Jornalista Isabel Minaré


" O agronegócio é o produtor de comida. Nós alimentamos o mundo.” A afirmação é do Gilberto Dias, presidente do Sindicato Ruralde Uberaba (SRU). O fornecimento de alimento faz com que a agropecuária seja um dos principais setores da economia. É a mola propulsora que catapulta o Brasil para outros países. Nesse contexto, Uberaba assume papel importantíssimo e é conhecida por ser a terra do Zebu e do agronegócio.

O segmento não parou nem mesmo com a pandemia do covid-19. Afinal, a fome não pode esperar. “Até fomos privilegiados nesta época, pois trabalhamos no campo, que é aberto”, explica o presidente. Mesmo assim, 2020 (início da pandemia) e 2021 não foram fáceis para o produtor rural. Entraves não faltaram. Um deles é o aumento no custo da produção. “Insumos, adubos, sementes triplicaram de preço. No ano passado, oadubo estava R$ 2,2 mil. Hoje passou para R$ 7 mil”, destaca. Os preços de tratores também subiram. As valorizações do aço no mercado externo e do dólar em relação ao real foram alguns motivos para a indústria de máquinas agrícolas ajustarem os custos de venda. A política externa também gerou obstáculos. Em setembro, o governo comunicou a presença de dois casos atípicos de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EBB), conhecida como a doença da vaca louca, em frigoríficos brasileiros. A exportação da carne foi suspensa para a China, considerada um dos maiores mercados.

Outro fator de grande impacto é o clima. “Se o produtor não tiver um bom relacionamento com São Pedro, está torrado!” 2022 mal começou e o problema é o excesso de chuva. “A cada ano, aparecem mais pragas nas lavouras. Elas são combatidas através de pulverizações, mas, com chuva, não dá pra fazer”, esclarece. Em 2021, três problemas graves assolaram as plantações: seca, geadas fortíssimas e fogo. O último, inclusive, foi o responsável pelo surgimento de uma tendência. Produtores migraram da plantação de cana-de-açúcar para o trigo. A cultura é recente, entretanto está em expansão e tem necessidade urgente. “Uberaba tem deficiência de armazenamento pra grãos”, explica.

Os desafios foram e continuam grandes, porém a esperança da classe é ainda maior. Para Gilberto Dias, a expectativa de crescimento gira em torno de 1,5 a 2% em relação à última safra. Tão esperançoso quanto ele está Rivaldo Machado Borges Júnior, presidente daABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu). “Na crise nós criamos e crescemos”, costuma dizer. “Só nos últimos dois anos, nosso número de associados cresceu, com mais de 1.260 mil novos criadores. O número de registros genealógicos também aumentou, atingindo mais de 1.2 milhão, entre Registros Genealógicos de Nascimento e Registros Genealógicos Definitivos”, aponta. A força do agro é tamanha quenão para de receber sinais do mercado internacional. “No que se refere ao mercado da carne, o Brasil produz mais de 10,3 milhões de toneladas, sendo que boa parte dessa quantidade é negociada para dezenas de países em todo o mundo, seguindo rigorosos padrões de qualidade. O mesmo acontece com material genético e animal vivo.” Para ampliar os resultados, o setor precisa de mais investimentos. E, para o presidente, as ações são tanto da porteira para fora como para dentro e tanto dos grandes como os pequenos criadores. Políticas públicas, melhoramento genético e equipamentos são relevantes para contribuir com uma pecuária mais produtiva e sustentável.

Políticas públicas é, também, dever do munícipio. De acordo com o secretário municipal do Agronegócio, José Geraldo Celani, o segmento é muito forte, extenso e complexo. “Ele começa com a produção e distribuição de insumos. Em seguida, há uma série de fatores dentro da propriedade. Assim que a produção sai das fazendas, vai para diversos tipos de indústrias”, explica. Um exemplo é a produção de cana-de-açúcar, naqual Uberaba ocupa o primeiro lugar no Brasil, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística) divulgados em 2021. A cana é plantada ecolhida. Depois, vem a moagem. Surgem o açúcar, o álcool e a energia. 

