Jornalista Valeska Ramos


A vinda desse vírus avassalador, o Corona, trouxe inúmeros prejuízos para todos. Porém, a mulher foi uma das mais atingidas. A quarentena interferiu no cotidiano das mulheres levando-as a uma sobrecarga tanto profissional quanto pessoal. A classe é maioria entre os indivíduos, que estão em trabalho remoto. 

Segundo dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) durante a pandemia da COVID 19, em novembro de 2020, 57,8% das pessoas em home office era do sexo feminino.

É nítido que o sexo feminino sofre mais com os efeitos da pandemia do que os homens. Segundo a pesquisa, 87% acha que a mulher é mais afetada pela pandemia, sendo que 91% concorda que, independentemente do isolamento social, elas absorveram mais as tarefas da casa do que os homens. A pesquisa mostrou, também, que 89% acredita que as mulheres absorvem mais as multitarefas do que os homens. 

Os dados do IBGE, no último trimestre, confirmam que as mulheres e negros foram mais penalizados pela crise no mercado de trabalho. Jovens e brasileiros com menor escolaridade também tiveram taxa de desemprego superior à média nacional. Tais constatações reforçam a desigualdade nos impactos da pandemia no mercado de trabalho. Enquanto a taxa de desemprego entre os homens foi de 11,9%, entre as mulheres foi de 16,4%. A diferença entre a taxa dos dois casos se ampliou em relação aos trimestres anteriores. 



A realidade da mulher brasileira já é carregada de um acúmulo de responsabilidades com trabalho fora, afazeres domésticos e cuidados com filhos. A pandemia só aumentou essas dificuldades. Com escolas fechadas, mães precisaram também se tornar "professoras", auxiliando no ensino remoto. 

Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) de 2018, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), comprovam que as mulheres dedicam mais horas aos afazeres domésticos e ao cuidado de pessoas, mesmo em situações ocupacionais iguais às dos homens. Enquanto elas gastam 18,5 horas por semana, eles despendem 10,3 horas. Entre os não ocupados, a discrepância é ainda maior: 23,8 horas dedicadas pelas mulheres, contra 12 horas empregadas pelo sexo masculino. 

Não só o trabalho aumentou como também o sustento da casa tem passado por grandes dificuldades. 

Essa sobrecarga tem impactos também na saúde. De acordo com o Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), publicada mês passado, as mulheres são as que mais sofreram durante a pandemia — foram entrevistados 3 mil voluntários. Dentre as participantes do sexo feminino, 40,5% apresentaram sintomas de depressão, 34,9%, de ansiedade e 37,3% de estresse. 

A empresária uberabense Camila Guaritá é uma das milhares de mulheres que tem vivenciado essa jornada incansável de trabalho. Mãe de duas crianças, 10 e 8 anos respectivamente, afirma que, principalmente as aulas remotas têm sido desafiadoras. “Há mais de um ano passando por isso percebi que, para tudo funcionar bem, a minha presença física e dedicação são essenciais. Entre brigas e gritos, elogios e abraços, vamos seguindo com um pouco de sofrimento para todas as partes. O desafio é grande, mas o aprendizado é ainda maior. Tolerância e compaixão um pelo outro, isso a gente vem aprendendo muito”. 


Para Camila Guaritá, tolerância e compaixão são os maiores aprendizados nestes tempos de pandemia. Na foto com as pequenas Mariana e Gaya


Para outras mulheres, em especial as inseridas nas áreas da saúde, o desafio aumenta. O home office, trabalho desenvolvido dentro de casa, já não é possível, intensificando ainda mais a carga horária dessas guerreiras. É o caso da dentista pediátrica Larissa Figueiredo. Ela se desdobra e desenvolve com maestria todas as suas funções de mãe, profissional e dona de casa. “A pandemia colocou uma lente de aumento no excesso de tarefas que desempenhamos. Além das já conhecidas, somam-se os cuidados com os filhos, que estão em tempo integral em casa e a habilidade de ensiná-los como se na escola estivessem. Pessoalmente, abri mão do perfeccionismo e de cobranças comigo e com as crianças. Tempos difíceis exigem mais leveza no convívio, especialmente dentro dos nossos lares”. 


Larissa Figueiredo aprendeu a  abrir mão do perfeccionismo e da autocobrança nesses tempos difíceis


Por outro lado, a loucura do dia-a-dia para algumas mulheres, com a pandemia, foi freada drasticamente. É o caso da médica nutróloga, Danielle C. Mendes. A pandemia auxiliou a diminuir seu ritmo de vida e dar uma atenção maior à casa, filhos e marido. Embora sempre tenha feito questão de preparar lanche da escola, ajudar nas tarefas das crianças, cozinhar, com a pandemia ela conseguiu desacelerar ainda mais, e passou a cuidar mais dela e da família. “Não via mais sentido naquela vida corrida. Foi aí, que comecei a me cobrar menos e tive a oportunidade de reduzir minha carga horária de trabalho fora de casa. Sempre falo: - não precisamos ser mulheres maravilhas para sermos boas profissionais, boas esposas e boas mães. O que importa é viver o momento intensamente. Seja no trabalho ou em casa, mas cuidar da saúde mental, achar uma maneira de descansar, de divertir, procurar o autocuidado faz toda diferença para dar conta do recado”. 


Danielle Mendes diminuiu seu ritmo de vida para dar mais atenção à casa e a família


Foto Daniela Mendes Diante deste cenário desafiador, a lição deixada por todas essas mulheres é que essa classe de frágil pouca semelhança possui e que, após tudo isso passar, possamos olhar para trás e nos orgulharmos da força e abnegação que cada mulher desempenhou brava e incansavelmente.


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