Separadas e bem resolvidas

Jornalista Valeska Ramos


Há algumas-décadas o divórcio era tabu, hoje é quase tendência. Principalmente na pandemia, o número de separações aumentou substancialmente. Um levantamento do Colégio Notarial do Brasil (CNB), entidade que reúne os Cartórios de Notas do País, aponta que o segundo semestre de 2020 registrou o maior número de dissoluções matrimoniais, desde o início da prática do ato em Cartório, em 2007. O número total de 43.859 divórcios extrajudiciais, no segundo semestre de 2020 no Brasil é 15% maior do que as 38.174 dissoluções ocorridas no segundo semestre de 2019. 

As mulheres continuam subindo ao altar. Mas, se as coisas vão mal, já não hesitam tanto em sacramentar o fim da união. Fazem isso sem os medos do passado e, em geral, se casam de novo. A busca pela felicidade é constante e a mulher atual não se contenta em estar com alguém apenas por estar. Hoje Hem dia, mulheres bem resolvidas e independentes buscam mais do que uma companhia. Elas querem alguém que transborde. Pois já se sentem completas por si só. É claro, que o luto pós- separação irá acontecer e deve ser vivido, porém nos dias de hoje, esse luto não dura a eternidade e as mulheres logo dão a volta por cima, refazendo suas vidas com garra e determinação. 

Um dos grandes desafios com a separação é a realidade de que muitas mulheres se abdicam de seus empregos para se dedicarem exclusivamente à casa e ao companheiro. Com o divórcio, se veem perdidas, desempregadas e desamparadas. Esse percurso de restabelecimento e recolocação no mercado de trabalho, muitas vezes, dura tempo necessário para que essa mulher se desestruture ainda mais, principalmente psicologicamente. Aí, entra a importância dessa mulher se reconectar com seu “eu”, buscando auxilio, caso necessário, para aos poucos colocar sua vida nos trilhos novamente.   

De acordo com a psicóloga clínica e yogaterapeuta Meirianne Sousa, a separação dói. É uma ruptura, que causa estranhamento. “Não importa se temos certeza daquilo que estamos decidindo, o medo do novo é constante. É preciso coragem para recomeçar. Nessa hora é preciso ouvir mais a si mesma do que os outros. Ouvir o que vem de dentro do coração. Mas é preciso ter coragem e capacidade de recomeçar. Assim, podemos evoluir, crescer, transformar e ser. Enquanto houver respiração estaremos recomeçando algo, seja um novo dia, um novo trabalho, um novo investimento, um novo projeto ou um novo relacionamento”. 

Meirianne, que também passou por uma ruptura, embora seja psicóloga também é mulher e enfatiza que o processo é doloroso para todos que por ele passa. “Confesso que não foi fácil, tomei as medidas necessárias que implicaram em muitas mudanças. Foram muitas renúncias, redução de padrão de vida, aumento das horas de trabalho, viver a instabilidade em vários níveis. Mas dei a volta por cima, muitas perdas e muitos ganhos. Resgatar minha essência após o período de turbulências foi o maior deles. Sou infinitamente grata por todos os lugares, pessoas e condições em que estive, só me fortaleceram e me ensinaram a ser quem eu sou agora. 


Meirianne Sousa. Após separação, entre perdas e ganhos, deu a volta por cima sentindo-se muito mais fortalecida


Quais seriam os pilares para se reerguer após um rompimento?

Para os especialistas, uma boa atitude é mudar o foco e ter um olhar mais otimista em relação ao rompimento. Até porque, se a separação não é o final feliz dos contos de fadas, pode ser o caminho de um feliz recomeço. “Apesar de frustrante, o fim de um casamento não é motivo para desistir da busca de completude. Embora, é claro, isso aconteça mais dentro do que fora de nós”, diz a psicóloga Claudia Lins, da Universidade Federal de Minas Gerais. 

Muita gente já parece enxergar as coisas do mesmo modo. Entre os casamentos que acontecem hoje no Brasil, a maioria ainda é o de estreia, o primeiro de ambos os noivos. Mas, segundo dados recém-divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esse número vem caindo, ao mesmo tempo que cresce cada vez mais a participação no bolo dos chamados “recasamentos”. 

Para a micro empresária Silvia Aparecida Rollo de Paula, 59 anos, a separação foi um pouco mais traumática, por ter se casado nova, com o primeiro namorado com quem teve um filho. “Muito nova e sem nenhuma experiência em relacionamento, me vi em depressão, passando por um casamento abusivo, complicado. Após sete anos de casada resolvi que não dava mais para continuar. Separei com 25 anos de idade e com um filho de 07 anos para criar. Com medo, nunca havia trabalhado, mas com muita força e determinação, enfrentei a realidade, passei a vender cosméticos e venci. Aos 32 anos dei a volta por cima, conheci meu atual marido e nos apaixonamos. Mesmo sendo 10 anos mais novo que eu é um homem que me respeita e faz o possível e impossível para me ver feliz. O amor é nosso sustento”, comemora Silvia. Hoje a empresária se vê como uma mulher mais forte e bem resolvida.


Silvia Aparecida de Paula.  Um novo casamento sustentado pelo amor e respeito


Após o luto da separação, começamos a enxergar outras oportunidades de realização, com direito a momentos de prazer e alegria. Você se transformará em uma outra mulher. Com forças suficientes para recomeçar uma nova vida, de onde nunca deveria ter parado. E, claro, começar um relacionamento sério com você mesma. 

Essa jornada de transformação não é fácil, mas ela precisa ser feita. Você deve se olhar no espelho e se sentir bem com o reflexo. Se sentir segura e em paz com você mesma. 

É renascer para uma vida nova, onde retire forças para ir adiante e conquistar o que você quiser. E, principalmente, estar pronta para amar novamente por inteiro, olhar para trás com orgulho, não só por ter sobrevivido ao fim desse relacionamento, mas também porque usou toda essa dor para se tornar uma mulher mais forte, realizada e feliz. Assim como tudo na vida, isso também passa.


Sete atitudes para se reerguer após um rompimento 

  1. Coloque todo o seu foco no momento presente
  2. Perdoe-se
  3. Seja paciente com você mesma
  4. Não espere a motivação chegar
  5. Fique atenta às suas palavras e pensamentos
  6. Procure pessoas que estão vivendo a mesma fase que você
  7. Cure suas feridas emocionais


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