Para impulsionar o escoamento da safra, a pastatem o Departamento de Manutenção de Estradas. “Acidade tem 5,5 mil km de estradas rurais, sendo que mais de 1600 km foram recuperados somente no ano passado.” É maravilhoso não só para agropecuária, mas também para outros setores, como Educação e Saúde. Afinal, estudantes, equipe escolar, profissionais da saúde, visitantes e mais pessoas utilizam as agrovias. 

Uma das missões da Secretaria é oferecer assistência técnica aos pequenos e médios produtores. Serviços de maquinário subsidiados, como de trator, fazem parte das ações. Após a assistência, os produtos seguem para a comercialização, incentivadas pela Prefeitura no Mercado Municipal, Ceasa e feiras livres. “A feira foi criada, primeiramente, para atender o produtor, mas houve uma mudança e hoje ele é a minoria nela. Ele não tem tempo de participar porque ele mesmo tem que cuidar da plantação”, realça Celani. Para este ano, há diversos projetos para serem executados. Implantação de hortas comunitárias; revitalizaçãodo Mercadão; execuções do Pecuária Mais Brasil (melhoramento genético), Crédito Fundiário, Reágua, Georrefenciamento de safras e distribuição de biodigestores para as comunidades rurais são alguns deles. Bairrista, o secretário afirma que os cidadãos têm motivos para se orgulhar. “Em todas as partes, Uberaba tem um agronegócio pulsante. Cada vez mais, estamos conseguindo melhores resultados”, conclui.

O produtor rural Luis Renato Tiveron, com fazendas em Uberaba e Tocantins, destaca o potencial criativo da classe. “O produtor brasileiro tem habilidade de se reestruturar e se refazer nas suas atividades”, evidencia. Ele defende que o desafio consiste em mostrar para o Brasil e o mundo não só a quantidade, mas a qualidade da nossa carne.

A produtora rural Iara Marques sabe bem que falta muito para o setor melhorar. De acordo com ela, o avanço virá quando o próprio brasileiro reconhecer que o agro é um celeiro, não só de produção agrícola, mas também de inovações, de conhecimento e de oportunidades. “O Brasil é um país continental vocacionado para o agro por possuir condições tanto de solo como de clima, ideais para a prática da agropecuária. Acredito que precisamos de políticas assertivas que reconheçam esse status e que cuidem dos seus desdobramentos”, complementa. E esse progresso conta amplamente com a participação feminina, tanto dentro como fora das fazendas. “O sucesso alcançado pelo setor ao longo dos anos, contou com a força do trabalho feminino na retaguarda. Hoje a mulher também assumiu o protagonismo dos negócios da família e esse posicionamento é bastante visível tanto no Agro como em todos os outros setores da Economia Brasileira.” As presenças de duas mulheres no comando das pastas relacionadas – Tereza Cristina no MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) e Ana Maria Valentini na Seapa (Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento) – consolidam o pensamento.

A Amur (Associação de Mulheres Rurais de Uberaba) luta em prol da capacitação para incentivar a sobrevivência e independência de mulheres que vivem ou tenham contato com o campo. “Se tem o ‘pé na roça’, já pode fazer parte da Amur”, brinca a vice-presidente da instituição, Mariluce Rocha. “Embora coma chuva de água fria que recebemos (sobre o aumento dos casos de covid-19), estamos esperançosas de que logo voltaremos com as nossas oficinas profissionalizantes”, fala. Ações em desenvolvimento são esperadas para 2022 para que o país continue a ser fornecedor de alimentos para o seu povo e para o mundo.


Para Dias, o produtor tem que ter um relacionamento bem próximo com São Pedro


Segundo Rivaldo Machado Borges Júnior, é na crise que se cresce


Luis Renato Tiveron acredita no potencial da carne brasileira


José Geraldo Celani e equipe têm muitos projetos para o agronegócio neste ano. Foto divulgação Prefeitura de Uberaba


Produtor com colheita de alho em São Basílio. Foto - divulgação Prefeitura de Uberaba


Iara afirma que o sucesso do agro conta com a força do trabalho feminino na retaguarda


Amur