que podem ser ensinadas para auxiliar os pais a amenizar as cólicas e a obter sucesso no aleitamento. “Todo profissional deve fazer com que os pais se sintam seguros e acreditem que são capazes. Pais seguros, bebês mais serenos”, disse. Apesar disso, Sônia ressalta que são muitas as adversidades e cabe ao profissional entender as necessidades de cada família, respeitando suas limitações e ensinando a superá-las. Na ausência do pai, por exemplo, é muito importante identificar quem será o familiar de apoio e treiná-lo. Com isso, segundo a médica, é possível minimizar a ausência paterna. 


Para médica pediatra Sonia Silva, no processo de parto, cabe aos profissionais contribuírem para que os pais sintam-se seguros e capazes


Ainda quando pai e mãe não estão em união afetiva, Caroline recomenda que o pai assuma o posto de pai, com responsabilidade e se comportando como pai em todos os aspectos. “O puerpério é um período de muitas sombras para a mulher, de muitas dores, dúvidas, solidão e uma sensação de culpa interminável. Quando o companheiro fornece apoio e segurança, passar por essa fase torna-se menos pesado”, disse a enfermeira membro do Grupo Abayomi, que reúne diversos profissionais de apoio à maternidade. 

Além disso, de acordo com a profissional, quando se faz presente de forma saudável nessa fase inicial da vida do bebê, o pai contribui de forma importante para a criação de laços paternos. É no que acredita Armelino. Na visão dele, se a criança é ignorada, ela também vai ignorar. “A criança quer apenas ser amada e ter carinho e em troca recebemos o mais belo sorriso”, completou. 

Mas, não é apenas o comportamento das famílias e amigos que precisa mudar. De acordo com a profissional, a sociedade deve apoiar a paternidade consciente e responsável. Isso implica, por exemplo, na necessidade de que os donos de estabelecimentos comerciais coloquem fraldários e trocadores em banheiros masculinos. “Como um homem sai sozinho com um bebê e troca esse bebê, se só tem trocador em banheiro feminino? Isso é mais do que ultrapassado e desrespeitoso”, avalia.

Para Mônica, ainda vivemos em uma sociedade marcada pelo machismo e, por isso, precisamos ressaltar a importância de uma paternidade participativa. Na sua análise, é necessário deixar de lado a antiga frase "meu marido ou companheiro me ajuda muito" e trocar por uma nova frase: “meu marido ou companheiro faz a parte dele como pai e cuidador do nosso bebê". 

“A jornada é longa, mas acredito que já estamos tentando reformular esse machismo estrutural da nossa sociedade. Pai não é ajudante e sim corresponsável desse grande desafio de cuidar de um recém-nascido”, disse.


Siga a Revista Mulheres no Instagram e no Facebook