Liana Marzinotto

Fotos Ari Morais


O que separa um menino de um homem?

Nesta história, nada.

Inaugurando comigo esta coluna, o médico Cléber Sérgio da Silva conta sua história que envolve sonho, superação, realização e principalmente o outro! Afinal este é o propósito desta Coluna, mostrar o que certos homens fazem em prol do próximo, o que vai além de seu trabalho e onde este caminho nos leva.

71 mulheres têm suas vidas transformadas, sua autoestima resgatada, sua confiança restabelecida e sua dignidade de volta, quando a reconstrução mamária se tornou possível após a perda do seio devido ao câncer de mama.

Este é um capítulo da História deste homem que tenho o prazer de contar.


Cléber Sérgio da Silva


Cléber Sérgio da Silva é médico mastologista e ginecologista oncológico, filho de dona Maria de Lourdes Vieira da Silva, marido de Cristina Oliveira Cardoso e Silva, pai de Júlia e Rafaela Cardoso e Silva. O que se percebe forte a presença feminina em sua vida. Desde a separação dos pais, viveu com sua mãe - grande incentivadora - e sua irmã em uma casa de dois cômodos e “chão batido”. Ainda criança, asmático, pode presenciar falhas em relação à saúde, que é direito de todos, mas que serve a poucos. Esta condição o levou a ser médico e a oferecer oportunidades a muitos.

 

Doutor, o que lembra da sua infância e da condição oferecida em saúde?

Bem, me lembro de estar junto com minha mãe e enfrentarmos uma fila imensa no INSS, onde passávamos boa parte da noite para conseguirmos uma senha para atendimento médico e quando chegava o momento da consulta, nem sempre o bom atendimento prevalecia. Mesmo criança tinha a convicção do “cuidar da vida”.


Como foi sua infância?

Eu comecei muito cedo. Minha mãe trabalhava na lavanderia do extinto hospital Santa Cecília e nessa época, eu vendia coxinhas e sempre estava às voltas com o ambiente clínico, onde conheci pessoas que foram fonte de inspiração. Depois fui engraxate, guarda mirim e office boy em um escritório de uma construtora. Com muitas dificuldades, cheguei a pensar não ser possível a medicina, mas minha mãe me deu asas e comecei a voar.


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Conte sobre sua trajetória para alcançar seu sonho.

Os donos da construtora onde trabalhava me ajudaram muito. Compravam os livros que precisava e o valor era parcialmente descontado do meu salário. Nessa época, estudava à noite, ao fim do ensino médio não obtive aprovação no meu primeiro vestibular para medicina, mas fiquei próximo. Isso me qualificou para uma bolsa de estudos no colégio Doutor José Ferreira, oferecida pelo então diretor professor Danival Roberto Alves, para fazer o cursinho no período da manhã, quando então passei a trabalhar meio período e assim pude me preparar melhor para o vestibular. Entrei para a faculdade em 1991 e me tornei médico em 1996.

 

Durante este período, como a vida se apresentava a você?

Durante a faculdade percebi a frustação de não poder salvar a todos, entretanto aprendi que o médico tem o poder, de no mínimo, aliviar o sofrimento de seu paciente no seu momento de fragilidade. Isto me fez compreender a importância de termos um olhar mais humano quando nos colocamos no lugar o outro. Por isso penso e acredito que o mundo que oferecemos é o mundo que está dentro de nós.


Após se tornar médico, alcançar o sonho, onde atuou?

Logo após a especialização atuei na parte de assistência em Brasília, pelo exército, onde conheci ótimos médicos, que também me inspiraram na arte do ensinar. Voltando para Uberaba, optei em realizar mestrado e doutorado e então fui docente concursado no curso de Medicina da Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM.  Realizei curso de pós-graduação em Oncoplástica Mamária por dois anos no Hospital do Amor em Barretos e fiz estágios menores em reconstrução mamária no Instituto Europeu de Oncologia em Milão - Itália e em Estrasburgo - França.


Dr. Cleber com a mãe Maria de Lourdes, a esposa Cristina e as filhas Julia e Rafaela.


Atualmente como é seu trabalho?

Tenho meu consultório e sou coordenador da residência médica em mastologia no hospital Hélio Angotti, onde também atuo na área assistencial realizando atendimentos ambulatoriais e procedimentos cirúrgicos. No ano passado consegui realizar uma parte do meu propósito em poder fazer algo pelo outro, neste caso pelas outras, (risos). Em outubro, a campanha “A Flor da Pele” proporcionou a reconstrução mamária em 21 pacientes em regime de mutirão e agora vamos conseguir levar estas cirurgias para 50 mulheres.


Doutor, esta é ação inédita, como foi possível?

Por onde passei, fiz laços afetivos e de respeito com meus pares e essa rede de contatos possibilitou a realização dessa festa de solidariedade que fizemos. Mais do que mastologistas, trouxemos amigos que atuam em vários estados do país, que se disponibilizaram a participar do programa e nada cobraram pelas cirurgias realizadas. O hospital Hélio Angotti acreditou e me deu total apoio. Fizemos uma campanha para arrecadar fundos para a realização deste Mutirão de Reconstrução Mamária, pois o que é custeado pelo Sistema Único de Saúde–SUS, representa menos de 1/3 dos custos reais e sem parceiros e apoiadores, não seria possível realizar esta ação.


Esta ação foi um sucesso, haverá a segunda edição da campanha A Flor da Pele?

Sim, com novo formato. Fomos audaciosos em dobrar o número de cirurgias de reconstrução mamária em 50 mulheres, totalizando aproximadamente 100 cirurgias por serem bilaterais, criando simetria. Haverá uma mudança de calendário, devido à pandemia do Covid 19 e o “Outubro Rosa”, será realizado em março de 2021, mês que tem referência com a mulher e também por ser um período de normalidade destas atividades, considerando que algumas estão suspensas. As pacientes já foram selecionadas e estão sendo preparadas e acompanhadas pelas áreas clínicas, nutricional, psicológica pelo hospital Hélio Angotti e odontológicas, pilates e educação física por parceiros.


Se você fizer uma retrospectiva de sua vida, qual sua avaliação?

Me orgulho de quem sou e do que faço e de onde vim. Nunca neguei minha origem e essa é minha força. Quando me lembro daquele menino, asmático, que não tinha como estudar em casa, que era de “chão batido” e em períodos de chuva, sua condição de saúde piorava, neste momento, este menino me acolhe e me faz lembrar que estou onde estou porque acreditei no trabalho, na disciplina e no estudo. Que sucesso e prosperidade são leis universais disponíveis a todos que escolhem enfrentar as adversidades. Meu universo foi sempre em torno do feminino, meu maior exemplo sempre foi minha mãe, então com certeza é minha maior influência. Eu fui tão bem cuidado por ela em momentos tão críticos, que quando cuido de uma mulher é como se eu cuidasse da minha mãe e esta é minha homenagem a ela. Meu trabalho é contínuo e com ele o desejo de fazer a diferença. Oferecer o melhor é minha razão de ser, minha missão e meu compromisso com a vida. Isso é o que me inspira!


Liana Marzinotto 
Relações Públicas e Institucionais.

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Mulheres. O conteúdo é de total responsabilidade da autora. 


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